Quarta-feira jantei no l’Ami Louis, o mítico bistrô parisiense que tantos amam odiar — especialmente os franceses. François Simon, do Le Figaro, descreveu o lugar assim: “O mundo inteiro se senta ao redor das 13 mesas (52 lugares). Se bobear, a única pessoa desconhecida será você! (...) O foie gras é muito banal, servido de maneira teatral em duas fatias grandes, a um preço surreal. A reserva. Meu Deus, como são chatos! Quase nunca atendem o telefone. (...) Os preços: delirantes!”
Fato: o l’Ami Louis construiu desde 1924 uma clientela rica e fidelíssima — americanos, em especial — e é difícil conseguir uma mesa. Outro fato: os preços são estratosféricos. O frango assado para dois — clássico da casa — custa € 120 (e não inclui as famosas fritas palito ou a torta de batatas Anna, torradinha por fora). As gordas fatias de foie gras (que de banais não têm nada), com baguette tostada, saem por € 72.
Parte do meu amor pelo l’Ami Louis é saudosismo puro: na infância, eu e meu irmãos caminhávamos até lá com nossos pais depois da missa do domingo. A outra parte tem nome e sobrenome: Louis Gadby. Pança redonda, cara redonda, sorriso largo e quase meio século de casa, o maître tornou-se sócio-proprietário em 2010 (depois que um câncer fulminante levou embora o patrão). Comanda o pequeno salão com autoridade e carisma absolutos. Mima seus clientes da vida toda mas nem sempre atende o telefone. Recusa-se a embarcar na era digital e diz que cobra caro porque só compra matéria-prima de primeiríssima.
Arranquei dele uma entrevista 12 anos atrás. Justificou a cozinha minúscula dizendo que quase não transformam os ingredientes: “Damos uma grelhadinha, uma fritada e pronto.” Quando foi a última vez que mudou o menu ou o décor? “Nunca. Só nos adaptamos à estação, cogumelos girolles no verão, carnes de caça no outono etc., e retocamos a pintura.” E os críticos que reclamam dos preços? “Não leio nem dou a menor bola. Se frequentassem mercados saberiam que produto bom custa caro.” Difícil discordar depois dos aspargos de anteontem... Eram a primavera em sua mais completa tradução.