• Thais Vilarinho
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Mãe segurando bebê e olhando pra janela (Foto: Getty Images)

Mãe segurando bebê e olhando pra janela (Foto: Getty Images)

Cá estou eu, como provavelmente está você aí. Mais perdida do que cega em tiroteio. Nem sei mais meu nome, juro. Perdidinha da Silva seria um bom nome para mim neste momento.
Estou aqui, com crianças, dentro de casa, sem poder sair e sem nenhuma previsão de quando as coisas vão voltar ao normal.

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Cá estou, preocupada com os idosos, com os profissionais de saúde. Estou com o coração esmagado, pensando nas pessoas que perdem entes queridos, e apreensiva com os números.

Eu, que já passei por mil e uma fases nessa quarentena. Já fui mega-produtiva, muito informada sobre o que está acontecendo. Ja fui a louca da rotina e já joguei tudo para o alto também. Já trabalhei muito, já estive animada com as séries a que eu queria assistir e com os livros que gostaria de ler. Hoje, depois de tantos meses, meu status é: vejo somente o essencial das notícias e perdi total o ânimo até para coisas que adorava.

Estou aqui, sentindo uma falta danada do sol, da natureza, de ver gente, de abraçar as pessoas que amo.

Eu, que além de trabalhar e cuidar da casa, ainda estou exercendo uma profissão para a qual nunca estudei: educadora. No início foi ok, novidade né? Mas agora já deu. Um salve e um viva para todos os professores.

Estou bem aqui, com o saco na lua de pedir mil vezes para eles lavarem as mãos, tirarem a mão da boca, dos olhos e colocarem a m... da roupa suja no cesto (não pode ser pedir muito, vai?). Eu, perdendo a paciência com os dois, quando não são prestativos, e tendo de apartar mais brigas do que de costume. Eu, fazendo uma força danada para dar tempo de me abraçar bem apertadinho, em meio ao caos, e empenhada em não me cobrar absolutamente nada. Afinal, não sou masoquista. Preciso me concentrar em viver um dia de cada vez e me importar comigo. Sou a saúde mental da casa.

Estou aqui, como provavelmente está você aí, sem a mínima ideia de como e quando cruzarei a linha de chegada da quarentena. Achando que surtarei no próximo segundo, mas sentindo, hora ou outra, que tem, sim, um lado positivo no meio disso tudo (não me matem!). Tem de ter. Precisamos nos prender a isso, não é mesmo? Senão a gente afunda.

Tem gargalhadas e palhaçadas dos dois que não existiriam sem esse confinamento. Tem o exercício mais do que forçado da tal da paciência. Tem o cuidado dos amigos. A preocupação dos familiares. Tem união profunda de quem se ama, mesmo que esteja a milhas de distância. Tem a possibiidade singular e didática de mostrar para os nossos filhos que ninguém vai a lugar nenhum sozinho, e que o amor ao próximo é a única salvação.

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Mãe, nota importante: se for sair, use máscara e lave sempre as mãos. Em vias de surtar, se tranque no banheiro. Respire, inspire umas 50 vezes. Ria de coisas bobas. Mande à merda, mentalmente, as centenas de links de atividades educativas. Recomendo, é libertador. Não seja tão linha-dura no que diz respeito ao ensino à distância, as escolas vão cuidar disso depois. Escolha sempre a paz. Pense positivo. E, por último, e o mais importante: não se cobre. Foque apenas em sobreviver. Afinal, não é isso que humanos fazem em pandemias?

Ah, já ia quase esquecendo: fuck... ing, coronavírus.

Thais Vilarinho (Foto: Arquivo pessoal)

Thais Vilarinho (Foto: Arquivo pessoal)

THAÍS VILARINHO É FONOAUDIÓLOGA E ESCRITORA. É MÃE DO MATHEUS, 11, E DO THOMÁS, 9. AUTORA DOS LIVROS MÃE FORA DA CAIXA, MÃE RECÉM-NASCIDA E DO INFANTIL DEIXA EU TE CONTAR...

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