O Rio 40°C ficou para trás. Agora, a sensação térmica bate os 60ºC, como mostraram os termômetros antes mesmo de o verão se aproximar. Se a dois meses da estação mais quente do ano já foi possível sentir as altas ondas de calor assolando a cidade e causando mudanças nos hábitos, o que se pode esperar para os próximos dias, em que de fato a primavera irá embora, é que cariocas e turistas tenham que aderir a novas táticas para se refrescar.
Algumas delas já começaram a aparecer como tendências para a estação que chegará dia 22: o happy hour saiu do bar e foi para o quiosque, de noite, em frente ao mar. Acontece, por exemplo, no Ginga, do Leme. Em outro ponto da orla, na Praia do Pepino, em São Conrado, uma festa com DJ aconteceu na última sexta-feira, desde as 14h até a noite: a Soga Sunset. E há ambiente para dois públicos: o que prefere se sentar na cadeira de praia e ter a “experiência completa” ou o que acha melhor tirar o pé da areia para bebericar no calçadão.
Quando o sol se põe
Existe ainda a turma do banho de lua, que não tem pressa de ir embora e leva seus próprios quitutes para a praia, mesmo sem festa.
— As luzes acendem, a gente fica conversando, descontraindo, bebendo, o pessoal continua jogando frescobol... O nosso grupo se reúne pelo menos uma vez por semana e fica. Acho que vai ser uma coisa bem mais comum daqui para a frente — diz a chefe de cozinha Helena Silva, de 54 anos, que mora no Leme, na Zona Sul.
![Bike boat, uma modalidade de esporte praticada no Aterro do Flamengo — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/iVMDGBmEZx9fKUPhPSRiRIFKv48=/0x0:1555x1037/1008x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/u/A/7yuG24QV6Sr165Fj9rgA/105302281-ri-rio-de-janeiro-rj-14-12-2023-tendencias-e-novidades-do-verao-bike-boat-uma-moda.jpg)
- Após pedidos do estado e da prefeitura: Presidente do TJ revoga liminar que proibia apreensões de menores sem flagrante a caminho da praia
Quando o assunto é esporte, surge uma onda no novo point do Rio, a Praia do Flamengo, também chamada de Brejão ou Caribrejo: o bike boat. O banhista pedala sobre duas boias que lembram as famosas bananas e vai pegando um ventinho enquanto se exercita.
Na altura do Posto 3, o serviço é oferecido pelo SUP Club Rio, de Rodrigo Fragata. O valor por meia hora de pedalada sobre as águas é R$ 50; uma hora custa R$ 80. A estudante Thalita Domenica, de 15 anos, experimentou a novidade:
— Nunca tinha feito nada no mar sem ser mergulhar. Pedalar na água é uma experiência completamente diferente. É bem tranquilo e fácil, até para quem não sabe nadar. Dependendo do vento e de como as ondas estão, a gente consegue ir controlando.
Bem na foto
Em julho deste ano, a Praia do Flamengo se manteve própria para banho em 89% das coletas daquele mês divulgadas num boletim do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), atraindo cada vez mais frequentadores. O padrão de segurança estipulado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é acima de 80%.
— Geralmente, a gente vem em dias úteis, entra no mar... Nos fins de semana, temos evitado, porque a praia fica lotada. Eu trago as crianças porque é mais tranquilo mergulhar, mas acho que essa questão da limpeza ainda pode melhorar — diz Gabrielle Santos, de 32 anos.
Do Arpoador ao Leblon, os frequentadores têm um novo hobby: eternizar as memórias nos cliques de uma polaroide e levar para casa sua imagem no cartão-postal.
— Além dos turistas, a galera mais jovem costuma comprar muito. É uma lembrança, né? — diz o vendedor Paulo Ferreira, de 22 anos, que divulga os trabalhos no Instagram @grao_de_areiarj.
![Paulo Ferreira, de 22 anos, vende fotos polaroid para turistas nas praias do Rio. — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/fT74QfB6yWHtaBgKKRIxVzoq9ao=/0x0:1541x1029/1008x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/C/I/b4BQBTTou374I96JhMIw/105308382-ri-rio-de-janeiro-rj-15-12-2023-tendencias-do-verao-2024-paulo-ferreira-de-22-anos.jpg)
O bairro das novelas de Manoel Carlos também tem outro hit da estação: o chuveiro no barzinho. Por ali, a novidade refrescante fica no Babá Leblon.
— O chuveiro é disputado na saída da praia por surfistas e banhistas. A gente brinca dizendo aos visitantes que venham, nem que seja “à milanesa”, em alusão à areia da praia. A ideia é criar um clima meio Grécia, meio calçadão, com uma varanda que dá a sensação de estar em casa — conta o empresário Well Aguiar.
