Reage, Rio!
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Por Bruno Rosa e Luiz Ernesto Magalhães, O Globo — Rio de Janeiro

O Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, é uma das principais portas de entrada do Rio de Janeiro e do Brasil. No entanto, o terminal da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, vive um esvaziamento que preocupa empresários e autoridades. O desequilíbrio entre o Galeão e o Aeroporto Santos Dumont, no Centro, na movimentação de passageiros é alvo de discussões entre os governos federal, estadual e municipal, com participação da sociedade civil na busca de uma solução.

Para contribuir com a questão, os jornais O GLOBO e Extra realizaram hoje a 14ª edição da série Reage, Rio! para debater o melhor modelo de exploração da infraestrutura aeroportuária para a capital fluminense. O evento foi realizado com apoio da Fecomércio RJ, na manhã de hoje, no auditório da Editora Globo, no Centro do Rio, com transmissão no canal do GLOBO no YouTube e nos perfis do GLOBO e do Extra no Facebook.

Dividido em dois painéis, o debate foi mediado pelos jornalistas Mariana Barbosa e Rennan Setti, titulares da coluna Capital, do GLOBO. Na primeira parte, o governador do Rio, Cláudio Castro, e o prefeito da capital, Eduardo Paes, reforçaram a pressão sobre o governo federal para que limite a operação do Santos Dumont para viabilizar a recuperação do Galeão. Os dois reúnem-se amanhã em Brasília com o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, para discutir o tema. Também participou o secretário nacional de Aviação Civil, Juliano Noman.

No segundo painel, sobre "Infraestrutura aeroportuária e os impactos do Galeão no turismo e na economia do Rio", participaram: Patrick Fehring, diretor de Negócios Aéreos do RIOgaleão, Ricardo Keiper, diretor de Supply Chain da GE Aviation, Luis Strauss, presidente do Conselho do Convention & Visitors Bureau e presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio, Otavio Leite, consultor da Presidência da Fecomércio RJ e doutorando em Turismo, e Respício do Espírito Santo, professor de transporte aéreo da Escola Politécnica da UFRJ.

'Não é um problema de segurança', diz Castro

O evento foi aberto pelo diretor de Redação do GLOBO, Alan Gripp. Em seguida, Castro iniciou sua participação no painel ressaltando a busca de uma solução compartilhada entre as autoridades para o Galeão, sem que seja necessário qualquer tipo de imposição. No entanto, na saída do evento, Castro e Paes não descartaram a adoção de medidas legais locais para limitar a operação no Santos Dumont em favor do Galeão, caso o governo federal não apresente medidas concretas na reunião marcada para amanhã.

A comodidade e a segurança são geralmente os motivos apresentados pelos passageiros que preferem o Santos Dumont ao Galeão. Para Castro, no entanto, a segurança da Linha Vermelha e a falta de transporte sobre trilhos ligando o Galeão ao Centro não têm influência relevante nessa escolha. Para ele, o crescimento do Santos Dumont prejudica o terminal internacional.

— Não é um problema principal nem a segurança e nem a distância. O problema é que um aeroporto está canibalizando o outro.

Paes concordou e afirmou que, mesmo no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), táxis e ônibus são mais usados que o trem que dá acesso ao terminal.

Não é um problema de segurança', diz Castro sobre esvaziamento do Galeão

Não é um problema de segurança', diz Castro sobre esvaziamento do Galeão

'Não tem bala de prata', diz secretário

O prefeito criticou o que identificou como uma movimentação para “forçar uma barra” para a saída da atual concessionária do Galeão (liderada pela Changi, de Cingapura, a maior operadora de aeroportos do mundo) e a devolução do terminal internacional à Infraero, o que fortaleceria a estatal, que atualmente tem no Santos Dumont a sua principal fonte de receitas. Ele defendeu que se mantenha a gestão privada do Galeão e que o mesmo seja feito com o Santos Dumont.

— O Brasil adotou a solução adequada no governo do PT, da presidenta Dilma Rousseff, de privatizar os aeroportos — afirmou Paes. — Basicamente o que tem que fazer é o seguinte: Galeão e Santos Dumont têm que ser pensados integrados.

O secretário de Aviação Civil, Juliano Noman, afirmou que o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, determinou que sejam avaliadas todas as alternativas. E disse acreditar que uma saída passa por várias medidas ao mesmo tempo.

— Não tem bala de prata. O que temos feito e colocado na mesa são diversas alternativas. Uma boa solução para o Rio vem com mais de uma iniciativa. É isso que o ministro deve buscar na reunião para criar um plano de ação.

Solução para o Galeão 'é para ontem', diz Paes

O prefeito reagiu dizendo que o problema do Galeão "é para ontem" e precisa de respostas urgentes e medidas concretas. Ele defendeu a redução do número de passageiros do Santos Dumont dos atuais 9,9 milhões de passageiros por ano para 6 milhões como forma de forçar a transferência de voos para o Galeão.

— Vamos brigar pelo Galeão, que é fundamental para o Rio de Janeiro — disse Paes.

'Privatizar é a solução adequada', disse Paes

'Privatizar é a solução adequada', disse Paes

Sobre a possibilidade de os Correios terem um centro de distribuição no Galeão, Paes disse que será uma medida importante. E afirmou que aceita zerar a cobrança de ISS dos estabelecimentos do terminal internacional.

