• Amanda Oliveira, do home office
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Mães na saúde (Foto: Arquivo pessoal)

Gina com o filho, Miguel, e o marido, Leandro (Foto: Arquivo pessoal)

Estar na linha de frente no combate à Covid-19 não é fácil, principalmente para as mães. Faz tempo que muitas delas não abraçam ou beijam seus filhos. O medo de levar para casa um inimigo, como o novo coronavírus, acaba afastando muitas famílias. Como principais personagens nessa "guerra", além disso, os profissionais de saúde estão enfrentando um cenário extremamente difícil no Brasil. 

Na última semana, o Comitê Gestor de Crise do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) divulgou que já são mais de 10 mil enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem afastados pela doença no país, com 90 óbitos associados à COVID-19. 

Por isso, em uma homenagem a esses profissionais, CRESCER lança o especial #MãesnaSaúde para contar história de guerreiras que estão no front, na luta diária para salvar vidas, enquanto muitas vezes cuidam dos seus filhos a distância.

Há 12 anos na área da saúde, a técnica em enfermagem e paulistana Gina Lira, 33, já está acostumada com situações difíceis. No entanto, ela não imaginava que viveria um momento tão desesperador, como atualmente. Não esperava que teria que ir para o trabalho e se despedir de seu pequeno Miguel, 5, sem poder dar um beijo e um abraço apertado.

Mesmo ficando distante, infelizmente, ela, seu filho e o marido apresentaram os sintomas do coronavírus e precisaram ficar 14 dias isolados, em uma casa improvisada, já que antes, ela morava com a sogra. "Foi um período muito difícil. Meu irmão ia levar algumas coisas para nós e deixava no portão, o esperávamos sair e então íamos pegar", diz. 

Em entrevista a CRESCER, Gina contou como sua rotina mudou, após a pandemia, e como foi ficar em quarentena com a sua família. Confira! 

Após a pandemia, minha rotina mudou completamente. Como moro com a minha sogra, eu tinha muito medo de transmitir o vírus, Assim, quando saia do plantão, tomava banho, trocava de roupa e sapato. Ao chegar em casa, já tinha um borrifador de álcool em gel e eu fazia limpeza da minha bolsa. Nós também evitávamos as áreas comuns. 

Sempre pensei que poderia transmitir o vírus, no entanto, comigo, a história foi diferente. Meu marido acabou sendo infectado, possivelmente, na fábrica que trabalha como metalúrgico. Ele teve náusea e vômito, porém os médicos, a princípio, disseram que era um resfriado comum. Mas, por segurança, ele já ficou isolado em casa, usando máscara. 

Neste tempo, meu filho também ficou doente, com a garganta inflamada e febre. Primeiro, levei o Miguel ao médico, que receitou um antibiótico e ele ficou bem. Voltamos para casa e foi a minha vez de ficar mal, senti muita dor de cabeça, náusea, vômito e diarreia. Foi então, que decidimos sair da casa da minha sogra. Fomos para a casa de um amigo e ficamos lá por 14 dias, já que meu marido também estava com os sintomas e piorava a cada dia.

Decidimos ir ao hospital. Lá, meu marido não fez o exame para detectar o coronavírus, mas pela tomografia, os médicos disseram que era um caso de Covid-19. Em sua tomografia, ele apresentava pneumonia viral, ele nunca teve pneumonia e vivia de forma saudável.

Eu tinha feito meu exame antes, quando tive a dor de cabeça, e deu negativo. No entanto, como, em seguida, comecei apresentar febre, náusea e vômito, os médicos explicaram que poderia ser um falso negativo. Minha tomografia também mostrou uma pneumonia viral. 

Foi um período bem difícil, voltamos para casa e ficamos isolados. Meu irmão ia levar as coisas para nós e deixava no portão. Nós o esperávamos sair e então íamos pegar. Além disso, dos três, meu marido foi quem ficou pior. Foram 10 dias com sintomas fortes, como dor e dificuldade respiratória. Ficávamos sempre com o oxímetro para verificar seu nível de saturação de oxigênio. Nos três primeiros dias, foi bem tenso, cheguei a pensar no pior. 

Não chegamos a ficar internados, porque o convênio não liberou a internação. Fomos para casa e tomamos o antibiótico. Hoje, já estamos recuperados e voltamos a morar com a minha sogra. Após tudo isso, estou me sentindo melhor quanto à transmissão, apesar de ainda continuar realizando todos os processos de higiene.

Como tem 5 anos, nosso filho não entendia muito a situação. Para ele, nós tínhamos um resfriado e muita dor de barriga. No entanto, ele ficou preocupado. Morre de medo de pegar coronavírus, ele não quer sair e nem mesmo brincar na garagem, com medo de pegar o vírus, ao encostar no portão.

Eu já voltei a trabalhar e estou mais em paz. Acho que antes de ter os sintomas do coronavírus, nós temos medo desse desconhecido. Não sabemos como cada organismo vai reagir. Eu percebo que quem ainda não teve a doença trabalha muito tenso. Eu já vi profissionais chorando e até eu cheguei a chorar. 

O nosso maior medo é levar para a nossa família. Quando eu percebi que meu marido estava doente, fiquei desesperada. Cheguei a questionar a minha profissão, quis largar tudo. Fiquei muito mal! Não pensava que eu poderia levar algo ruim para a minha casa. No entanto, meu marido acabou se infectando no trabalho. 

Hoje, eu me sinto aliviada e tenho muito orgulho da minha profissão. Ainda estamos assustados, mas faz parte. A partir do momento que você perde o medo, não pode mais trabalhar nessa área. O medo traz o alerta e cuidado. 

Após tudo isso, eu só queria que as pessoas respeitassem a nossa profissão. Eu saio na rua e não ando mais de branco, já que tive amigos que foram agredidos. Não passei por essa situação, mas uma vez presenciei um momento de constrangimento, em que um senhor se levantou após eu chegar. 

Quando tudo passar, quero juntar toda a minha família. Mas, para isso é preciso se cuidar. Então, cuide do próximo, não espere perder um ente querido para aprender a lavar a mão e usar a máscara. 

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