• Paula Perim
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gravida_meditando_20anos_selo_526x384 (Foto: Reprodução)
















O aviso vem logo na primeira consulta do pré-natal: “Cuidado com o peso, porque se você engordar demais, tudo fica mais difícil: a gravidez, o parto e a recuperação do corpo”, costumam dizer os médicos. É uma recomendação que nenhuma gestante deixa de ouvir, mesmo aquelas que engravidam com o peso adequado. Mas para as outras – as que já começaram a briga com a balança antes de engravidar – ela assume uma importância ainda maior.

A grávida que chega ao consultório pesando mais do que seria desejado para sua altura e a constituição física terá, em primeiro lugar, de enfrentar o desafio de engordar o mínimo necessário para suprir suas necessidades calóricas e fornecer os nutrientes de que o bebê precisa para se desenvolver. Estará, ainda, mais propensa a sentir o impacto dos desconfortos típicos da gestação, poderá enfrentar problemas na hora do parto e na sua recuperação e, conforme o caso, colocar em risco a saúde do filho. Confira o que pode acontecer.

Complicações


Mais tudo. Calor, edemas, dores lombares, cansaço, problemas típicos de qualquer gravidez, se acentuam por causa do excesso de peso. Além disso, estrias e celulites aparecem com mais frequência nas gordinhas devido ao acúmulo de gorduras nos tecidos. E a perda dos quilos adquiridos na gravidez fica mais difícil, já que, durante a gestação, o organismo tende a multiplicar as células de gordura.

Diabete gestacional. Tipo de diabete específico da gravidez, que acomete especialmente mulheres obesas ou que tenham tendência familiar. A diabete gestacional traz consequências para o bebê, que tende a nascer muito grande – até mais de 4,5 quilos –, o que dificulta o parto. Além disso, a criança vai precisar ser monitorada ao nascer, pois corre o risco de sofrer queda brusca de taxa de açúcar no sangue. Essa alteração, chamada hipoglicemia, provoca tremores, vômitos e dificuldade para sugar o bico do seio, mas o tratamento para revertê-la é simples. Basta aplicar soro glicosado nas primeiras 48 horas depois do nascimento, para normalizar a taxa de açúcar.

Pré-eclâmpsia. Também chamada de toxemia gravídica, é uma doença gestacional caracterizada pelo aumento da pressão arterial (acima de 14 x 9), edemas (inchaços) nas pernas, mãos, braços e rosto e presença de proteína na urina (proteinúria). Mulheres com excesso de peso, que engravidam pela primeira vez, têm mais tendência ao problema, pois a obesidade pode levar à hipertensão, que, por sua vez, favorece a instalação de pré-eclâmpsia. A doença surge, em geral, na segunda metade da gravidez, e pode evoluir para uma crise convulsiva – a eclampsia. Se não for controlada, chega a colocar em risco a vida do gestante e do bebê. Embora não seja possível evitar a pré-eclâmpsia. Se não for controlada, chega a colocar em risco a vida da gestante e do bebê. Embora não seja possível evitar a pré-eclâmpsia, o médico tem como impedir a evolução da doença durante o pré-natal. E ao acompanhar de perto o desenvolvimento do feto, pode, ainda, decidir por um parto prematuro de cesárea, para livrar o bebê de maiores complicações.

Dificuldade respiratória. O excesso de tecido adiposo no organismo aumenta o consumo de oxigênio, o que é perigoso no caso das mulheres com tendência a problemas cardíacos, pois eles podem aflorar e se agravar com a gestação.

Maior probabilidade de parto cesárea


Como as gestantes obesas costumam gerar crianças grandes e têm dificuldade em fazer força para expulsar o bebê durante o trabalho de parto, acabam sendo encaminhadas para cesárea. Depois, no pós-parto, ficam sujeitas a contrair uma infecção no local da cirurgia porque a gordura forma dobras na barriga, que impedem a ventilação e a cicatrização do corte. Mesmo que as que têm parto normal não escapam de uma cicatrização mais lenta de episiotomia – o corte no períneo que facilita a passagem do bebê.

Preparando-se para o bebê


Portanto, se você pretende ficar grávida em breve e está com alguns quilinhos acima do seu peso, avalie com seu médico a necessidade de emagrecer antes de encomendar o bebê. Os nutricionistas consideram que um emagrecimento saudável, sem grandes sofrimentos ou prejuízos para o organismo, deve eliminar de 3 a 4 quilos por mês. Se a mulher está com 20 quilos a mais, por exemplo, irá precisar esperar entre 5 e 7 meses para pensar numa gravidez.

