• Elisama Santos
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Diariamente, recebo mensagens de pais, mães e cuidadores que me perguntam, angustiados, como podem lidar com os comportamentos desafiadores dos filhos. Lembro de uma vez em que uma mãe me contava o quanto a filha ficava nervosa, gritava e berrava quando contrariada, e ela já não sabia como orientar a menina nesses momentos de caos. Ela me contou que já havia tentado de tudo: almofadas para bater, exercícios de respiração, cadernos de desenho, mas nada adiantava, a menina continuava explodindo e negando os recursos que oferecia. Perguntei como ela mesma agia nos momentos de raiva. A mãe ficou surpresa e perguntou: “Eu? Como assim?”. “É, você, como age quando está com raiva?” Ela não sabia responder.

Precisamos falar sobre racismo, siim (Foto: Foto de cottonbro no Pexels)

 (Foto: Foto de cottonbro/Pexels)


É interessante como acreditamos que apenas os outros erram, que somente o comportamento do outro precisa ser ajustado, mudado, transformado. Nós? Nós, não, nós somos alecrins dourados que nasceram no campo sem ser semeados. O mundo seria melhor, quase perfeito, se todos fossem sensatos, conscientes, educados e respeitosos como nós.
 

"Seu silêncio de palavras e atitudes é violento”"

Elisama Santos

Vivemos em um país racista, mas ninguém assume os seus próprios racismos. O inferno são os outros, claro. Queremos mostrar o quanto somos engajados e conscientes, mas não nos damos conta de que precisamos ser parte ativa da mudança, que, mais que ensinar, precisamos aprender. Queremos ensinar nossos filhos a lidarem de maneira saudável com a raiva, enquanto gritamos, ameaçamos, explodimos ou implodimos quando somos contrariados. Queremos que sejam empáticos, escutem o outro e entendam a importância do diálogo, enquanto nos fechamos em nossos mundos e não nos permitimos ouvir em silêncio, sem defender as nossas boas intenções a cada minuto. Queremos educar filhos antirracistas, enquanto seguimos sendo atendidos apenas por profissionais brancos, convivemos apenas com amigos brancos e enchemos a nossa vida de referências brancas. Queremos mostrar o nosso engajamento social com discursos, não com atitudes.

+ Como abordar assuntos como racismo e diversidade com as crianças

A realidade é que não há resposta simples, fácil e gostosinha para a pergunta “como educo uma criança de forma antirracista?”. Branco que quer educar crianças com consciência racial vai sentir dor, vergonha, incômodo (e isso não é nem um pouco parecido com quem sofre o racismo na pele, então, não, o mundo não precisa parar para cuidar do seu dodói). Vai precisar olhar para os próprios privilégios e questioná-los. Posicionar-se diante dos racismos dos amigos, parentes, colegas. Entender que o seu silêncio – de palavras e atitudes – é violento. Um conjunto de livros com personagens negros e um punhado de posts e textões na rede social não são nem um terço da sua parte na transformação do mundo. Você vai além do discurso? O que você faz com o seu racismo?

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação)

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação)

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