Um Só Planeta COP-26

Acordo de Paris, NDCs e neutralidade de carbono: entenda os termos usados nas negociações da COP26

Debate ambiental é cheio de jargões e expressões que dificultam compreensão; glossário preparado pelo GLOBO ajuda a destrinchá-las
Fumaça sai de usina da Neurath em Grevenbroich, na Alemanha Foto: Arte O Globo / Wolfgang Rattay/Reuters/16-1-2020
Fumaça sai de usina da Neurath em Grevenbroich, na Alemanha Foto: Arte O Globo / Wolfgang Rattay/Reuters/16-1-2020

A COP26, conferência climática da ONU que começou neste domingo em Glasgow, na Escócia, é vista como um momento determinante no combate ao aquecimento global. Se os países não adotarem compromissos mais firmes para para fazer frente às mudanças do clima, o mundo ficará às margens de uma catástrofe ambiental, com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes que ameaçam ecossistemas e a Humanidade.

As negociações climáticas, contudo, são cheias de expressões e jargões que podem dificultar o entendimento do que está sendo discutido e seus impactos práticos. Por isso, o GLOBO criou um glossário com alguns dos principais termos comumente usados no debate. Veja abaixo:

Acordo de Paris

Firmado durante a COP-21, em 2015, o Acordo de Paris é um tratado internacional vinculante sobre mudanças climáticas que almeja limitar o aquecimento global a até 2ºC em comparação aos níveis pré-industriais — e, idealmente, mantê-lo inferior a 1,5ºC. Todos os países devem assumir metas voluntárias para reduzir suas emissões, compromissos que devem ser revisados e incrementados a cada cinco anos. As regras da implementação do pacto, contudo, ainda não foram finalizadas.

Aquecimento global

É o aumento da temperatura média do planeta, acelerado pela emissão de gases causadores do efeito estufa oriundos principalmente da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento.

Captura e armazenamento de carbono

É uma forma de reduzir as emissões de carbono que envolve três etapas: a captura do CO 2 na atmosfera, na chaminé de indústrias ou plantas energéticas, seu transporte e o armazenamento no subsolo. Também é conhecido pela sigla CCS, do inglês carbon capture and storage .

Clima

É o "tempo meteorológico médio", ou seja, como as variáveis meteorológicas — temperatura, vento e chuva, por exemplo —, se comportam em um determinado lugar durante um longo intervalo de tempo. De acordo com a Organização Mundial de Meteorologia, o período padrão é de 30 anos.

'Das palavras aos atos': ‘Temos que evitar o pior e nos preparar para o inevitável em relação à crise climática’, diz vice-presidente da Comissão Europeia

Combustíveis fósseis

São recursos naturais não renováveis que têm como origem a decomposição de organismos animais e vegetais ao longo de milhares de anos, como o carvão, o petróleo e o gás natural. Sua queima é a principal responsável pelo aquecimento global.

Conferência das Partes (COP)

É o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que reúne anualmente mais de 180 países. Durante o encontro de duas semanas, devem revisar as metas relacionadas ao combate às mudanças climáticas e tomar as decisões necessárias para implementar os termos acordados.

Impacto sanitário: Mudança climática ameaça esforços para erradicar doenças tropicais

Desmatamento

É a destruição da mata nativa — no caso brasileiro, geralmente para atividades agropecuárias e responsável por mais da metade das emissões nacionais. Estima-se que mais de 20% da Amazônia já foi desmatada, em ritmo que acelerou durante o governo de Jair Bolsonaro.

Dióxido de carbono (CO 2 )

É o maior responsável pelo aquecimento global. O gás é gerado em processos naturais como a respiração, mas também pela queima de combustíveis e pelo desmatamento, que aumentam seu acúmulo na atmosfera.

Compromissos: ‘Isolar o Brasil seria atitude totalmente equivocada’, diz ao GLOBO chefe de negociadores do Itamaraty na COP-26

Efeito estufa

É um fenômeno natural em que moléculas na atmosfera absorvem parte da radiação refletida pela superfície da Terra, mantendo a temperatura planetária adequada para a vida. O aumento da emissão de gases que retêm radiação, como o CO 2 , causam o aumento da temperatura planetária.

Energia renovável

É a energia produzida a partir de fontes que não se esgotam, como o Sol e o vento, ou que se renovam em velocidade compatível com a vida humana. Também é chamada de energia limpa.

Financiamento climático

Recursos destinados a reduzir as emissões de gases do efeito estufa ou neutralizá-los para fazer frente à emergência climática.

