Quem viveu viu, quem perdeu não pode imaginar o que foram os dois anos de Fernando Collor de Mello na presidência (1990-1992), irmanado com Paulo César Farias — o célebre PC —, seu tesoureiro de campanha e personagem de uma das páginas mais escandalosas e rocambolescas da História deste país. PC Farias — a princípio um alagoano do bem, família, respeito às leis. Mas as paixões podem levar ao êxtase ou à corrupção. No caso de PC, as duas possibilidades voaram juntas e alto. A primeira, a bordo do seu jatinho. A segunda, através de montanhas de dinheiro ilícito. Uma trajetória que durou seis anos e terminou com uma morte violenta, ainda mais cinematográfica que a vida: a tiros, ao lado da namorada Suzana Marcolino.
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![PC Farias posa com os filhos — Foto: Cleide Maia / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/h5p_JooQXTG17SOhC8Hb0m1PSNc=/0x0:441x296/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/V/2/GiHWIHS4yTUdHabB989w/paulo-cesar-farias.png)
PC Farias volta à cena em “Morcego Negro” — o nome do seu jatinho —, documentário assinado por Chaim Litewski (do excelente “Cidadão Boilesen”) e Cleisson Vidal, corroteiristas ao lado de Lea Van Steen, que assina também a vibrante montagem com Pedro Asbeg. Dezenas de depoimentos — familiares, políticos, homens de negócios, jornalistas — e notáveis cenas de arquivo impõem uma volta ao passado com assustadora atualidade.
Na trilha musical, clássicos se intercalam a raps, como o sugestivo “Amigo do amigo” (“Ele é amigo do amigo do amigo do amigo”). Diagnósticos no presente transformam PC em um “ser velcro”: qualquer definição gruda. Destemido, arrogante, cara de pau e, acima de tudo, crédulo — na impunidade. Ele simplesmente se achava acima da lei. Como declarou na célebre CPI da qual foi alvo: “Se tem algum erro, é das leis que estão aí”. Ele, como sempre, tremendamente inocente.