Cinema
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Por — Rio de Janeiro

Aleksandr Sokurov é um cineasta que segue uma trajetória fascinante. Sua busca quase sempre afasta-se da nitidez da fotografia, a mãe fixa do cinema, e busca texturas que se aproximam do pictórico. São muitos filtros, anamorfoses, desfocamentos e outros procedimentos para criar um mundo próprio da imagem, singular, totalmente distanciado de qualquer noção de realismo. Às vezes ele consegue resultados comoventes (“O segundo círculo”, “Moloch”, “O sol”), às vezes redunda no vazio. “Conto de fadas” faz parte do segundo time.

O conto de fadas sokuroviano é na verdade um pesadelo em que, num purgatório pictórico em preto e branco feito de computação gráfica, passeiam as almas de Hitler, Churchill, Stálin e Mussolini, que conversam entre si — em imagens tiradas de filmagens reais — e, eventualmente, com outras figuras como Jesus, Napoleão Bonaparte e o Ser Supremo. O efeito dos registros documentais ao lado da animação computadorizada produz por alguns momentos dinâmicas interessantes e fragmentos de beleza, mas em geral Sokurov parece apenas deslumbrado por um novo brinquedinho que ele repete ad infinitum.

Outrora Sokurov filmava as ficções dos momentos finais de Hitler (“Moloch”), Lenin (“Taurus) e Hirohito (“O sol”). Ele certamente é obcecado pelo fato de que até essas pessoas que já tiveram as vidas de milhões em suas mãos, elas mesmas também morrem. Mas em nenhum momento “Conto de fadas” consegue dar o passo seguinte, de criar um pensamento ou um sentimento firme diante dessas imagens absurdas e esquisitas que passam diante dos olhos.

Bonequinho dorme.

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