- 'Por Um Natal Melhor': Voz das Comunidades distribui 1.600 cestas básicas nos Complexos do Alemão e da Penha
A “trend” de água corrente chega também a points noturnos. O bar Calma, em Botafogo, inaugurou sua queda d’água em novembro; o Nau Cidades, na Zona Portuária, acomodou seu chuveiro na parte externa das pistas de dança; e o Circo Voador promete colocar o “Xuverão” para funcionar em janeiro.
![Well Aguiar é o sócio-proprietário do bar que tem um chuveirão na varanda — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/kR3jTjGyWoa-XSMeWKlN2oAaJPk=/0x0:1680x1120/1008x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/N/T/kuZ3rURqKZivcsZKwYwQ/105308490-ri-rio-de-janeiro-rj-15-12-2023-tendencias-do-verao-2024-baba-leblon-well-aguiar.jpg)
Líquido por fora e líquido para dentro são as regras para as altas na temperatura. E, se há quem procure entrar debaixo d’água para buscar um refresco, para o calorento que deseja uma água que passarinho não bebe a pedida do verão é o drinque Fitzgerald. Jonas Aisengart, sócio do Pope, em Ipanema, e do Quartinho Bar, em Botafogo, explica por que a bebida é a cara do verão:
— Ela combina o refresco do drinque batido com limão com um dulçor mais baixo, que o gim e o bitter controlam bem.
De frente para o mar, o milho no prato faz a cabeça dos banhistas, assim como as empanadas argentinas. Nos quiosques, o queridinho é o gourmetizado atum selado, que aparece sobretudo em pratos com salada. E a bebida mais tradicional das praias do Rio, o mate, será acompanhado de novos sabores, que deixam o clássico limão para trás: maracujá, gengibre e hortelã.
— O maracujá está uma febre, acaba rápido. O que mais sai é a bebida metade mate, metade maracujá— conta o vendedor Carlos Menezes.
Boca a boca
Os modismos na cidade não estão só nas tendências gastronômicas e comportamentais para a estação. Eles também aparecem no vocabulário. Das comunidades para o asfalto, algumas palavras têm aparecido nas conversas dos jovens. “Né segredo”, impulsionada pelos vídeos do influenciador digital Thiago Break, significa que algo “não é novidade”. Ele, que tem 23 anos, conta que criou a expressão ao ouvir um amigo.
— Ele estava me explicando uma coisa e disse “não é mistério”. Aí eu fiquei com isso na cabeça e pensei: vou criar algo parecido. Aí veio “né segredo” — diz o ex-camelô, que também criou “um papo só”, que tem a mesma intenção de mandar a real, como “papo reto”.
![Fita colorida em bronzeamento na laje da Erika Bronze — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/8S2NtISI8NV6hV0A15YfsSlM4W4=/0x0:1680x1120/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/Y/u/bJhEOmRUamHY5r4nByVg/105300629-ri-rio-de-janeiro-rj-14-12-2023-tendencias-e-novidades-do-verao-fita-colorida-no-b.jpg)
E quem lembra que nove anos atrás começou a febre do biquíni de fita para o bronzeamento na laje? Agora, a tendência é usar as fitas com cores e estampas. Na laje da Erika Bronze, em Realengo, na Zona Oeste, só dão elas.
— Sou do tempo que só existia a fitinha preta para bronzear. As coisas foram mudando e eu sigo aqui. Eu não abro mão de retocar minha marquinha. Faço de 15 em 15 dias — diz Kelly Castro, de 47 anos, representante comercial.
Nas praias da Zona Sul, as peças do momento para as garotas são os biquínis de crochê. Nas unhas, a aposta é no esmalte cintilante ou metalizado de cores fortes. Para proteger todos os mortais do sol, o bucket — ou chapéu de pescador — é o item badalado.
No calçadão de pedras portuguesas, uma fila incomum chama atenção. Picolés italianos passaram a ser vendidos em um quiosque em Ipanema, e a aglomeração nas últimas semanas mostra que a tendência é a procura aumentar. E, para os pets também terem a chance de se refrescar, o bar Bonifácio e Berenice, no Leblon, oferece o “doglé”, o picolé para cachorros.
Se o assunto é acessório de mão, o leque mostrou que veio para ficar. Em urgências, há quem use um adereço inusitado: ventilador portátil. É o caso do universitário Antônio Arraes, de 21 anos:
— Eu suava muito, passava mal. Comprei por R$ 7 na internet. Foi muito útil e me salvou — conta ele, sobre mais uma das estratégias do carioca para driblar a sensação térmica que rebatiza o Rio, agora 60ºC.
Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio