• Adriana Toledo
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A menina Brook, hospitalizada devido à infecção por herpes (Foto: Claire Henderson/ Reprodução Facebook)

A menina Brook, hospitalizada devido à infecção por herpes (Foto: Claire Henderson/ Reprodução Facebook)

O assunto reacende uma velha discussão: a da contraindicação de se beijar os bebês na boca devido ao risco de transmissão do vírus da herpes que, especialmente nos primeiros três meses de vida, pode trazer consequências desastrosas. Essa possibilidade ganhou contornos reais quando a inglesa Claire Henderson reforçou o alerta no Facebook, acompanhado de uma foto da filha Brook, que precisou ser internada por cinco dias, com complicações da infecção.

No texto, ela chama a atenção para o fato de que mais de 85% da população mundial é portadora do vírus e que, nos bebês, ele é capaz de causar danos no fígado, no cérebro e até levar à morte. Felizmente, não foi o caso de Brook, que conseguiu se recuperar graças ao senso de urgência da mãe, ao procurar ajuda médica diante dos primeiros sintomas -- lesões semelhantes a bolhas, espalhadas pela boca, bochechas e queixo. Além desses sintomas, as crianças também podem manifestar a chamada estomatite herpética, ou seja, lesões em forma de aftas na mucosa da boca e na gengiva.

A doença

No intuito de orientar pais e mães e identificar as situações de riscos em potencial, CRESCER entrevistou a infectologista Regia Damous, do Hospital e Maternidade São Luiz (SP). Ela esclareceu que há dois tipos do vírus Herpes simplex, o responsável por desencadear a doença: o tipo 1 e o 2, sendo que o primeiro está mais associado a infecções labiais e o segundo, genitais, embora o contrário também possa ocorrer.

Segundo a médica, esses micro-organismos permanecem no corpo em estado de latência, ou seja, adormecidos e abrigados nos nervos periféricos, aguardando um momento de fragilidade imunológica para se manifestar. Em geral, a lesão sempre aparece no mesmo lugar, em forma de bolhas, que se rompem e formam crostas, provocando coceira, ardor e, em alguns casos, febre. O primeiro episódio costuma ser o mais intenso.

Cuidados no parto

De acordo com Regia, cerca de 85% dos casos de contágio no início da vida ocorrem no momento do parto, quando a criança entra em contato com a lesão, na região genital contaminada da mãe. É por isso que, quando a mulher apresenta quadros de herpes na gestação, o médico pode prescrever uma medicação classificada como supressiva, que visa diminuir a carga viral e prevenir episódios recorrentes. Nesses casos, é necessária uma avaliação cuidadosa do canal de parto, no momento de dar à luz, pois, se houver lesão ativa (e essa é a única restrição, vale reforçar), é preciso recorrer à cesárea.

Embora aconteça com pouca frequência, 5% dos bebês contraem o vírus da herpes no útero e 10%, após o parto, principalmente por meio do contato com lesões labiais dos adultos ou com a mama materna, durante a amamentação. Mas, atenção: mesmo que a lesão no seio seja identificada, o aleitamento não está proibido. Basta isolar a mama doente, caprichar na higiene das mãos e oferecer a outra, saudável. No caso de feridas nos lábios, os adultos têm de usar uma máscara. Se não for possível, evitar o contato com a criança.

O risco da herpes para as crianças

A infectologista também estima que 30% das crianças infectadas estejam em fase neonatal-- e é nelas que a enfermidade costuma ser mais agressiva, podendo acometer o sistema nervoso central. Quando isso acontece, o tratamento visa diminuir a carga viral, para que o quadro entre rapidamente em remissão, além de contornar pontualmente os danos ao cérebro, com medicamentos específicos.

Outra fase crítica na infância é a escolar, quando há maior probabilidade de contato com cuidadores infectados. E não custa reforçar que, embora as crianças maiores tenham o sistema imunológico mais maduro do que os recém-nascidos, também não estão livres das consequências mais graves. Por isso, tomar cuidado com os beijos e manter a higiene das mãos é indispensável.

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