• Crescer online
Atualizado em
Lana Hallowes com Leon e Sam (Foto: Reprodução)

Lana Hallowes com Leon e Sam (Foto: Reprodução)

Lana Hallowes é uma jornalista de Sidney (Austrália) e escreve no site Babyology, sobre parentalidade. No desabafo abaixo, publicado originalmente no portal, ela vai na contramão do que as mães geralmente relatam depois de terem filhos. No lugar de sentir que sua identidade havia sido roubada pela intensa tarefa de ser mãe, ela conta que acabou encontrando na maternidade a própria voz - e também seu propósito de vida. Leia a seguir.

+ Mãe australiana deixa emprego em banco para vender cookies de amamentação

"Estou ciente de que, para muitas mulheres, a maternidade lhes rouba a identidade. Elas anseiam recuperar seu antigo 'eu' e sentir como se estivessem gritando "mais do que apenas uma mãe!", ou "Eu tenho um nome diferente de 'mãe', sabia?". Entendo. A sociedade é muito ruim na maneira como aprisiona as mulheres quando elas têm filhos. Isso nos deixa de fora e nos faz sentir como se precisássemos nos afirmar e lutar contra nossos antigos círculos, locais de trabalho ou mesmo reivindicar nossos interesses pré-bebês.

Mas, pessoalmente, não senti minha identidade sufocada quando tive filhos. Na verdade, senti o oposto. Talvez eu esteja sozinha nessa, ou será que você também sente assim?

Antes de ter meus dois lindos meninos, estava um pouco perdida. Viajei o mundo, me apaixonei e desapaixonei, me meti em algumas carreiras diferentes, mas não senti ter feito muito progresso.

Também nunca fiz o tipo que tem um hobby ou que gosta de cozinhar - ou qualquer outro 'tipo'. Não sou criativa ou astuta como as pessoas que criam coisas ou presenteiam com seus trabalhos. Um presente meu é sempre de uma loja. Uma loja de arte, diga-se, mas sempre algo feito por outras pessoas talentosas, provavelmente com mais identidade do que eu.

+ Mãe solo: tirinhas sinceras, ácidas e bem-humoradas sobre maternidade real

Eu era só eu. Feliz o suficiente comigo mesma, mas não sentia como se tivesse contribuído de alguma forma para alguma coisa nem alguém. Certamente amei e fui amada por marido, família e amigos, mas não sentia que tinha um grande propósito para a minha vida.

Quando dei as boas-vindas ao meu primeiro filho, Leon, me senti um pouco como um peixe fora d'água. Demorei alguns dias para me relacionar com ele, devido ao fato de que tinha feito uma cesárea e meus hormônios pós-parto estavam um pouco descontrolados, eu acho, mas quando aconteceu… Me liguei de verdade!

Quando Leon nasceu (Foto: Reprodução)

Quando Leon nasceu (Foto: Reprodução)

Me lembro perfeitamente desse momento decisivo. Ele estava deitado ao meu lado, seu minúsculo corpo recém-nascido se aconchegou no meu quando ele mamou em mim pela primeira vez. Antes disso, tivemos problemas de apego e me senti um pouco distante. Então, como se alguém tivesse jogado um pouco de pó mágico de amamentação na gente, ele se agarrou e nos conectamos em um sentido físico pela primeira vez desde que ele esteve fora de mim.

Naquele momento, enquanto eu olhava para ele sugando e acariciando sua cabeça com aquela penugem de pêssego, fui atingida. Eu estava apaixonada. E foi um amor que eu nunca senti antes. Um amor profundo e instintivo, um amor do tipo "eu sempre vou te proteger e te amar, não importa o que aconteça". Eu me tornei algo maior do que eu.

Quando os meses se transformaram em anos, me apaixonei mais e mais pelo meu primogênito e depois por seu irmão mais novo, Sam. Como todas as mães, meus filhos são meu mundo e dão tanto significado, riso e luz a ele.

Mas, para minha surpresa, também me apaixonei pela maternidade. Quando estava grávida de Leon, achava que isso não ia acontecer. Lia as histórias - a mídia faz um esforço bem alarmante em nos fazer acreditar que a vida acaba quando temos filhos. E, sim, suponho que em certo sentido isso acontece. Não ficamos mais tão despreocupadas e certamente não é fácil fazer muitas das coisas. A maternidade também é muito difícil e alguns dias podem ser realmente péssimos. Mas eu a amo de maneira irresistível.

Nunca pensei em mim mesma como alguém maternal, mas acontece que eu sou, e então é exatamente onde eu deveria estar na vida: ser a mamãe de alguém.

É tão brega dizer isso, mas é verdade. Me sinto inteira agora. Eu sinto que minha vida tem propósito. Me sinto importante porque as pessoas pequenas que são tão importantes para mim precisam de mim. E eles precisam que eu fique por perto. É por isso que o pensamento de deixá-los sempre me assusta profundamente. Meu marido se referiu a mim como o "pulsar do coração" da nossa família em um cartão de Dia das Mães este ano, e é assim que me sinto. Meu coração bate por eles e sou eu quem nos mantém juntos. Eles são minha alegria. Eles me fazem quem eu sou agora. Finalmente me sinto confortável na minha pele.

Os filhos que 'deram à luz' Lana (Foto: Reprodução)

Os filhos que 'deram à luz' Lana (Foto: Reprodução)

Dei à luz meus bebês, mas de certo modo eles me deram à luz. Não me preocupo mais em “não ser suficiente”. Meu ego não é construído sobre as coisas que eu fiz, ou como outras pessoas me percebem. Em vez disso, me sinto orgulhosa das vidas que trouxe para o mundo e das pessoinhas que estou criando. Se eu sinto que estou fazendo um bom trabalho com eles, então isso é tudo o que realmente importa.

+ Criação com apego por Carlos González

Não me entenda mal, me empenho em ter uma carreira que amo, tempo para mim mesma, ir atrás das coisas que vão além da maternidade e ficar em sintonia com o que me faz sorrir além da minha família. Mas, pra mim, ser mãe é o item número um.

Sinto que tenho uma identidade agora e, sim, sou muitas coisas além de "mãe", mas estou confortável em me identificar com esse papel em primeiro lugar. Sinto que é o que fui colocada nesta terra para fazer.”

Você já curtiu Crescer no Facebook?