Ao conhecer o nome do enredo da Imperatriz de 1989, Vicente Venâncio da Conceição, o Vicentinho, logo lembrou do lema da Revolução Francesa e emendou: “E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz”. Junto de Niltinho Tristeza, Preto Jóia e Jurandir, ele foi um dos autores do histórico samba da escola de Ramos. Longe da Marquês de Sapucaí e uma das memórias vivas do samba, poucos são o que sabem da sua importância para o carnaval:
- Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer: Sambódromo completa 40 anos como uma passarela de histórias do Rio
- Vote: Qual é o melhor samba-enredo dos 40 anos de Sambódromo?
— Acho que é um pouco culpa das agremiações que não preservam seus ícones, seus baluartes. Sou Imperatriz desde os 5 anos. Meu pai deu as cores para a escola. Morei no morro do Alemão por 23 anos e hoje vocês conhecem como complexo — conta.
![Vicentinho canta samba da Imperatriz de 1989 Vicentinho canta samba da Imperatriz de 1989](https://cdn.statically.io/img/s03.video.glbimg.com/x240/12311610.jpg)
Vicentinho canta samba da Imperatriz de 1989
Histórias com a verde e branco não faltam. Como a vez que seu pai levou a caixa d’água de casa para compor um dos carros alegóricos prometendo voltar com ela intacta e levou um esporro da mãe de Vicentinho porque voltou de mãos vazias. Sem ir ao Sambódromo há uma década, ele se prepara para matar a saudade neste ano.
Qual é o melhor samba-enredo dos 40 anos de Sambódromo?
O poeta popular ainda lembra que quase fez outra parceria para “Liberdade, Liberdade”, algo que poderia mudar a história do carnaval. De respostas ágeis, ele não foge das polêmicas envolvendo aquele carnaval de 1989. Para alguns, a Beija-Flor, que amargou o vice-campeonato, com “Ratos e Urubus”, foi injustiçada. Ele defende a Imperatriz com unhas e dentes:
— Nosso samba foi o sustentáculo do desfile. Chorei igual criança pequena quando vi a Marquês de Sapucaí cantando o samba — lembra.
Samba o tempo inteiro
Por causa de diabetes, ele precisou amputar as duas pernas e faz uma sessão de diálise a cada dois dias. Para assistir à Imperatriz brigar pelo bicampeonato, ele já se planejou: vai à clínica no sábado. Sua escola do coração fecha o primeiro dia de desfiles na madrugada de segunda-feira. Horas depois, vai retornar para fazer outra sessão.
Todo seu tratamento é feito pelo SUS. Vicentinho é paciente do Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso (Padi) da secretaria municipal de Saúde. Para os “anjos” do programa, como ele chama a equipe médica, ele até já compôs um samba:
— Não tenho perna, mas tenho cabeça. Só penso em música — brinca.
![O compositor Vicentinho, autor do samba "Liberdade, liberdade" canta o samba com a equipe do PADI Ilha: Guilhermina Maria Galvão Siqueira Gomes, Walkiria Pereira dos Santos, e Ana Cláudia Jacob — Foto: Ana Branco](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/QJZMhTUflaT-j3zVD9-CrZGkklU=/0x0:1624x1100/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/f/0/Qvy1DFQkWFFLSwhgRSsw/105681033-ri-exclusivo-rio-de-janeiro-rj-25-01-2024-memoraveis-do-carnaval-o-ritmista-vicentin-1-.jpg)
Por divergências internas na escola de Ramos, Vicentinho acabou se afastando da agremiação. Foi então que ele encontrou seu segundo amor: a União da Ilha do Governador. Seu apartamento fica a poucas ruas da escola e foi comprado com o prêmio que recebeu ao vencer o samba de 1996, quando a tricolor insulana levou o enredo: “A Viagem da Pintada Encantada”. Assim como seu pai, ele transmitiu os genes do samba à sua família. Suas netas estreiam na Sapucaí esse ano na ala mirim da União da Ilha.