Na última semana da campanha nacional lançada pelo Ministério da Saúde para vacinar crianças de 1 a 4 anos contra a poliomielite, apenas 809 doses foram aplicadas em Niterói, o que corresponde a 5% do público que deve ser imunizado na cidade. A prefeitura diz que se empenha para atingir os pequenos ainda não vacinados antes da data final.
A imunização na cidade está disponível nas policlínicas regionais, nas unidades básicas de saúde e nos módulos do Programa Médico de Família, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Os responsáveis devem levar a caderneta ou comprovante de vacinação das crianças.
A poliomielite, ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada por um vírus que vive no intestino. Pode afetar crianças e adultos através do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca de pessoas infectadas. Os casos mais graves provocam o comprometimento do sistema nervoso, levando à paralisia dos membros e alterações nos movimentos, e pode ser fatal.
Apesar de não registrar casos de poliomelite desde 1989 e ser certificado desde 1994 como área livre da circulação do poliovírus selvagem, o Brasil foi classificado como região de alto risco para sua reintrodução. A análise foi feita pela Comissão Regional para a Certificação da Erradicação da Poliomelite na Região das Américas (RCC). Daí o o lançamento da campanha de vacinação pelo Ministério da Saúde, iniciada em 27 de maio em todo o país.
Ana Eppinghaus, médica e coordenadora de Vigilância em Saúde da Fundação Municipal de Saúde de Niterói, explica que a vacinação é fundamental para a redução do risco de reintrodução do poliovírus no Brasil.
— A campanha contra a poliomielite contribui para oportunizar o acesso às vacinas, reduzir os bolsões de não vacinados e aumentar as coberturas vacinais — explica ela.
Mudança no esquema vacinal
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente a vacinação contra a poliomielite no Brasil é feita com dois tipos de vacina, a vacina inativada poliomielite (VIP), que é injetável; e a vacina oral poliomielite (VOP). Conforme a orientação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a vacinação é indicada para crianças a partir de 2 meses até menores de 5 anos de idade. Pela recomendação do Calendário Nacional de Vacinação, o esquema vacinal é composto de três doses de VIP, administradas aos 2, 4 e 6 meses de idade, além de mais dois reforços com VOP, aos 15 meses e aos 4 anos de idade.
Ana explica que o Brasil está em fase de transição no esquema vacinal contra a poliomielite. Durante a campanha em vigor, as crianças são imunizadas apenas com a VOP.
— Realizar esta campanha neste momento é muito importante. Por tudo isso e pela saúde do seu filho, leve-o ao posto de vacinação mais próximo da sua casa e não esqueça do cartão de vacinação — apela a médica.
Mitos em torno da vacinação
Parte do motivo para que as campanhas contra a poliomelite tenham baixa adesão é a crença equivocada de que a vacina oral pode desencadear a doença na criança. Isso porque o imunizante, usado nas campanhas, é feito com o vírus atenuado. A médica Isabella Ballalai, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (Soperj), explica que ele é seguro e esclarece o motivo da mudança no esquema vacinal adotada pelo Ministério da Saúde.
— A pólio oral continua sendo uma vacina segura e muito importante. É a vacina recomendada para campanhas. O motivo de o Ministério da Saúde retirá-la do calendário de rotina, substituindo-a pela pólio inativada, é que o vírus atenuado da pólio oral vai para o intestino e pode ser eliminado pelas fezes. Essas fezes com vírus atenuados vão cair no ambiente, no esgoto, e o vírus pode sofrer mutação e aí causar a doença — detalha.
Com a nova vacina, que usa o vírus inativado, explica a médica, elimina-se a possibilidade de o agente causador da doença sofrer uma mutação ao ser descartado no ambiente e causar a doença. Além disso, a pediatra explica que caso a criança precise tomar depois a vacina atenuada não terá qualquer manifestação ou doença, porque já estará protegida com a vacina.
— É muito importante que as pessoas entendam que esse risco de uma criança desenvolver a poliomielite ao tomar a vacina com o vírus atenuado era de uma criança em 1,2 milhão de doses aplicadas, e que foi graças à vacina oral que a gente eliminou a pólio do Brasil — destaca. — Hoje a gente já tem a pólio eliminada de grande parte do planeta e controlada em alguns países. Não faz mais sentido correr esse risco, ainda mais tendo a vacina inativada.
Inscreva-se na Newsletter: Niterói