• Juliana Duarte
Atualizado em

Em qual idade é mais comum?

O incômodo geralmente se manifesta durante a fase escolar, quando a criança já carrega o peso de livros e cadernos e passa bastante tempo sentada fazendo as tarefas. Segundo estudo publicado no jornal científico American Journal of Neuroradiology, cerca de 50% das crianças terão sentido alguma dor nas costas até os 15 anos. Mas, de acordo com os especialistas entrevistados por CRESCER, o desconforto dificilmente surgirá antes dos 5, pois a musculatura ainda não sofreu desgaste. Fique de olho se o seu filho tem 2, 7 ou 14 anos, pois é quando acontecem os chamados estirões de crescimento e também é comum sentir o desconforto.

Quais são as principais causas?

Má postura ou distensão muscular e tensão causadas durante um jogo de futebol, uma brincadeira ou uma queda, por exemplo, são alguns dos principais gatilhos. Carregar excesso de peso na mochila escolar também é comum, pois causa desconforto nos músculos, nas articulações, no pescoço e nos ombros.

A longo prazo, a carga extra afeta a postura da criança, o que pode levar à escoliose (quando a coluna fica mais inclinada para um dos lados), hiperlordose (aumento da curvatura da coluna cervical e/ou lombar) ou hipercifose (a famosa corcunda, um aumento na curvatura da coluna torácica). E mais: a obesidade infantil, problema que atinge uma em três crianças no Brasil, segundo dados do IBGE, também pode provocar dores. O acúmulo de gordura na região lombar sobrecarrega a coluna e pode enfraquecer os músculos que a sustentam.

Qual é a mochila mais adequada para levar à escola?

Até 5 anos, o ideal é que a criança carregue apenas a lancheira e a mochila, com trocas de roupa, por exemplo, fique a cargo dos adultos [muitas escolas a recebem na segunda e a retornam na sexta]. A partir dessa idade, a melhor opção dependerá da rotina e do conforto do seu filho. Se a escola tem lances de escada, prefira os modelos com duas alças largas. Neste caso, escolha uma de acordo com o tamanho da criança, que tenha encosto maleável e divisórias para ajudar na distribuição do peso. Outra alternativa é a mala de rodinhas. Mas, atenção: ela pode até aliviar as costas, mas sobrecarrega um único braço, portanto, é importante alterná-los ao arrastá-la. Seja qual for a opção escolhida, o peso não deve ultrapassar 10% da massa corporal da criança – o que significa que, se ela tem 40 quilos, a mala deve pesar, no máximo, quatro. Aproveite para estimular a organização: incentive-o a se planejar e checar quais materiais serão usados em tal dia.

Qual é a melhor postura para a criança fazer as tarefas?

Ela precisa se sentar em uma cadeira confortável, sobre o osso ísquio, localizado abaixo do glúteo, e manter as costas retas, alinhadas com o encosto da cadeira. No começo será difícil manter a posição, mas seja persistente e alerte o seu filho sempre que o vir com as costas curvadas. Ao usar qualquer aparelho eletrônico, como notebook ou tablet, oriente-o a não deixá-los apoiados no colo. O ideal é que fiquem sobre um móvel, na altura dos olhos, assim ele não precisa olhar para baixo ao manuseá-los, o que poderá causar dores na região cervical. Mas, para leituras longas, que exigem mais conforto, vale trocar a cadeira por um sofá – o que não significa pôr tudo a perder! Coluna reta e pescoço apoiado no encosto continuam valendo, OK? E como ter disciplina corporal também é cansativo (pelo menos até se tornar um hábito), libere uma pausa de cinco minutos a cada 40 para o seu filho relaxar. Estimule-o a caminhar e tomar água.

Quando a dor nas costas sinaliza algo grave?

No momento em que ela passa a ser recorrente. Sempre que seu filho reclamar, pense nas atividades do dia que podem ter causado um desconforto maior na criança, como um novo exercício físico. Nesse caso, o incômodo costuma desaparecer sozinho e rapidamente. Mas, se a reclamação já se estende por mais de uma semana, é essencial procurar um ortopedista antes que a dor se torne crônica. Alerta vermelho se a criança também apresentar sintomas como febre, alteração de sensibilidade ou perda de força nos membros inferiores, pois podem indicar infecções.

A genética é um fator de risco?

Sim. Pesquisadores da Universidade de Utah (EUA) analisaram dados de mais de 1 milhão de moradores do estado que dá nome à instituição e verificaram que, quem sofria com dor nas costas, tinha, ao menos, um parente com o mesmo histórico.  Os riscos aumentavam quando esses familiares eram de segundo ou terceiro graus. Em elos diretos, como pai, mãe ou irmãos, as chances cresciam mais de quatro vezes.

Como escolher o colchão e o travesseiro?

Apesar de raras, dores causadas por má postura durante o sono podem surgir. Para escolher um bom travesseiro, faça o teste: deite a criança de lado e veja se o modelo deixa o pescoço, a cabeça e a coluna alinhados. Sim? Pode levar! Já os colchões mais indicados são os de espuma, ainda que firmes. A densidade varia de acordo com o peso e a altura da criança – até os 3 anos, por exemplo, a mais adequada é a 18 (D18). Até 50 kg, a recomendada é a D23.

Qual é o tratamento?

Ele vai depender do diagnóstico médico, o que pode variar de acordo com a causa. Em algumas situações, ele pode prescrever analgésicos ou anti-inflamatórios. O ideal, no entanto, é prevenir desde cedo. E a atividade física é a melhor maneira de reforçar a musculatura da coluna. A natação é uma das mais recomendadas para as crianças, já que tem baixo impacto devido à ação da água e ajuda no equilíbrio e sustentação. Outra opção é o pilates, pois alonga e fortalece os músculos. Lembre-se também de sempre orientar o seu filho quanto à postura. Caiu algo no chão? Ensine-o, por exemplo, a agachar, e não dobrar a coluna (e você deve fazer o mesmo, claro!). Outra medida importante é deixar um ou dois dias livres na semana da criança para que ela descanse sua musculatura, sem atividades que exijam uma mesma posição por muito tempo.

Fontes: Nelson Astur Neto, ortopedista e cirurgião de coluna e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SP) e Alexandre Fogaça Cristante, ortopedista do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (SP).

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