Correr na orla e dar um mergulho na praia no intervalo do trabalho, tomar um café da tarde e degustar chocolates de altíssimo nível ou charutos cubanos na companhia de velhos amigos, colocar os relatórios em dia em uma cafeteira cultural ou ainda em um salão de beleza enquanto recebe mimos de todos os tipos. Ao som de bossa nova e cercado de muito requinte, exclusividade e comodidade. Cultura, lazer e natureza na porta de casa, sem precisar tirar o carro da garagem. Estas são algumas das vantagens de morar no Leblon. Mas, apesar de muitos privilégios, o clima bucólico, eternizado nas novelas de Manoel Carlos, já não é mais o mesmo, dizem os moradores. Preços exorbitantes, muito barulho, insegurança e até fofoca. Conheça a seguir pontos positivos e negativos de morar no bairro que tem o aluguel mais alto do Brasil, como aponta o índice de aluguel QuintoAndar Imovelweb.
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Imóveis de luxo
Em 2023, o Leblon foi o único dentro do universo das seis cidades monitoradas pela lista com um metro quadrado que ultrapassou a marca de cem reais: R$ 106,40. Estes imóveis de luxo, situados em endereços específicos, podem custar quase R$ 100 mil por mês, de acordo com Paulo Cezar Ximenes, diretor da Sérgio Castro Ouro, especializada em imóveis de alto padrão.
Já se a intenção é comprar, pesquisando é possível encontrar imóveis por pouco menos de R$ 1 milhão (com cerca de 50 metros quadrados e precisando de reforma) na Avenida Ataulfo de Paiva. Para quem deseja desembolsar uma quantia mais robusta, há opções de coberturas de R$ 190 milhões na orla, na Avenida Delfim Moreira, e casas de R$ 220 milhões no Jardim Pernambuco, trecho mais cobiçado do Leblon atualmente.
— Cerca de 70 % do mercado de alto padrão do Rio estão concentrados no eixo Leblon e Ipanema. A procura é grande; e a oferta, pequena. São bairros primos, mas o Leblon tem o metro quadrado de 3% a 4% mais caro que Ipanema, que apresenta um decréscimo na valorização dos imóveis por conta da proximidade com comunidades. O Jardim Pernambuco, no Leblon, ultrapassou, há cerca de três anos a cinco anos, a própria orla como objeto de desejo, talvez pela segurança mais reforçada e a vizinhança seleta — explica Ximenes.
Comércio aquecido e ruas agitadas
Outro movimento recente, provocado pela pandemia, pode estar contribuindo para o ambiente solar de eternas férias estar mais distante do bairro: a mudança de muitas empresas, que estão trocando o centro da capital pelo cenário dos folhetins de Maneco. Não é de hoje que o Leblon se divide entre a qualidade de vida de um bairro residencial de luxo e a agitação típica de uma grande metrópole, mas o comércio cada vez mais aquecido traz vantagens e dores de cabeça para quem vive por aqui, avaliam os próprios moradores.
A Rua Dias Ferreira, por exemplo, endereço do Polo Gastronômico do bairro, reúne bares e restaurantes badalados. O Esch Café La Casa del Habano é um desses empreendimentos e é o local eleito por uma confraria formada por cerca de 15 amigos de longa data, moradores da região, que se reúnem toda tarde para conversar enquanto bebem, comem e fumam charutos cubanos.
— O bairro é maravilhoso, muito acolhedor, tem tudo perto, mais caro, mas tem. No entanto é muito residencial, não tem estrutura para receber essa migração de empresas vindas do Centro. Não tem uma padaria para quem trabalha no dia a dia tomar um café da manhã. A pessoa vai vir trabalhar e vai esbarrar com um monte de gente passeando com o cachorro. Com esse aumento considerável do comércio, ele perde um pouco esse clima mais bucólico — opina o economista Eduardo Doria, um dos confrades.
No Esch Café, o pastel misto de queijos brie, carne e camarão sai a R$ 62; o sanduíche de filé-migon com queijo emental e fritas custa R$ 73; e o camarão flambado com arroz de amêndoas e noisette de maçã, R$ 215. Há também pratos executivos a partir de R$ 62.
Apesar de o ticket médio ser acima se comparado a outros bairros do Rio, há opções com preços bem em conta. Pertinho do Esch Café, na Chocolateria Envidia, a salada é servida a R$ 20; o arrumadinho de frango a R$ 30; e o assustadinho de camarão a R$ 35. Para entrar no espaço é preciso tocar a campainha, e o cliente é muito bem recebido por lá.
O barulho como problema
Além de vários estabelecimentos comerciais, a Rua Dias Ferreira abriga uma série de edifícios residenciais. O advogado Vinícius Barros e o dentista Thiago Petroli moram em um deles. Para evitar o burburinho dos bares e restaurantes e não perder o sono, eles escolheram um apartamento de fundos.
— Para quem mora de frente chega a ser insuportável. Tem que ter isolamento acústico. Nunca achei que morar em um apartamento de fundos fosse tão bom. Tenho os melhores restaurantes pertinho de casa e não sofro com a algazarra — celebra Barros.
