Como a reciclagem de vidro pode combater a falsificação de bebidas alcoólicas

A falsificação de bebidas alcoólicas e o descarte incorreto de vidro são problemas de saúde pública, que caminham juntos

Por Aline Melo


Garrafas vazias de uísque e vodca estão entre as mais visadas para a falsificação de bebidas Pexels / Chris F / Creative Commons

A comercialização ilegal de bebidas alcoólicas teve um crescimento expressivo no último ano. Segundo a Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas), a falsificação de bebidas alcoólicas aumentou 98% nos primeiros três meses de 2023 em comparação ao mesmo período de 2022. Além da saúde pública, os dados alertam para a importância do descarte consciente de garrafas de vidro por parte do consumidor e dos estabelecimentos comerciais.

“Atualmente, estima-se que uma em cada quatro garrafas de uísque e uma em cada cinco garrafas de vodca são falsificadas, adulteradas ou irregulares. É possível encontrar em marketplaces garrafas vazias de grandes marcas, avaliadas por mais de R$ 200, que, quando cheias, podem passar de R$ 1.000, estimulando o comércio ilegal de garrafas vazias”, enfatiza Tatiana Durelli, gerente de marketing da Owens-Illinois (O-I), fabricante de embalagens de vidro.

Antes de descartar garrafas de vidro, retire tampas, lacres e possível rótulos — Foto: Pexels / cottonbro studio / Creative Commons

Do ponto de vista da indústria, a principal forma de diminuir a falsificação é ampliar a conscientização sobre o correto descarte do vidro após o consumo. Descaracterizar a garrafa, seja eliminando tampas, rótulos, riscando, seja até mesmo quebrando ou triturando a embalagem, é algo desejável, pois inviabiliza o reuso indevido por falsificadores de bebidas.

O Programa Volte Sempre, realizado em parceria por O-I, Heineken e Grupo Seiva, prevê a instalação de 763 máquinas trituradoras de vidro em bares e restaurantes nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife até 2024.

Até o momento, foram instaladas 143 máquinas trituradoras, capazes de armazenar até 400 garrafas trituradas. A estimativa é que, no período de 5 anos, sejam coletadas 115 mil toneladas de vidro, com uma redução de 61.118 toneladas de CO² lançadas na atmosfera.

Como identificar uma bebida falsificada

Antes de consumir a bebida alcoólica, verifique se o lacre foi violado — Foto: Pexels / Ethan Hendricks / Creative Commons

Existem todos os tipos de falsificação de bebida, da mais sofisticada à mais grosseira. Para não ser enganado na hora da compra, vale ficar atento à aparência da embalagem, incluindo o contrarrótulo.

“Todas as bebidas alcoólicas comercializadas no Brasil passam pelo controle do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e possuem um número de registro. O texto do contrarrótulo precisa estar em português, pois é uma exigência da legislação brasileira para todos os itens comercializados no país”, afirma Cristiane Foja, presidente-executiva da Abrabe.

Além disso, é válido verificar se a garrafa não apresenta avarias ou danos, e se está bem vedada. “A cor do lacre e a qualidade da vedação são informações relevantes, que podem ser visualmente observadas pelo consumidor”, lembra Cristiane. Caso perceba que o lacre foi violado, desconfie, pois os processos de vedação dos produtos originais têm qualidade e são bem-feitos.

Em todo caso, a melhor forma de evitar a compra de bebidas falsificadas é priorizar a sua procedência, ou seja, buscar lojas conhecidas e com credibilidade no segmento. Outro indício importante é o preço do produto. Sempre observe o valor médio praticado no mercado, tanto em lojas físicas como online. Quando a oferta foge muito da média, vale desconfiar.

Reciclagem do vidro

O descarte correto do vidro considera a segurança de coletadores que, frequentemente, cortam-se com cacos em meio a outros resíduos sólidos — Foto: Pexels / cottonbro studio / Creative Commons

Embora a reciclagem não seja um assunto novo, o descarte correto do vidro ainda encontra obstáculos. “Podemos começar citando os desafios da coleta seletiva, já que a infraestrutura no Brasil ainda é insuficiente, especialmente, em áreas rurais e comunidades de baixa renda. Com isso, existe uma dificuldade maior na separação eficiente do vidro dos demais resíduos sólidos”, afirma Neiva Nicaretta, diretora da Modelo Vidros, indústria de beneficiamento de vidros.

Outro empecilho à reciclagem do vidro é a falta de incentivo econômico. “Atualmente, o vidro não é um dos materiais mais rentáveis na reciclagem quando comparado, por exemplo, a uma lata de alumínio, um material altamente valorizado no mercado de reciclagem, embora ambos sejam importantes para uma economia circular”, completa Neiva.

A O-I, em parceria com a Coletando, acaba de instalar um ponto de coleta pago próximo de sua fábrica em Ermelino Matarazzo, São Paulo. Lá, a população da região descarta as embalagens de vidro pós-consumo limpas e separadas por tipo, e a Coletando paga pelo material conforme o peso entregue e informações disponíveis no portal da startup.

Vale lembrar que o descarte correto e seguro do vidro pressupõe que ele seja separado do restante dos materiais sólidos, incluindo outros recicláveis. Antes de descartá-lo em contêineres específicos para reciclagem de vidro, lembre-se de remover tampas, lacres e, sempre que possível, rótulos.

“Precisamos garantir que existam sistemas eficientes de coleta para esse tipo de resíduo, seja em locais públicos, condomínios, empresas, seja em residências. Quanto mais conveniente for para as pessoas descartarem seu vidro de forma adequada, é provável ser feito”, conclui.

Um Só Planeta — Foto: Editora Globo
Mais recente Próxima Eco brutalismo: a tendência que busca atualizar as construções de concreto

Leia mais