• Camila Antunes
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O mês de junho trouxe a luta pela diversidade e, pela primeira vez desde a fundação da Filhos no Currículo, esse tema foi pauta exclusiva de um de nossos eventos sobre parentalidade. Convidei diversas figuras parentais para compartilhar seus desafios em conciliar “filhos e carreira” dentro de um ambiente corporativo que nem sempre está preparado para acolher suas necessidades. Falamos sobre o conceito de famílias plurais e listamos as primeiras atitudes para que uma organização tenha uma postura acolhedora e não discriminatória diante do tema, passando por:

- Rodar diagnósticos e censos com a finalidade de conhecer as necessidades específicas da sua população;
- Garantir que casais homoafetivos também tenham acesso às licenças parentais;
- Assegurar que o profissional adotante possa se ausentar nos dias de visita ao abrigo durante as fases do processo de adoção;
- Promover ações para conscientizar funcionários sobre parentalidade diversa e novos modelos familiares.

Mães contam como organizam a rotina para conciliar os filhos, o trabalho e os estudos (Foto: Pexels)

A difícil tarefa de conciliar filhos e carreira (Foto: Pexels)

O papel dessas políticas e medidas afirmativas é criar o terreno fértil para que uma cultura inclusive pró-parentalidade possa se perpetuar. Não é raro ouvirmos em nossas rodadas de conversas nas empresas depoimentos de pais e mães que passaram por um processo de adoção, transição de gênero, perda gestacional, entre outros casos, que se sentem prejudicados profissionalmente após a chegada de suas crianças, relatando dificuldade em pertencer e conciliar seus papéis diante da nova realidade.

Na pesquisa “Mapeando um ambiente de trabalho pró-família nas organizações”, conduzida no último trimestre pela Filhos no Currículo com mais de 1500 pessoas, a experiência da parentalidade é mais desafiadora para quem passa por experiências como luto gestacional, parentalidade solo, gestação de risco, prematuridade entre outros fatores, sendo o retorno de licença o mais crítico dos momentos da jornada. Um em cada três profissionais relataram algum grau de insegurança nessa fase. E você? Já se perguntou o que sua empresa está fazendo por essas pessoas? Ou, se você lida com a pauta da parentalidade na organização, conhece o perfil e as necessidades de sua equipe?

"É preciso reconhecer as diferenças para cuidar delas e perceber que as pessoas são únicas, assim como as suas necessidades"

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O evento acabou e o mês passou. Volto para casa na dúvida de como perpetuar essa conversa para além de junho e uma cena rotineira me fez recordar a conversa sobre igualdade e equidade que tanto discutimos fora de casa e que acontece todos os dias dentro dos nossos lares.

Um belo dia, a minha filha Bel me disse assim, enquanto eu arrumava a lancheira da escola: "Mãe, essa divisão do lanche não tá justa!". Continuei a conversa: "O que seria justo para você filha? Dividir igualmente?".

- Eu: Bel, você gosta de uva passas?
- Ela: Não, eca.
- Eu: E você gosta quando eu faço coceguinhas em você, certo?
- Ela: Sim, adoro!
- Eu: E o João gosta de coceguinhas?
- Ela: Não!!
- Eu: Isso porque vocês são diferentes, filha! Seria justo eu dividir entre vocês 5 uvas passas para cada e fazer coceguinhas nos dois?

É preciso reconhecer as diferenças para cuidar delas e perceber que as pessoas são únicas, assim como as suas necessidades. É numa fração de segundos no caos da rotina que todos nós temos a oportunidade de aprender e de ensinar para as nossas crianças sobre o respeito às diferenças.

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E, ao cuidar desse tema no meu microcosmo chamado “família”, eu apresento um mundo mais inclusivo para meus filhos e para as próximas gerações que virão a partir deles. Começa em casa. Começa simples. E transpõe para a nossa sociedade e para as nossas relações adultas, inclusive no mercado de trabalho. 

Todos os dias, meus filhos Bel e João me convidam a crescer e a ocupar a liderança. E você? O que aprende com as suas crianças que te agrega na vida e no currículo?

Camila Antunes é mãe da Isabel e do João e uma das fundadoras da consultoria Filhos no Currículo, auxiliando empresas a se tornarem ambientes de trabalho pró-família a partir de capacitações, trilhas de conteúdos e projetos de consultoria para pais, mães e lideranças. Já ministrou mais de 300 palestras sobre temáticas associadas aos temas de parentalidade e carreira (Foto: Patrícia Canola)

Camila Antunes é mãe da Isabel e do João e uma das fundadoras da consultoria Filhos no Currículo, auxiliando empresas a se tornarem ambientes de trabalho pró-família a partir de capacitações, trilhas de conteúdos e projetos de consultoria para pais, mães e lideranças. Já ministrou mais de 300 palestras sobre temáticas associadas aos temas de parentalidade e carreira (Foto: Patrícia Canola)

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