• Chris Nicklas
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aos poucos a amamentação tende a ir entrando nos eixos. Se a criança está saudável, não há motivos para preocupações (Foto: ThinkStock)

Aos poucos a amamentação tende a ir entrando nos eixos. Se a criança está saudável, não há motivos para preocupações (Foto: ThinkStock)

- Amamentar é um horror! Como alguém pode gostar?! Pra mim é só dor e cansaço! Não vejo a hora de isso acabar!!!!

Foi assim que começou a nossa troca de mensagens.

Me identifiquei imediatamente...

Entendi que era ali, naquele espaço no qual ela via tantas mulheres festejando e se realizando através da amamentação, que ela despejaria toda a sua frustração e raiva.

Não tive dúvida e de cara respondi que a compreendia 100% e que minha experiência com o aleitamento materno também tinha sido muito confusa e cheia de sentimentos ambíguos e contraditórios.

Maior satisfação para mim saber que uma mãe tinha sentido liberdade para falar sinceramente o que se passava com ela. Lhe expliquei que para isso serviam as reticências do nome do projeto “Amamentar é...”, cada uma poderia completar a frase da forma que lhe fosse conveniente. Para algumas mães a amamentação é uma vivência suave e para outras uma fase de muitas dificuldades e angústias. Todas são bem vindas!

Acho que ela não esperava por isso.

Silenciou por um tempo e quando retornou começou a falar de sua tristeza e solidão.

Não era uma boa mãe, afinal não conseguiria amamentar seu bebê por muito tempo como sempre desejara e sabia, de tanto ler sobre o assunto, que isso traria consequências para o seu filho.

Era claro e evidente o quanto os ditames do aleitamento materno estavam tendo nela o efeito contrário e ao invés de encorajá-la destruíam nela o que restava de segurança e tranquilidade para viabilizar, dentro de suas possibilidades, a amamentação de seu bebê.

Lhe perguntei o que se passava e me ofereci para, através de nossa conversa e a assistência dos posts do “Amamentar é...”, tentar sanar suas dúvidas e aflições.

Seu depoimento era um clássico: feridas nos mamilos, muita dor, a assombrosa sensação o tempo todo de que seu leite não era suficiente e não sustentava o bebê e, por fim, o mais trágico, a pressão da família para que parasse de insistir e desse logo o complemento acabando de uma vez por todas com aquela “obsessão” pelo aleitamento materno.

Em nenhum momento surgia alguma figura que lhe acolhesse o sofrimento ou ao menos a escutasse e ajudasse.

À medida que conversávamos, ali naquele ambiente virtual, fomos nos aproximando e o fato de que em nenhum momento eu menosprezei ou subestimei a importância do que me contava, e mesmo seus sentimentos, foi fazendo com que sua solidão diminuísse e ela conseguisse pensar com mais calma sobre o que poderia fazer em relação a algumas das questões que a deixavam tão insegura quando segurava seu bebê nos braços.

Percebeu que estava fazendo o seu possível e que este era mais do que suficiente para o seu bebê. Afinal, não é assim? Não somos filhos dos nossos pais? Crias de seus acertos e erros? De suas capacidades e incapacidades?

Refletir sobre a maternidade e deixar de lado o ideal dos livros, blogs, sites e revistas foi abrindo um espaço para que ela pudesse se ver; enxergar seus potenciais e ser menos dura em seu autojulgamento.

Nos dias que se seguiram experimentou algumas das dicas que lhe passei através dos posts, foi a um banco de leite procurar ajuda profissional, colocou limites em alguns familiares mais autoritários e, mais importante que tudo: observou cuidadosamente seu bebê, como nunca havia feito, tal era o estado de tensão. Começou a perceber todas as nuances de seu comportamento: os tipos de choro, a forma como se acalmava na sua presença, só por ouvir sua voz. A relação entre os dois começou a ser construída, sem pressa, sem protocolos e regras, só os dois ali, se olhando e escutando.

Não sei por quanto tempo ela amamentou, ou se complementou... Não me importa, pois o principal aconteceu, ela silenciou a confusão à sua volta para escutar a si mesma e ao seu bebê.

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site Amamentar é…, estudante de Psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina de 15 anos. (Foto: Edu Rodrigues)