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Petroli acrescenta que além do barulho com que bastante gente sofre, muitos imóveis na via são bem antigos.
— Eles não têm reforma e mesmo assim são caríssimos porque são no Leblon. O IPTU é um absurdo, e no comércio há preços surreais que chegam a ser abusivos — reflete Petroli, que se mudou de Ipanema para o Leblon há dois anos. — É engraçado porque apesar de serem bairros vizinhos, eles têm o clima bem diferente. Ipanema tem um turismo mais veroz, tem um jeito de cidade grande mesmo. Já o Leblon é mais familiar e a sensação é que todo mundo se conhece.
Barros brinca:
— Tem até fofoca, parece uma cidade do interior.
Os dois tomavam um café da tarde, entre um trabalho e outro, na última terça-feira, na Chocolate Q. No cardápio, a chocolataria da Avenida Ataulfo de Paiva serve trufas de abacaxi (R$ 115, com 250 gramas), brownies de chocolate (R$ 60, com 200 gramas), barrinhas de chocolate com geleia de laranja (R$ 185, com 200 gramas), entre outros quitutes.
Tudo num só lugar
Bem próximo dali, as amigas russas e professoras de idiomas Sasha Spirchagova e Anna Rtova, que moram há 20 anos em Ipanema, escolheram a Verso Café Cultural como base para o trabalho remoto. No primeiro piso, uma cafeteria charmosa com uma atmosfera aprazível; e no segundo andar, o empreendimento, aberto há cerca de um ano, oferece um espaço para pequenas apresentações musicais, exposições e oficinas. Uma água é servida a R$ 9, e o café tropical custa R$ 25.
— Gosto muito de Ipanema, mas lá as opções são mais escassas, tem trânsito. Aqui no Leblon temos mais cafeterias, mais alternativas para o almoço, dá para fazer tudo a pé, as ruas são mais arborizadas. É muito gostoso trabalhar com esse clima — avalia Sasha.
Também na Avenida Ataulfo de Paiva, e seguindo a característica de muitos comércios do bairro de “ter tudo num só lugar”, o salão de beleza TP Beauty Lounge oferece uma cafeteria com refeições, além de ter obras de arte espalhadas por todo ambiente e espaços exclusivos para o conforto do cliente. No local, o preço do pé e mão é R$ 120; e o corte de cabelo, cerca de R$ 350.
Insegurança
Já na cafeteria da Livraria Argumento, a salada custa em média R$ 50; e o sanduíche, a partir de R$ 40. Foi lá que as amigas e comadres Adriana Galvão e Cristina Oliveira se encontraram. O empreendimento foi usado para a gravação das primeiras cenas da livraria do Miguel, personagem de Tony Ramos em “Laços de família”. Mas as duas afirmam que esse ambiente de novela ficou para trás, principalmente por causa da insegurança.
— Fui assaltada há três meses aqui no Leblon. Estava caminhando e puxaram e levaram meu cordão. O susto foi grande — diz Cristina.
Adriana complementa:
— Voltávamos de restaurantes a pé às 2h da madrugada. Hoje em dia isso é impensável. Eu já não ando mais com o celular.
Já para o médico Guilherme Bussade, morador do bairro há décadas, apesar de não ser mais tão seguro quanto antes, o Leblon não é um bairro perigoso.
— Recebo amigos de outros estados e conseguimos andar tranquilamente por aqui — afirma ele.
Cirurgião plástico, Bussade costuma correr na orla e dar um mergulho no mar entre um atendimento e outro.
— Isso é uma vantagem incrível. Trabalhar perto de casa, ter essa praia maravilhosa. O preço dos serviços e produtos é mais alto, mas também é possível não gastar tanto. No lugar de malhar numa academia caríssima temos a praia para correr. O lazer pode ser uma trilha ou circular pelo bairro. Acho que o ponto negativo é que vivemos numa bolha, é uma realidade bem diferente da maioria — reflete.
Facilidade na hora das compras
O principal centro comercial do bairro, o Shopping Leblon, oferece para os clientes algumas comodidades, além de lojas e serviços exclusivos, como o Leblon Shopper, assistente de compras via whatsapp que recebe os pedidos e vai até as lojas fazer a seleção dos produtos, enviando fotos e fazendo um atendimento personalizado. Os itens selecionados pelo cliente são entregues em até 3 horas nos bairros da Zona Sul, em até 4 horas na Barra da Tijuca, e em até 24 horas no Centro, Niterói e Tijuca. A ferramenta está disponível no site http://www.shoppingleblon.com.br/.
O empreendimento proporciona ainda experiências culturais e artísticas aos visitantes como o Art Wall, mural artístico no corredor de entrada principal do shopping, com curadoria da Artmotiv e que recebe obras de artistas expoentes contemporâneos brasileiros. Em paralelo, há uma agenda musical nos finais de semana que recebe nomes, como Tibi, para apresentações no piano.
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