No princípio, cada qual vivia no seu canto. Ela, a modelo e empresária Marina Sanvicente, num apartamento de 80 m², com a filha Luna. Ele, o publicitário Marcio Santoro, em seu loft, adequado à vida de solteiro. Mesmo depois de casados, viveram assim por certo tempo. Até que chegou o pequeno Ravi, hoje com dois anos, e, com ele, a necessidade de morar diferente. Espaçoso, próximo do clube e de familiares, o novo apartamento trouxe desafios. Dois deles: o barulho, vindo de uma grande avenida na cidade de São Paulo, e o estilo neoclássico do condomínio, formal demais para Marina e Marcio, surfistas de fim de semana, fãs de música alta, sol e praia. “Topamos morar aqui desde que pudéssemos colocar o máximo da nossa personalidade da porta para dentro”, diz a moradora. À frente desse barco, a arquiteta Bruna Riscali tomou para si não apenas a missão de ajudar na decoração, mas também a de buscar a harmonia entre os desejos de ambos os clientes. Marina gosta de cor, estampa e não se incomoda com desordem. Marcio prefere tons neutros e organização. Se, por um lado, o casal discorda nesses pontos, por outro compartilha paixões como arte urbana e fotografia – e foi esse o ponto de partida da profissional.
Velázquez, comprada na Zipper Galeria, e bufê, da
Ovo. Cadeiras Charles Eames, da Gisela, sobre
tapete de sisal com chenile, da Clatt. Vasos, da
Teo. Passadeira bordada, trazida do México, e
aparelho de chá da moradora (Foto: Victor Affaro)
Pintado de verde, o hall do elevador surpreende com grafites do artista Bruno Dias e versos da canção Tempos Modernos, clássico de Lulu Santos. As fronteiras entre as três salas – de jantar, de estar e de TV – se dão apenas pelos móveis. Fechada com janelas antirruído, a espaçosa varanda é coberta por um tapete de grama sintética. Por estar integrada à sala, ela funciona como playground não apenas das crianças mas também dos pais, que ali colocaram bateria, aparelho de som, espreguiçadeiras e plantas. Isolados da área social, os quartos surgem à medida que se percorre o extenso corredor. Para quebrar a monotonia nesse trajeto, Bruna propôs paredes azul-turquesa e, no chão, passadeiras listradas. “A escolha das cores foi uma grande negociação – não com a Bruna, mas com o meu marido”, conta Marina. Num drible preciso, a arquiteta sugeriu tons fortes sim, principalmente para a marcenaria. Daí o escritório na cor berinjela e os móveis amarelos, lilases e verdes nos quartos e banheiros das crianças. Resolvida a essência, Bruna dedicou-se a posicionar os grafites e fotografias colecionados pelo casal. Na época, a viagem que acabara de fazer a Nova York, templo da arte urbana, serviu de inspiração. De acordo com Bruna, mais do que conciliar os desejos dos moradores, o desafio desse projeto foi transformar um espaço tradicional em algo surpreendente sem reformá-lo. A moradora concorda: “O apartamento já era incrível. Quebrar tudo seria capricho”, diz. A planta do imóvel foi mantida. O astral é que mudou, para melhor. Agora só falta o mar.