Essa é a atitude mais sensata. Infelizmente, muitas só despertam para os problemas ligados ao excesso de peso e aos maus hábitos alimentares quando o bebê já está a caminho. “É comum, logo no início da gestação, elas se mostrarem preocupadas com os quilos a mais, depois de terem passado anos convivendo com eles”, relata a nutricionista Rita Maria Monteiro Goulart, professora da Universidade Anhembi-Morumbi, se São Paulo.

Dieta e gestação


Já que a gravidez chama atenção para a obesidade, esse é um ótimo momento para começar a combatê-lo por meio de um programa de reeducação alimentar, que não é sinônimo de privação alimentar, que não é sinônimo de privação alimentar. Porque não se trata de fechar a boca, mas sim de comer alimentos certos, nas quantidades e horários adequados, e sem a “ajuda” de remédios para inibir o apetite. A dieta durante a gestação não terá por objetivo fazer a futura mamãe emagrecer, mas ganhar o mínimo possível de peso – só o suficiente para assegurar uma boa nutrição para si própria e para o bebê.
Não é o caso, portanto, de optar por uma dieta de baixíssimas calorias. Na falta de glicose – combustível básico do corpo humano –, o organismo começa a utilizar reserva de gordura acumulada para produzir a energia de que necessita. Nesse processo, produz substâncias que chegam até o útero através da corrente sanguínea e podem ser tóxicas para o feto.

Comer para dois e não por dois



A futura mamãe precisa acrescentar apenas 300 calorias à sua quota diária de consumo, a partir do segundo trimestre da gravidez – o que equivale a 3 copos de 200ml de leite desnatado ou um potinho e meio de iogurte com mel ou ainda 3 fatias de pão integral. Essa é a orientação do Ministério da Saúde. Mas a quantidade de calorias ingeridas não deve ser a única preocupação da gestante. A qualidade da sua alimentação é fundamental para garantir ao bebê um desenvolvimento adequado. Isso significa, a grosso modo, dar preferência aos alimentos in natura, montar pratos coloridos, já que eles possuem, comer várias vezes ao dia em pequenas quantidades, beber bastante água começar as refeições com as saladas, o que sacia a fome antes de chegar aos pratos mais calóricos.

Outra boa dica é montar cardápios balanceados, que garantem a variedade e as quantidades adequadas de nutrientes. E, no caso do médico recomendar algum suplemento vitamínico, não deixar de tomar. Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, vitaminas não engordam e sua carência pode ser prejudicial ao bebê.

Movimente-se



Durante a gravidez, exercícios físicos também são ótimos aliados no combate aos quilinhos extras. Eles queimam gordura, aumentam a massa muscular – o que ajuda a gestante a suportar o peso da barriga – e aliviam as dores lombares. De quebra, contribuem para relaxar, diminuem a ansiedade e trabalham a consciência corporal, que favorece o equilíbrio e a postura, bastante alterados nessa fase.

Os médicos costumam recomendar à gestante que comece a se exercitar só após a 12ª semana de gestação, quando o óvulo já está bem fixado no endométrio e dê uma parada de 40 dias após o parto, para depois retomá-los sem risco. Os exercícios na água (natação ou hidroginástica) são os mais recomendados para as gestantes obesas. Eles diminuem o impacto dos movimentos na coluna, combatem inchaços, abaixam a pressão, ativam a circulação. Alongamento, ioga, dança e caminhadas também são indicados.

Para usufruir dos benefícios da atividade física, o ideal é dedicar-se a ele três vezes por semana. A duração das sessões, entretanto, vai depender do condicionamento físico da futura mamãe. Importante lembrar: nunca fazer exercícios sem consultar antes o seu médico e sem supervisão de profissionais especializados.

Entrevistados: Marco Antônio Borges Lopes, professor do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP; Walmir Coutinho, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e diretor científico do site emagrecimento.com; Simão Lottenberg, endocrinologista do Hospital Israelita Albert Einstein e professor assistente de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP; Rita Maria Monteiro Goulart, nutricionista e mestre em Saúde Pública pela USP; Lara Natacci Cunha, nutricionista, autora do livro Diet Book Gestante, Editora Mandarim; Cláudia Melem, coordenadora técnica da Unidade de Hidroginástica do Hospital e Maternidade Santa Joana