Bem-estar
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Por — Buenos Aires

O pediatra e pesquisador argentino Fernando Polack poderia estar trabalhando em alguma universidade americana (o médico já passou pela americana John Hopkins), ou liderando investigações sobre vacinas. Ele foi, de fato, um dos principais especialistas envolvidos nos testes com a vacina da Pfizer contra a Covid-19. Mas este ano sua vida deu uma guinada de 180 graus, inspirada na filha mais nova, Julia, de 25 anos, que é autista. Há pouco menos de um mês, Polack inaugurou o restaurante Alamesa, no bairro portenho de Palermo, segundo ele o primeiro da América Latina — talvez do mundo —, no qual trabalha uma equipe de pessoas neurodiversas com diferentes graus de autismo.

O Alamesa, para o médico e dono do restaurante, busca transmitir uma mensagem de esperança aos argentinos e ao mundo. A experiência teve enorme repercussão no país. Conseguir uma reserva no restaurante pode demorar semanas e a história de Polack vai virar série numa plataforma internacional.

— Decidi dedicar minha vida a ajudar famílias que, a partir de um determinado momento, enfrentam enormes dificuldades para integrar filhos com neurodiversidade. Essas pessoas têm um olhar diferente do mundo e a sociedade sempre pensa do ponto de vista do integrador, não do integrado — explica Polack.

O Alamesa funciona com uma lógica totalmente diferente a dos restaurantes tradicionais. Tudo foi analisado e estudado por Polack com uma premissa central: os 40 membros da equipe, que têm entre 18 e 49 anos, devem poder fazer tudo. A cozinha, o cardápio, os carrinhos onde são levadas as comidas, a forma e cores dos pratos e toda a distribuição do restaurante foi pensada em função de pessoas com autismo. O Alamesa, costuma dizer o médico, fala a língua de pessoas neurodiversas.

— Imagine que um extraterrestre chega na Terra e ele tem seus olhos nos cotovelos. Se você colocar um moletom nele, ele começará a esbarrar em tudo porque não vai ver. Ele não é cego, mas ele tem os olhos nos cotovelos. Isso acontece o tempo todo com pessoas neurodiversas — comenta o médico, que tem uma conexão profunda e amorosa com sua filha, uma das integrantes da equipe.

Julia é alegre, conversadora e atende cada mesa com extrema atenção e predisposição. Quando ela ou algum dos membros da equipe têm alguma dificuldade, duas psicólogas, que estão permanentemente no restaurante, se aproximam e colaboram, de uma maneira extremamente discreta. Se for necessário, os jovens passam um tempo numa enorme sala de descanso, onde podem conversar entre eles, cuidar de uma horta ou simplesmente deitar e dar uma dormidinha.

— Sabíamos que daria certo, mas nunca imaginamos este sucesso. Criamos algo diferente e mostramos que é possível. Hoje é um restaurante, mas poderia ser uma padaria ou uma farmácia, basta ter o olhar da neurodiversidade — diz Sebastián Wainstein, diretor executivo do Alamesa.

Profissionais autistas realizam todas as funções do estabelecimento e são acompanhados por duas psicólogas — Foto: Foto: Alamesa/ Divulgação
Profissionais autistas realizam todas as funções do estabelecimento e são acompanhados por duas psicólogas — Foto: Foto: Alamesa/ Divulgação

O restaurante está sempre cheio e é frequentado por celebridades, políticos, embaixadores estrangeiros e intelectuais. Em poucas semanas, o Alamesa causou uma revolução em Buenos Aires.

O cardápio foi preparado pelo chef japonês Takehiro Ohno, que trabalhou em restaurantes com duas estrelas Michelin na Espanha. Na hora de elaborar os pratos, Polack pediu a Ohno que pensasse em receitas que todos os jovens escolhidos para integrar sua equipe pudessem preparar. O chef algumas vezes visita a cozinha, mas apenas para observar. Os que põem a mão na massa são os 40 rapazes e moças escolhidos pelo médico.

Apesar das filas na porta, o maior orgulho de Polack é ter conseguido dar a essa pequena comunidade de pessoas neurodiversas a oportunidade de ser feliz, ter um trabalho e sentir-se satisfeita com sua vida. As famílias são parte do projeto, mas somente a partir do momento em que os trabalhadores do restaurante encerram o expediente de seis horas. A missão dada a essas famílias foi muito simples: apoiar seus filhos, irmãos e netos, encorajá-los e fazer com que se sintam orgulhosos de si mesmos.

— Muitas vezes pensamos que existem problemas que não têm solução, porque a sociedade diz que só pode ser feito de uma maneira. As estruturas da sociedade estão pensadas com dois sentidos: para que os pais possam trabalhar, ou para a sociedade mesma, mas ninguém pensa nas pessoas com autismo. Podemos iluminar o Cristo Redentor no dia do autismo, mas isso não muda a vida do autista — afirma Polack, um apaixonado pelo Brasil.

O médico Fernando Polack comanda o restaurante no bairro de Palermo, em Buenos Aires — Foto: Foto: Alamesa/ Divulgação
O médico Fernando Polack comanda o restaurante no bairro de Palermo, em Buenos Aires — Foto: Foto: Alamesa/ Divulgação

Partindo de sua própria experiência, o médico argentino entendeu, há muito tempo, que pais não podem ser felizes se seus filhos não estão bem — sejam pessoas neurodiversas ou não. No caso de pessoas com autismo, o desafio é absurdamente desafiador.

— Quando seu filho fica fora do sistema você fica mal pelo seu filho, mas também por você. É muito difícil viver feliz sua vida se seu filho não está bem, ou está em casa sem nada para fazer. Eu sempre pensava sobre isso e buscava soluções — comenta Polack.

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