Cinema
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Por — Rio de Janeiro

Lou Langston (Kristen Stewart) trabalha (ou se arrasta pela vida) em uma academia de marombeiros em uma pequena cidade do estado americano do Novo México. Até que, no fim de um de seus expedientes tediosos, surge a saradíssima Jackie (Katy O’Brian). É o começo da montanha-russa de luxúria e violência de “Love lies bleeding”.

O longa de Rose Glass (do arrojado “Saint Maud”) é definitivamente um produto do seu tempo. Ambientado numa bolha nostálgica dos anos 1980, com direito a cabelos “Stranger things”, tem no pacote a paleta de cores neon da produtora A24, um clima tech-noir de Nicolas Winding Refn e certo sabor de “Titane” (2021).

A chegada de Jackie à cidade modorrenta é a gota que falta para a tensão superficial que já havia virar transbordo. Determinada a competir num concurso de fisiculturismo em Las Vegas, ela começa a tomar “o suco” para virar o armário que sempre almejou. Lou não resiste a doar toda a energia e libido a esse alienígena que pousou por ali.

De todos os ingredientes exóticos que Glass mistura no seu coquetel, Katy O’Brian é o mais reluzente. A presença física da atriz, com uma silhueta feminina rara de se ver nas telas, sustenta o interesse do espectador em boa parte da projeção. A trama cresce na mesma medida de suas fibras musculares.

Jackie ambiciona o sucesso como atleta, enquanto Lou deseja escapar da prisão de sua origem, marcada pelo domínio do pai bandidão (Ed Harris, com cabelos, e que cabelos!), com quem rompeu. É desse choque de impulsos, com a faísca do tesão como centelha, que a trama tira sua eletricidade.

Em alguns aspectos, esta é uma história de amor bandido que você já viu. Mas a inventividade da direção, com boas soluções para estetizar a violência, além da subversão de estereótipos de gênero, elevam o valor do produto.

Como em seu longa de estreia, Glass trabalha num registro que aos poucos se desprende das amarras do realismo. Não é para todos, mas certamente tem personalidade.

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