Teatro e dança
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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 20/06/2024 - 03:30

Peça autobiográfica: Homenagem aos pais

Lúcio Mauro Filho e Bruno Mazzeo estreiam peça autobiográfica homenageando seus pais, Chico Anysio e Lúcio Mauro. A comédia aborda a amizade entre os atores e a importância de respeitar a geração anterior de comediantes.

De um lado, Bruno Mazzeo, de 46 anos, filho de Chico Anysio (1931-2012). Do outro, Lúcio Mauro Filho, de 50 anos, caçula de Lúcio Mauro (1927-2019). Herdeiros de dois dos maiores nomes do humor no Brasil, eles celebram a amizade de décadas subindo pela primeira vez juntos ao palco com a peça autobiográfica “Gostava mais dos pais”, que chega nesta quinta-feira (20) ao Teatro Casa Grande, no Leblon.

Clichê vindo do público, e piada entre eles, a frase que dá nome à comédia é um dos fios condutores do espetáculo, dirigido por uma amiga de ambos, Debora Lamm — de volta à TV na nova temporada da série “Cilada”, na Globoplay, criada por Mazzeo, em 2005.

A também atriz Debora Lamm dirige os melhores amigos Lúcio Mauro Filho e Bruno Mazzeo na comédia 'Gostava mais dos pais' — Foto: Leo Martins/Agência O Globo
A também atriz Debora Lamm dirige os melhores amigos Lúcio Mauro Filho e Bruno Mazzeo na comédia 'Gostava mais dos pais' — Foto: Leo Martins/Agência O Globo

— O título foi a primeira coisa que definimos, antes mesmo de saber o que faríamos. A gente brinca com a nossa linhagem, que não é um peso, pois fizemos nossas carreiras independentemente dos nossos pais. Então, a gente pode se sacanear, o que surpreende as pessoas — conta Bruno.

Os dois interpretam a si mesmos em nove esquetes baseadas em situações do cotidiano. Entre as cenas, incompatibilidade de gerações, inversão de expectativas e o “lado tiozão” do duo, que diz ainda estar se adaptando às ferramentas tecnológicas. No tablado, a dupla conta com um cenário interativo que simula feeds de redes sociais, posts e reuniões on-line.

— É uma felicidade falar dos tempos atuais tendo como ponto de partida algo tão saudosista. Por louvar nossos pais e toda a geração de comediantes deles, era um risco cair nesse saudosismo. Mas a terapia em grupo que fazemos diante da plateia nos salvou. São assuntos meus, do Bruno e de toda uma geração — destaca Lúcio.

A ideia surgiu há cinco anos, enquanto estavam em turnê com a série de monólogos “5 x comédia” (em que não atuavam juntos), mas foi atrasada por conta da pandemia e, depois, por outros compromissos profissionais.

— Nunca foi uma pressão, mas, inconscientemente, a gente sempre esperou por esse momento. — relembra Lúcio.

Foi só em novembro de 2022 que o roteiro começou a ganhar forma, pelas mãos de Aloísio de Abreu e Rosana Ferrão, dois da equipe que eles carinhosamente chamam de “trupe”.

— Por mais que não tenha sido a gente que tenha se sentado diante da tela em branco, não deixa de ser uma peça autoral. Não é um texto que vai ser remontado daqui a 20 anos. São questões muito nossas. Nos cercamos de pessoas talentosas que nos conheciam na intimidade — detalha Bruno.

Intimidade essa que, para Lúcio, permite, dentre outras coisas, que a dupla possa “se expor e chorar”.

— É um grupo que sabe onde está o nosso drama. Somos privilegiados. Tivemos acesso a tudo, somos vitoriosos nas nossas carreiras... E o teatro pede o drama. O teatro tem as duas máscaras. A do sorriso estava garantida, porque é nossa labuta. Mas e a do drama? Porque o drama não é dos nossos pais, é nosso — opina o ator.

Para Debora, a afinidade entre os dois, não só na vida pessoal, mas também no espaço cênico, gera um resultado “catártico” e alça a “trama hipertemperada” a um lugar de “comédia que levanta pensamentos”:

— É tudo muito natural entre eles. Tudo entre a gente é no amor e na amizade. Quando eles me contaram que queriam fazer uma peça e me convidaram para dirigir, já era evidente que seria um espetáculo sobre o afeto. Quando me disseram que tinha relação com a memória dos pais, me dei conta de que era uma homenagem não só ao Chico e ao Lúcio, mas aos dois também.

‘Bebeto e Romário’

Melhores amigos há décadas, os dois encenam uma peça de teatro juntos pela primeira vez na carreira — Foto: Leo Martins/Agência O Globo
Melhores amigos há décadas, os dois encenam uma peça de teatro juntos pela primeira vez na carreira — Foto: Leo Martins/Agência O Globo

Apesar do “encontro maduro em cena”, em que reproduzem o relacionamento e a profissão dos pais, os humoristas pontuam que, na contramão de Lúcio Mauro e Chico Anysio, a amizade dos dois levou tempo para se estabelecer.

— Nossos pais já se conheciam desde 1950, mas por muito tempo, a gente só tinha uma convivência. Nossa amizade esperou o tempo dela maturar. Hoje, quando tenho alguma questão, o Lucinho é a primeira pessoa para quem ligo. Como nossos pais, a gente se entende e se respeita muito. Como artistas, a gente se complementa, mesmo não tendo os mesmos estilos. Aí a nossa troca fica à la Bebeto e Romário — entrega Mazzeo, três anos mais novo que Lúcio.

No início, essa diferença de idade pesou, diz Lúcio. Segundo ele, apesar de terem encontros sociais desde sempre, “festinha de um, festinha de outro”, a amizade só engrenou quando Bruno fez 18 e os assuntos começaram a ter uma interseção.

—Profissionalmente, como temos muita afinidade, o maior desafio é não deixar a coisa esculhambar. No palco, estamos em casa. É tão caseiro que pode se tornar um perigo — acrescenta, aos risos.

É ao pai do amigo Bruno, inclusive, que Lúcio atribui os rumos profissionais. Aos 23 anos, ele já fazia teatro, mas na TV, só conseguia pontas em novelas. Até que Chico o incentivou a investir no humor.

Nova geração

Com 50 anos completados na última terça-feira, Lúcio ressalta que o impasse da idade é uma das barreiras quebradas na peça.

— Nossos contemporâneos que vão levam filhos, que têm entre 12 e 18 anos. E essa geração tem uma carência nesse lugar, de respeitar quem veio antes. Não há interesse em conhecer. Diante disso, a peça deixa uma mensagem poderosa. Através do Chico Anysio e do Lúcio Mauro, a gente faz uma homenagem a comediantes que já se foram — diz.

— Por incrível que pareça, tem uma geração que não tem a menor ideia de quem foram Chico Anysio e Lúcio Mauro, mas é assim que funciona. E muitos jovens que vão com os pais, depois de verem a ovação na plateia quando eles são mencionados, saem de lá procurando no Youtube quais foram os seus trabalhos. A gente nem teve essa pretensão, mas acaba acontecendo — finaliza Mazzeo.

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