Policiais da 37ª DP (Ilha do Governador) prenderam na madrugada deste sábado três pessoas de São Paulo acusadas de integrarem uma quadrilha que furtam casas no Rio. Eles foram presos em flagrante após furtarem uma residência no Jardim Guanabara, região nobre da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. Eles vão responder por furto qualificado e organização criminosa.
- Ilha do Governador: operação policial mira suspeitos de extorquir dinheiro de motoristas de app
- Deputada Lucinha: Conselho de Ética da Alerj arquiva denúncias contra parlamentar
Segundo as investigações, os criminosos furtam as casas e logo voltam para São Paulo. A prisão foi feita com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que realizaram o cerco e prenderam os criminosos. Eles estavam com os objetos que haviam acabado de furtar, luvas e a chave de fenda usada para arrombar o portão da residência.
Os alvos eram sempre imóveis de alto padrão e vazios. Os três presos tem anotações criminais em São Paulo por crimes patrimoniais e um ainda estava foragido após ser condenado por furto qualificado pela Justiça paulista.
A Polícia Civil agora investiga se há outros envolvidos.
Denúncias de extorsão, sequestro e órgão público cerceado
A Ilha do Governador, localizada na Zona Norte do Rio, tem pouco mais de 200 mil habitantes e uma área territorial que corresponde a cerca de 3% do tamanho da capital. Com 14 bairros, ela também é uma das principais portas de entrada da cidade, pois abriga o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro - Galeão (GIG) e é cercada pela Baía de Guanabara. Apesar disso, é a representação do cenário de insegurança que assola todo o estado. Depois da denúncia de que motoristas de aplicativos sofreram extorsão de traficantes para rodar nos bairros, incluindo relatos de sequestro, muitos passaram a evitar a região. Além disso, funcionários de centro socioeducativo do Rio deixaram de levar internos a consultas por medo de criminosos. Um adolescente até fugiu após receber ajuda em frente à clínica de saúde.
Nesta quinta-feira, a Polícia Civil fez uma operação e prendeu três suspeitos de praticar extorsão na região: Anderson dos Santos Barbosa, Leonardo Alves do Santos, o Valoroso, e Leonardo Rodrigues Pereira, o Dogão. Segundo as investigações, os traficantes do Dendê, do Terceiro Comando Puro (TCP), principal facção da Ilha, cobravam o pagamento de taxas de motoristas de aplicativo que trabalhassem na região. Quem era de fora pagava R$ 150, enquanto os moradores pagavam R$ 100. Aqueles que se recusavam eram ameaçados e poderiam ter até o veículo danificado. A Polícia Civil afirma que isso dá à quadrilha uma faceta de narcomilícia, já que a ação se assemelha a praticada pelas milícias da Zona Oeste e Baixada.
Os primeiros relatos desses crimes chegaram ao conhecimento da 37ªDP em março, quando motoristas registraram ocorrência na distrital. Em 17 de abril, um primeiro suspeito foi preso: Alessandro Villani. Ele ganhava R$ 550 por semana para administrar um grupo de WhatsApp que reunia as vítimas. À polícia, ele revelou que controlava o pagamento das extorsões pelo aplicativo de mensagem, que também servia como um “certificado” às vítimas, que o usavam como prova dos “pedágios”.
A polícia estima que aos menos 300 motoristas faziam parte do grupo, o que rendia, por mês, cerca de R$ 180 mil à facção. Além disso, algumas vítimas usavam um adesivo no para-brisa que indicava o pagamento da extorsão. O selo circular, de cera de 10cm, tem o desenho de uma ilha — até com a representação de um coqueiro — e um número.
Funcionários deixam de levar adolescentes a consultas por medo de criminosos
O clima de cerceamento chegou até em instituições do próprio Estado, mais especificamente no Cense Dom Bosco, unidade socioeducativa localizada próxima ao Morro do Barbante, o único que pertence ao Comando Vermelho. Em comunicado enviado à Secretaria Municipal de Saúde (SMS), no dia 13 de junho, a direção da unidade informou que "nenhum agente de segurança socioeducativo aceita realizar a missão de atividade externa consistente em levar qualquer adolescente para atendimento médico". A justificativa é de que a clínica que recebe os jovens está localizada em uma área amplamente conflagrada, o que oferece risco aos funcionários e adolescentes. No mês passado, um dos internos conseguiu fugir após receber apoio de um homem na saída do posto de saúde.
Em entrevista ao RJ1 sobre a operação desta quinta-feira, o secretário Marcus Amim afirmou ser um compromisso do Governo do Estado retomar o controle territorial das áreas dominadas pelo crime organizado no Rio:
"O controle territorial e o monopólio do exercício da violência é privativo do estado. Quem manda no estado do Rio de janeiro é a população fluminense. Quem ousar desafiar o estado nesse sentido vai receber a reprimenda do estado. A garantia que vamos dar é de que continuaremos trabalhando na Ilha do Governador e em outras regiões ligadas ao tráfico de drogas ou a grupo paramilitar. Quem tentar exercer influência ou dominar territórios receberá uma ação veemente do estado por parte da polícia do estado e da polícia militar", afirmou.
Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio