Um Só Planeta

Por Aline Melo

Você já teve a impressão de que todo edifício recém-inaugurado se autointitula “sustentável”? Placas fotovoltaicas, sistemas de reuso de água, fachadas e telhados verdes, frequentemente, são usados como argumento pelas construtoras e incorporadoras para afirmar que a construção daquele empreendimento considerou o meio ambiente.

No entanto, apesar dessas inovações, os projetos de construção mais sustentáveis ​​não começam do zero. É a partir do reuso ou retrofit de edifícios antigos, muitas vezes desocupados, que podemos reduzir significativamente as emissões de carbono, os resíduos e a poluição.

Atualmente, o ambiente global construído contribui com cerca de 40% das emissões mundiais de carbono, um quarto deste elemento incorporado na estrutura dessas edificações. “É preciso desenvolver a tolerância ao antigo. Por que demolir tudo e fazer novo?”, questiona o arquiteto Gustavo Calazans.

O World Green Building Council estima que, entre 2020 e 2040, o número de edifícios dobrará para acomodar o crescimento populacional. Neste cenário, a demolição de construções antigas para a de outras mais modernas e “sustentáveis” levaria a um grande pico de carbono liberado.

A lógica é simples: enquanto os edifícios continuam de pé, eles incorporam todo o carbono e a energia gastos em sua construção. “Mesmo que você substitua um edifício antigo por um novo e altamente eficiente, pode levar de 50 a 80 anos para compensar o impacto do prédio”, diz Ian Zapata, líder global em transformação de edifícios e reutilização adaptativa em arquitetura firme Gensler.

A demolição acarreta em uma maior pegada de carbono para o novo edifício — Foto: Freepik / Creative Commons
A demolição acarreta em uma maior pegada de carbono para o novo edifício — Foto: Freepik / Creative Commons

Os principais materiais envolvidos na construção civil, como concreto, aço e madeira, exigem emissões de carbono para serem criados ou moldados, e posteriormente transportados. Derrubar uma estrutura existente significa desperdiçar toda a energia gasta na criação de seus materiais. Além disso, a destruição em si também requer energia e os resíduos precisarão ser descartados.

Os entulhos gerados em canteiros de obras são um dos grandes vilões do ambiente urbano, segundo a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon). Adicione isso à energia e às emissões necessárias para fabricar, transportar e montar materiais para um edifício totalmente novo e é fácil ver como usar o que já foi construído é a opção mais interessante para o meio ambiente.

Retrofit

O retrofit é uma excelente opção quando falamos na ressignificação de construções existentes. Segundo o empreiteiro Danilo Delmaschio, o retrofit carrega em seu conceito o respeito pelos aspectos e pelas identidades originais da arquitetura existente, agregando modernização e atualização ao que já há. Geralmente, elementos estruturais e a arquitetura do projeto são preservados.

“É fácil? Não. O retrofit requer conhecimento para qualquer intervenção. Engenheiros e arquitetos precisam ter conhecimento técnico e histórico, além de realizar estudos para entender como foram feitas as construções e qual a função delas hoje. Mas, sem dúvidas, é uma opção rentável para todos”, afirma Danilo.

Edifício residencial de 1960 em São Paulo passa por retrofit para virar hotel Canopy by Hilton Jardins. Projeto do escritório Marchi Arquitetura e M Magalhães Estúdio — Foto: Fran Parente / Divulgação
Edifício residencial de 1960 em São Paulo passa por retrofit para virar hotel Canopy by Hilton Jardins. Projeto do escritório Marchi Arquitetura e M Magalhães Estúdio — Foto: Fran Parente / Divulgação

Uma lei aprovada recentemente em Nova York (EUA) obriga retrofits em grandes prédios a fim de atender aos novos requisitos de eficiência energética da cidade. No Brasil, o retrofit também tem crescido, com o intuito de dar novas funções a prédios históricos. O edifício paulistano Stella, projetado por Croce, Aflalo e Gasperini em 1960, por exemplo, passou por um retrofit para se transformar no novo Hotel Canopy by Hilton Jardins.

A obra foi coordenada pelo escritório Marchi Arquitetura, responsável pela readaptação da planta, para que os pavimentos atendessem à mudança de uso. Já o projeto de interiores foi assinado pelo escritório M Magalhães Estúdio e respeita a história do prédio, destacando elementos originais, como as vigas de concreto.

“Acreditamos que repensar os usos e os espaços internos de edifícios existentes é uma forma efetiva de requalificar as regiões, respeitando a memória, preservando recursos e criando novos papéis e histórias para os edifícios através de seus interiores”, afirma Maria Magalhães.

No retrofit em galpão no litoral norte de São Paulo, o SuperLimão reaproveitou a madeira dura do telhado na estrutura da cobertura Alwitra e a restante para fazer bancos da área de lazer — Foto: Maíra Acayaba / Divulgação
No retrofit em galpão no litoral norte de São Paulo, o SuperLimão reaproveitou a madeira dura do telhado na estrutura da cobertura Alwitra e a restante para fazer bancos da área de lazer — Foto: Maíra Acayaba / Divulgação

Se uma estrutura não pode ser completamente salva, às vezes, os materiais podem ser reutilizados. Durante o retrofit que transformou um galpão em área de lazer, no litoral norte de São Paulo, o escritório SuperLimão reusou todos os materiais. “A madeira mais dura da estrutura do telhado foi aproveitada na cobertura de Alwitra, que tem tecnologia moderna”, conta o arquiteto Lula Gouveia.

O restante da madeira virou bancos. As telhas de cerâmica foram trituradas e agregadas à massa das paredes. “Em vez de blocos, fizemos as paredes com o entulho e empregando mão de obra local, que saiu com aprendizado. Pouco foi comprado ou veio de fora. Mantivemos os pilares, economizando 20% da obra”, afirma Lula.

Um Só Planeta — Foto: Editora Globo
Um Só Planeta — Foto: Editora Globo
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