Fundo verde

O Fundo Verde do Clima é um mecanismo para que as nações ricas ajudem os países em desenvolvimento na sua transição verde e na mitigação dos impactos das mudanças climáticas. O objetivo era que, até 2020, a quantia mobilizada por fundos públicos e privados chegasse a US$ 100 bilhões anuais. Dados do ano passado ainda não estão disponíveis, mas indicadores de 2019 indicam que a meta não foi alcançada.

Hidrofluorocarboneto

Conhecidos pela sigla HFCs, são gases sintéticos usados para a refrigeração , em aparelhos como ar condicionado e geladeira. Originalmente criados para substituir substâncias que destruíam a camada de ozônio, provaram-se até mil vezes mais poluentes que o CO 2 . Há cinco anos, 119 países, entre eles o Brasil, firmaram a Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, que prevê a redução gradual do seu uso. A ratificação da medida está em debate no Congresso brasileiro .

Tendência contrária: Emissões do Brasil sobem 9,5% em ano no qual planeta cortou 7% dos gases-estufa

IPCC

É o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas , criado em 1988 no âmbito das Nações Unidas com o objetivo de avaliar a produção científica e técnica sobre as mudanças climáticas, reunindo e avaliando o conhecimento produzido sobre o assunto. É considerado a maior autoridade mundial no que diz respeito à mudança climática.

LDCs

É o grupo dos países menos desenvolvidos do planeta — Least Developed Countries, em inglês —, que têm diversos impedimentos estruturais para se desenvolver de forma sustentável. São em sua maioria nações africanas particularmente vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, seja por seu posicionamento geográfico ou pelas dificuldades econômicas para fazer frente à nova realidade.

Mercado de carbono

É um mecanismo que permite a compra de créditos de carbono por países que ainda não conseguiram atingir suas metas de redução daqueles que já cumpriram e excedem seus objetivos. Ainda não há consenso, contudo, sobre sua implementação, tópico que será motivo de debate na COP-26.

Veja também: Países ricos estão longe da meta de US$ 100 bilhões por ano para ajudar mundo em desenvolvimento a combater crise climática

Meta de aquecimento

É fundamental manter o aumento da temperatura global a 1,5ºC com relação aos "níveis pré-industriais", medidos entre 1850-1900, para que se evite um cataclismo. O período é o mais remoto com observações de temperatura em nível global antes que as atividades industriais começassem a ter impactos significativos na atmosfera.

Metano

O principal componente do gás natural é um dos principais poluentes do planeta. O hidrocarboneto tem um potencial de aquecimento da atmosfera 28 vezes maior que o do CO 2 em um período de 100 anos.

Pressão: Em conferência da ONU, mais de 100 países defendem 'ação urgente' para preservar a biodiversidade

Mitigação

São medidas tomadas para reduzir o impacto das atividades humanas no meio ambiente.

NDCs

Os países signatários do Acordo de Paris assumiram as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), as metas voluntárias para reduzirem suas emissões que devem ser incrementadas a cada cinco anos. A primeira revisão acontecerá na COP-26, que foi adiada por um ano devido à pandemia.

Neutralidade do carbono

É o saldo zero das emissões de CO 2 , algo que o mundo deve alcançar até 2050 para manter o aumento da temperatura planetária a no máximo 1,5 o C com relação aos níveis pré-industriais. Para se chegar ao saldo zero é necessário neutralizar as emissões, por exemplo com o reflorestamento.

Perdas e danos

Perdas e danos dizem respeito às consequências das mudanças climáticas acentuadas pela atividade humana. O mecanismo atual tem como enfoque a pesquisa e a ações para mobilizar apoio financeiro, mas há uma demanda crescente por compensações financeiras feita por países que pouco contribuem para as emissões, mas são amplamente impactados pela crise climática, como as ilhas da Oceania cuja existência é ameaçada pelo aumento do nível dos oceanos.

Artigo: O que eu tenho a ver com as mudanças climáticas?

Protocolo de Kyoto

O tratado internacional que antecedeu o Acordo de Paris foi a primeira iniciativa vinculante para reduzir as emissões de gases estufa segundo metas individuais. Pelo pacto, que originalmente operacionalizou o UNFCCC, 37 países industrializados e a União Europeia se comprometeram a reduzir suas emissões de gases nocivos ao clima em 5,2%, em média, até 2012, em comparação com os níveis de 1990. Ele nunca foi ratificado pelos EUA.

UNFCCC

A sigla em inglês significa a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, tratado firmado durante a Cúpula da Terra de 1992 no Rio de Janeiro, a Rio-92, e ratificado por 189 países. Funcionando como um braço da ONU, a UNFCCC organiza os esforços multilaterais para fazer frente à mudança climática, reunindo pesquisas, informações, lançando estratégias internacionais e acompanhando seu cumprimento, por exemplo.