Lohran Almeida, de 14 anos, gosta de mexer com computador e já demonstra habilidades com programação. Wesley Soares, de 15, participou no ano passado de um grupo que desenvolveu um invento que transforma garrafas pets em filamento para impressora 3D. Os dois adolescentes são alunos do Ginásio Educacional Tecnológico (GET) Mascarenhas de Moraes, no Caju, na Zona Norte. Este modelo de escola que chega ao número 200 nesta quinta-feira com a entrega do GET Gonçalves Dias, em São Cristóvão, faz parte de um programa da Secretaria municipal de Educação que leva os estudantes a se tornarem mais participativos no processo de aprendizagem. A iniciativa utiliza a tecnologia como aliada no ensino.
As 200 unidades do programa atendem a um universo de cerca de 100 mil alunos e funcionam em tempo integral, com aulas das 7h30 às 14h30. O que diferencia o GET de uma escola tradicional é o colaboratório, ou espaço maker, sala onde o aluno vai encontrar desde uma máquina de costura a uma impressora 3D, além de computadores e outros equipamentos que permitirão desenvolver as habilidades em atividades como robótica, programação e outras desenvolvidas de forma integrada com o conteúdo programático das disciplinas.
A ideia é fazer os estudantes pensarem em propostas inovadoras e soluções criativas num trabalho que mistura ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática, além das demais disciplinas da grade curricular.
— A gente trabalha com uma linha construcionista, que é fazer o aluno aprender botando a mão na massa, tornando o aprendizado mais dinâmico — aponta Luiz Gustavo Taipina, professor articulador do GET Mascarenhas de Moraes.
As atividades do laboratório são integradas com a grade curricular e desenvolvidas a partir das propostas dos alunos. Quando estavam estudando, na aula de Português, o premiado livro "Torto Arado", de Itamar Vieira Júnior, os estudantes desenvolveram um game baseado na saga das irmãs Bibiana e Belonísia, protagonistas do romance.
O mesmo aconteceu com outras obras literárias. No momento, os jovens estão envolvidos no projeto "Festa Junina TEC", com a proposta de dar uma roupagem tecnológica a brincadeiras tradicionais, como boca do palhaço, arremesso de argola e bola na lata.
— A escola ficou mais interessante. Dá mais vontade de estudar e permanecer mais tempo aqui — aprova Lohran, matriculado no 8º ano.
O entusiasmo do aluno é confirmado pela mãe dele, a costureira Jussara Almeida Santiago, de 48 anos. Mãe solo, ela conta que o filho, que não tem computador em casa, passou a ficar mais interessado nos estudos desde que a escola foi transformada em GET, no começo do ano passado.
— Ele nunca foi de faltar aulas, mas sinto que agora está mais interessado. Não gosta nem de chegar atrasado, e eu percebo que é importante para ele — afirma.
O projeto no qual Wesley trabalhou em parceria com outros colegas deu à escola o Prêmio Shell de Educação, no ano passado. O reconhecimento deixou ainda mais estimulado o estudante, que também demonstra habilidades com programação.
— Não era bem o que eu queria, mas já cheguei aqui fazendo um projeto como esse e ganhando prêmio. Isso me incentivou a criar outras coisas — disse o jovem, matriculado no 9º ano.
![No GET Elza Soares, o primeiro da rede, alunos desenvolvem habilidades com ajuda da tecnologia — Foto: Gabriel de Paiva](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/0xWU66i-Epm_vMGPtiU5cwom31M=/0x0:5782x3915/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/d/x/4C0Y8xQkAlDZr56irArg/107471719-ri-rio-de-janeiro-rj-26-06-2024-ginasios-experimentais-tecnologicos-gets-chegam-ao-num.jpg)
A primeira unidade do programa, batizada em homenagem à cantora Elza Soares, morta em janeiro de 2022 e considerada uma inovadora em sua arte, já nasceu como GET, ao contrário do Mascarenhas de Moraes e o Gonçalves Dias, que já existiam e foram adequadas para receber o programa. Inaugurada em março de 2022, está localizada no bairro do Rocha, também na Zona Norte, e foi a primeira escola entregue pelo município após a retomada do projeto Fábrica de Escolas, criado em 2014 e paralisado na gestão passada.
Como acontece nas outras unidades, os alunos trabalham o conteúdo de sala de aula também no colaboratório em projetos integrados com os professores. Entre eles, destaca-se a bengala para pessoas com deficiência visual. Ela é dotada de um sensor de inclusão que apita quando chega perto de um obstáculo.
Durante as aulas de robótica, os alunos criaram também um carrinho motorizado. Além disso, desenvolveram aplicativos e jogos com programação. No momento, alunos do 5º ano estão voltados para a construção de uma maquete do sistema solar, utilizando recursos tecnológicos. Os do 4º ano estão desenvolvendo um trabalho de educação financeira, também recorrendo ao uso de tecnologias como o código QR.
— É uma nova forma de ensino para dar oportunidade às crianças de aprender de diferentes maneiras e criar cidadãos proativos, capazes de desenvolver habilidades e enfrentar os desafios de maneira mais fácil. Tudo é planejado em cima das observações que eles trazem — explica a diretora da unidade, Edília Correa.
![Novo GET será em escola construída em 1872 — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/NRfDc7ZsfIN3sEtuP7O53r9lUfc=/0x0:1600x934/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/o/k/2iNzNVTSSBX9YB91Nrag/whatsapp-image-2024-06-26-at-11.50.07.jpeg)
Na Escola Municipal Gonçalves Dias, que será entregue nessa quinta-feira como GET, o passado vai se conectar com o futuro. Construída em 1872, a unidade é a mais antiga da rede e vai ganhar impressoras 3D, programação de jogos, robótica, óculos de realidade virtual e outras novidades tecnológicas.
O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, diz que os GETs nasceram de uma provocação feita pelo prefeito Eduardo Paes, sobre qual legado seria deixado para a cidade em termos de equipamento de educação alinhado com o século XXI. Na sua opinião, esse é o modelo de escola mais inovador do país.
— A ideia é ter a tecnologia como parceira do processo educacional. Aqui no Rio de Janeiro a gente tomou a decisão de proibir uso de celulares nas escolas por acreditar que as crianças ficando nas redes sociais e nos joguinhos de maneira individualizada só estão se isolando na sua própria tela. Mas a gente tem também o recado muito claro de que a tecnologia, quando é utilizada com intencionalidade pedagógica, pode ser uma grande parceira — concluiu.
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