Apesar de ser uma ficção, o filme “Bandida: a número um”, que estreou nos cinemas na última quinta-feira (20), é inspirado em uma história real — ou melhor, em uma pessoa real: Raquel de Oliveira. A escritora e pedagoga de 63 anos é autora de “A número um”, romance autobiográfico lançado em 2015 que inspirou o diretor João Wainer a fazer o filme.
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Nos anos 1980, Raquel foi namorada do traficante Ednaldo de Souza, o Naldo (que chegou a ser o homem mais procurado pela polícia do estado do Rio), e, naquela época, se tornou a primeira mulher a comandar o tráfico na favela da Rocinha. Naldo morreu em uma troca de tiros com a polícia, em julho de 1988. Desde então, Raquel abandonou o crime, trata da dependência química e segue vivendo no bairro.
— Sou respeitada aqui, e quem manda hoje no tráfico foi meu aluno na escola. A literatura me salvou, sou uma sobrevivente. Nesses 35 anos, a Rocinha e o crime mudaram, mas vivemos uma paz negociada. E há muitas meninas se prostituindo, fazendo sexo oral em troca de cocaína. É isso o que deveríamos estar discutindo e não essa lei maldita — disse Raquel em entrevista ao GLOBO publicada nesta sexta-feira (21), fazendo referência ao "PL Antiaborto".
Atualmente, Raquel busca editora interessada em relançar “A número um” e publicar um livro ainda inédito.
No longa de João Wainer, Raquel é Rebecca, personagem vivida pela atriz e ex-BBB Maria Bomani. No começo do filme, ela é vendida ainda bebê pela família a Amoroso, bicheiro que mandava na Rocinha em 1977, antes da chegada do tráfico, e que que violentava dezenas de meninas. O crítico Daniel Schenker pontua que a personagem é "confrontada, desde a infância, com a ausência da mãe, a falta de escrúpulos da avó e a exploração dos homens".