• Denise Fraga
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Em atividade da escola, crianças dos Estados Unidos reclamaram que os pais passam tempo demais em frente à tela do celular (Foto: Thinkstock)

(Foto: Thinkstock)

Quem poderia imaginar que, em meio a toda tecnologia e todo nosso novo arsenal de comunicação, nossos pequenos e pequenas ainda estariam com medo da Loira do Banheiro? O recente terror espalhado na internet pela figura de uma boneca nefasta é de uma crueldade sem fim, porque ainda somos os mesmos e a sofisticação da informação mudou. Tal conjugação tem nos rendido uma permanente sensação de insegurança em um mundo bem esquisito. Tomamos um olé da tecnologia que, apesar de todas as vantagens que oferece, vertiginosamente ganhou asas nas mãos de quem quer nos manipular, ganhar dinheiro e poder.

É fácil perceber. Se estamos pensando em viajar de férias para o Nordeste, logo recebemos em nossos e-mails e redes sociais uma chuva de promoções nos hotéis da região, sem que saibamos exatamente como “leram nosso pensamento”. Não é novidade. Uma simples mensagem no WhatsApp já pode detonar tudo. São assustadoras as manifestações, cada vez mais claras, das inteligências artificiais por trás dos aplicativos, e é bom não nos iludirmos. Quando seu stream favorito lhe faz o “favor” de fornecer uma lista de “acho que você também vai gostar disso”, o que eles pretendem mesmo é que você vá se tornando um perfil mais fácil de classificar e, portanto, de manipular. Simples assim. Se não tomar cuidado, seu cartão de crédito vira uma bola de neve, e você pode até votar em quem não queria. A propaganda na internet é vil, porque vem disfarçada de informação.

Não quero ser alarmista, mas precisamos redobrar a atenção com os nossos pequenos. Como se não bastasse impingirem o que querem que eles consumam e pensem, temos agora um doente da crueldade tentando tocar o terror com a tal da boneca. Vemos mães e pais desesperados, sem saber como lidar com algo tão novo e assustador. Porque ninguém conseguia produzir a imagem da Loira do Banheiro. Na escola, ela ficava na nossa imaginação. Um ou outro dizia ter visto, mas ninguém vinha mostrar o print da tela. A boneca vem com imagem e som, e passa a existir na virtualidade, que é cada vez mais a realidade para os nossos pequenos. Admirável e aterrorizante mundo novo. Como não sucumbir?

Fiquei pensando que toda essa história pode acabar rendendo cenas boas. Pais finalmente olhando o que seus filhos andam vendo. Falando com eles sobre escolhas saudáveis na internet. Desligando seus celulares e lendo livros para seus pequenos. Livros com imagens certas nas páginas certas. Pais falando com seus filhos sobre coragem. Porque há que ter coragem. Viver não é bolinho, bem sabemos. Mas ainda há tanta beleza a ser cultivada! Cultivar. Boa palavra. Coisa que não se faz num só dia, que exige ter fé num dia após o outro, na continuidade, na paciência, na forte realidade que é capaz de construir o grão em grão. Somos mais que uma boneca aterrorizante inventada por um solitário qualquer. Arregacemos nossas mangas e sigamos corajosos.

Denise fraga é atriz, casada com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 20 anos, e Pedro, 18. (Foto: Caue Moreno / Editora Globo)

Denise fraga é atriz, casada com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 20 anos, e Pedro, 18. (Foto: Caue Moreno / Editora Globo)

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