• Elisa Feres e Marcela Bourroul
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musica (Foto: Shutterstock)

Diversos estudos já comprovaram: para que a criança tenha um bom desenvolvimento, é preciso que seja devidamente estimulada ainda nos primeiros anos de vida. E uma maneira eficiente (e divertida) de fazer isso é colocando-a em contato com a música desde cedo. “A música trabalha múltiplas habilidades, estimula a parte motora, a audição, o raciocínio, as noções de proporção e ritmo, as emoções, a sensibilidade. Ela faz com que várias áreas do cérebro funcionem simultaneamente”, explica o neuropediatra Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Segundo ele, não existe idade mínima para esse contato acontecer. Na verdade, quanto mais cedo o trabalho for feito, melhor. Isso porque certas conexões neurais, relacionadas não só a habilidades motoras, mas à linguagem e aos sentidos, só podem ser construídas nos chamados “períodos sensíveis” do cérebro. A exposição precoce aos estímulos, então, permitirá que a criança desenvolva habilidades que desenvolveria com mais dificuldade no futuro.

Adriana Mendes, professora do departamento de música do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conta como isso acontece na prática. “Hoje existem aulas de musicalização até para bebês, que geralmente ocorrem a partir dos 8 meses com a presença dos pais. São momentos aconchegantes em que eles aprendem canções, movimentam-se, brincam e criam juntos. E se a criança participa de aulas desse tipo desde cedo, ou se tem pais que participam de atividades musicais, certamente ela terá mais familiaridade e facilidade em aprender um instrumento depois”, diz.

Respeite o tempo da criança

Apesar de reconhecer esses benefícios, a educadora musical Teca Alencar de Brito, professora do departamento de música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), faz uma ressalva. Para ela, é possível introduzir a música no mundo de crianças de todas as idades, sim – desde que se respeite seu modo de perceber o mundo. Por exemplo, uma criança que quer aprender a tocar piano não necessariamente quer aprender a ler uma partitura. Ela pode querer apenas apertar as teclas e explorar as possibilidades daquele instrumento. Uma aula ou um professor que tente diminuir essa espontaneidade provavelmente a aborrecerá.

“Tudo depende do modo como é feito. Há crianças que começam a fazer aula muito cedo e não têm experiências boas. Ter contato com a música não significa só aprender um instrumento. O ensino precisa integrar todas as possibilidades: trabalhar a teoria, mas ao mesmo tempo incentivar a tirar música de ouvido, improvisar, inventar. Se a aula for chata, elas vão se desinteressar”, afirma.

Para que isso não aconteça, é preciso acompanhar o desenvolvimento de cada aluno e introduzir o treino mais formal apenas quando eles estiverem mais maduros. A idade ideal para isso varia de caso para caso, mas, no geral, especialistas recomendam que a criança comece a ser apresentada a uma aprendizagem mais sistematizada da leitura musical a partir dos 7 anos. Antes disso, vale deixá-la explorar possibilidades de sonorização, fazer música em grupo e conhecer os instrumentos.

Dê liberdade de escolha


Essa dica é fundamental. O tipo de instrumento não importa; ele pode tentar aprender piano, violão, bateria ou qualquer outro. O repertório também varia, pode ser erudito ou popular. De qualquer forma, não deixe de levar em conta a vontade do seu filho. Se você pretendia vê-lo tocando música clássica, mas ele insiste na percussão, respeite! O piano erudito exige um intenso treinamento técnico, mas a bateria, por outro lado, desenvolve bastante a coordenação motora e o senso rítimico. Todo aprendizado pode trazer benefícios, cada um de uma maneira diferente. Se a criança for forçada a estudar o que não quer, ela vai se entediar. E não há motivo para acabar com toda a diversão que a música pode – e deve – proporcionar!