Castro também disse que aceita "perder receita", como na cobrança de ICMS de combustível para aviões, para ajudar numa solução. E defendeu que a União precisa contemplar a perda de receitas da Infraero com limites na operação do Santos Dumont. Ele lembrou que terá uma reunião com Márcio França em Brasília amanhã, com a participação de Paes, para discutir o tema.

— O estado, a prefeitura e a União têm que topar perder. E o estado e a prefeitura topam — disse Castro, dirigindo-se ao secretário de Aviação Civil. — Leve para o ministro que queremos sair amanhã dessa reunião com isso resolvido.

O secretário de Aviação Civil afirmou que, após a entrega dos terminais leiloados em 2022, como o de Congonhas (SP), restará à Infraero o Santos Dumont e dez aeroportos regionais. Um programa de demissão voluntária pretende reduzir de 2 mil para 500 o total de funcionários.

Noman destacou que o Galeão deve alcançar 8 milhões de passageiros em 2023, o que seria um aumento de 40%. É um pouco acima da previsão da RIOgaleão, de 7,2 milhões. Já para o Santos Dumont, que opera no limite, a previsão é de alta de 10% neste ano.

Castro lembrou que a Infraero é sócia do consórcio que atualmente administra o Galeão, liderado pela Changi, e que os investimentos recentes foram financiados pelo BNDES. A estatal tem 49% da concessionária, e portanto teria a ganhar com a revitalização do Aeroporto Internacional do Rio.

— Fortalecer o Galeão também fortalece o governo federal, que tem um ativo que está sendo depreciado. Está deixando de ganhar o dinheiro para comer o mês inteiro pensando só no jantar do dia de amanhã.

Crise do Galeão afeta a economia e o turismo no Rio

Dividido em dois painéis, o debate foi mediado pelos jornalistas Mariana Barbosa e Rennan Setti, da coluna Capital, do GLOBO. Na segunda parte, sobre os impactos do Galeão no turismo e na economia do Rio, Patrick Fehring, diretor de Negócios Aéreos da RIOgaleão, explicou que, sem aumentar conexões do Galeão com outras cidades do país é difícil atrair novas linhas internacionais.

O executivo deu como exemplo a alemã Lufthansa, que voa três vezes por semana para o Rio. Poderia ter sete voos se o Galeão tivesse mais conexões com a Região Sul, afirmou:

— Não tem voo do Sul para o Galeão para suportar esse aumento de voos. A conectividade é o limite do crescimento.

Ainda assim, Fehring destacou que a Alitalia vai retomar o voo diário no eixo Rio-Roma. A British Airways vai elevar de cinco para sete os voos semanais para Londres, e a American Airlines, que tem ligação diária com Miami, somará dez semanais na alta temporada.

O presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav) e do Conselho do Convention & Visitors Bureau, Luis Strauss, afirmou que a limitação das linhas internacionais do Galeão afeta o fluxo de turistas para o Rio e a capacidade de atrair eventos:

— Estamos em mais de 100 concorrências. E em fase de captação de outros 30 eventos. Se não tem o Galeão, o Estado do Rio perde muito.

Ricardo Keiper, diretor de Supply Chain da GE Aviation, afirmou que todo o setor de aviação “precisa de velocidade”. O grupo mantém oficinas da subsidiária GE Celma, de manutenção de motores de aviões, em Petrópolis, Três Rios e no Galeão. A empresa depende de peças importadas que chegam em voos comerciais e é afetada pela crise do Galeão, diz o executivo:

— Infelizmente, estamos perdendo produtividade em vez de ganhar.

Otavio Leite, consultor da Presidência da Fecomércio RJ e doutorando em Turismo, propôs uma ação do estado e do município para limitar os voos domésticos para o Santos Dumont, como foi feito pelo governo de Minas com o Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, para não prejudicar o de Confins.

Leite propôs alternativas para atrair linhas internacionais para o Galeão em parceria com o setor turístico, como promoções em hotéis e atrações para fazer do Rio um destino stopover, quando o turista fica alguns dias na cidade antes de embarcar para outra:

— Temos um potencial gigantesco.

Outro participante do painel, Respício do Espírito Santo, professor de transporte aéreo da Escola Politécnica da UFRJ, disse que revitalizar o Galeão às custas do Santos Dumont não é a melhor saída. Defendeu alternativas como uma companhia aérea que funcione como âncora do Galeão, como é o caso da Delta em Atlanta, nos EUA, em uma estratégia de atração de passageiros e carga para o terminal dentro da lógica do livre mercado:

— Por que não buscar soluções para o Galeão sem colocar o Santos Dumont como vilão?

Perda de conectividade

A superlotação do Santos Dumont e o esvaziamento do Galeão levaram o Rio de Janeiro a se tornar uma cidade menos conectada, perdendo espaço na malha aérea brasileira. Mesmo sendo um dos principais hubs (centros de distribuição) de voos e destino preferencial de turistas estrangeiros, a cidade do Rio fica em quinto lugar na oferta de destinos domésticos no país.

Movimento aeroportos — Foto: Criação O Globo
Movimento aeroportos — Foto: Criação O Globo

O Rio tem rotas para 27 cidades e fica atrás de São Paulo (57), Brasília (40), Belo Horizonte (39) e Recife (30), de acordo com dados do sistema OAG Analytics. As informações levam em conta as operações existentes nos dois terminais.

O Reage, Rio! é um movimento criado em 2017 que reafirma o compromisso do GLOBO e do Extra com o Rio. Juntos, poder público, imprensa, sociedade civil e entidades empresariais podem e devem debater e buscar soluções inovadoras para a capital fluminense e o Estado do Rio de Janeiro.

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