A simplicidade é o mote das criações do estudiobola; confira entrevista!

Mais do que peças icônicas, a marca paulistana busca criar um estilo de vida em que o atemporal anda lado a lado com a autenticidade

Por Ana Sachs


Flavio Borsato e Mauricio Lamosa, arquitetos e sócios-fundadores do estudiobola Gui Gomes / Editora Globo

Engana-se quem pensa que o nome do estudiobola tem a ver com a esfera redonda usada na prática de esportes. Na verdade, ele é a junção da primeira sílaba dos sobrenomes de seus criadores, Flavio Borsato e Mauricio Lamosa, que, sem querer, acabou dando origem a uma palavra com um toque despojado, assim como os desenhos da dupla.

Amigos desde o cursinho pré-vestibular, eles fundaram a marca inicialmente como um estúdio de criação para outras empresas. Com a demanda cada vez maior por peças próprias, lançaram o selo oficial pouco tempo depois. “Percebemos que existia pouco design autoral no mercado brasileiro. O varejo de mobiliário de alto padrão era preenchido pelos móveis clássicos europeus e suas cópias”, fala Mauricio.

“Sempre pensamos no produto de maneira mais ampla. O nosso trabalho é bastante aberto, e a pluralidade de matérias-primas e de processos de fabricação nos colocou adiante”, comenta Mauricio.

Vindo de uma família de moveleiros, Flavio levou sua experiência fabril e de varejo para o estudiobola, que, junto aos conhecimentos gráficos de seu sócio, criou o mix que tornou a marca uma das mais importantes do setor de design nacional.

Flavio Borsato (em pé) com o sócio Mauricio Lamosa, sentado na poltrona "Lála", de 2022, uma criação da dupla no estudiobola — Foto: Gui Gomes / Editora Globo

Atualmente, 20 anos depois, a dupla de arquitetos coleciona extensa carreira no desenvolvimento de peças icônicas, como a famosa poltrona Shell, e se prepara para expandir sua atuação internacional.

Com estratégia de aproximação do cliente final, o estúdio mantém showrooms em lojas espalhadas por todo o Brasil, além de três unidades próprias em São Paulo: uma flagship na Lapa, uma loja no shopping Cidade Jardim e outra na Alameda Gabriel Monteiro da Silva.

Como avaliam a evolução do estúdio desde a fundação, no ano 2000?
MAURICIO LAMOSA: Não penso na marca pelas peças, que são um fim, mas, sim, pela trajetória fabril. O desenho industrial é um mergulho profundo no cotidiano das fábricas e sua produção. Tínhamos de, literalmente, morar em diversas cidades do Brasil para entender o fluxo dos parceiros e entregar soluções de design que gerassem faturamento e resultados. Nunca temos a solução completa para tudo, mas, junto a esses parceiros, fomos longe, pouco a pouco. Hoje, o trabalho consiste em estratégias empresariais de distribuição e expansão de marca e criação de uma estética que envolva o desenho, o ponto de venda e a comunicação. Evoluímos da criação de peças em direção à construção de um conceito estético e estilo de vida.

O que define o estudiobola?
ML: Somos uma marca informal dentro do segmento de alto padrão. Despretensiosos e transparentes. Pouco brilho e bastante conforto. Atingimos excelente padrão de acabamento e atendimento. Entregamos desenho autoral e resultados comerciais, o que é bastante difícil de conseguir.

Como puderam equilibrar autoral e comercial?
ML: Deixamos o nichado como uma joalheria em apenas alguns itens. Se a marca fica apenas com o comercial, perde o propósito e a relevância no longo prazo. Se escolher apenas desenhos para impactar, perde os parceiros de negócios com um jogo mais empresarial. Resumindo, é uma arte montar um mix comercial e autoral.

FLAVIO BORSATO: Trabalhar a linha tênue entre o nichado e o comercial sempre foi o nosso desafio e a parte mais complexa do nosso desenho. Ser autoral, mas sem ser uma obra de arte, inatingível. Não queremos que o cliente se apaixone pelo produto, mas pela marca, pelo mood e estilo de vida que propomos em tudo. Para isso, oferecemos uma experiência completa, do tapete ao mobiliário.

Ícones da carreira do estudiobola — Foto: Divulgação | Montagem: Casa e Jardim

Para vocês, o que é um bom design?
FB: O estudiobola acredita que um bom design é atemporal. Precisa ser simples e não pode ser um produto de moda, que deva ser trocado em alguns meses ou canse em pouco tempo. Ele deve durar na casa do cliente não só pela resistência, mas também pela estética. Nós temos produtos que foram criados há 20 anos e continuam sendo comercializados.

Como é o processo criativo de vocês?
ML: Todos os projetos são extremamente discutidos internamente entre as equipes comerciais e de estilo do escritório. Fazemos reuniões de briefing e viajamos bastante também. Dessa forma, analisamos o movimento da concorrência e conversamos com as equipes do Brasil inteiro para pautar os lançamentos e deixá-los relevantes.

O que os inspira em suas criações?
ML: Os fabricantes e seus diferenciais fabris nos inspiram a criar novos negócios para eles. Sem boas fábricas não conseguimos bons acabamentos e um perfil de produto industrial, com aspecto resolvido e preço justo, apesar de alto.

A poltrona "Shell", do estudiobola, é combinada com outras peças de design: a "Bengala Erlanger" de Sergio Rodrigues e o banco "Belmonte", de Zanine Caldas. Projeto do escritório Studio Guilherme Garcia — Foto: Fábio Severo / Divulgação

Qual é a peça mais emblemática do estúdio?
FB: A Shell, a primeira poltrona que fizemos, pela complexidade e atemporalidade que ela tem. Ela foi feita há quase duas décadas e continua atual pela dedicação que o próprio artesão teve em desenvolvê-la junto conosco. É uma peça muito importante para o estudiobola.

Qual é a importância dos showrooms exclusivos?
ML: Só conseguimos bons parceiros fabris com uma distribuição consistente. As franquias ajudam na distribuição e na divulgação das linhas, porém, a responsabilidade aumenta, pois o mix de produtos deve suprir todas as demandas do parceiro comercial, que não tem opções de outras marcas para cobrir na loja. Além disso, os showrooms apresentam a marca ao consumidor final de maneira muito mais clara e sem intermediários.

Balanço "Mumba", do Estúdio Franccino para a Franccino Giardini, pendurado na mangueira. Poltronas "Mexerica", do estudiobola. Projeto do escritório Jacobsen Arquitetura com paisagismo de Rodrigo Oliveira — Foto: Filippo Bamberghi / Divulgação

Como a sustentabilidade aparece no estúdio?
ML: Nós acompanhamos todas as documentações relativas às matérias-primas usadas, e nossos fornecedores são muito profissionais com os descartes fabris. Também enxergamos a durabilidade de nossos desenhos e produtos como sustentável. Um mobiliário assinado é atemporal, será utilizado por gerações. Não trabalhamos seguindo tendências que podem ficar datadas.

O que ainda desejam realizar com o estudiobola?
FB: Moro na Itália desde 2016, e estamos com o projeto de trazer a marca ao país. Teremos um showroom na cidade de Treviso, já em fase de aprovação na prefeitura. Também temos planos de expansão para os Estados Unidos. Logo, todo esse movimento internacional dará frutos.

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