Eleições 2022
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Por Bianca Gomes e Lucas Mathias — São Paulo e Rio de Janeiro

Terceira colocada na disputa pela Presidência, a senadora Simone Tebet (MDB) anunciou, em vídeo divulgado em suas redes sociais, que vai apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno. Mais cedo, ela já havia almoçado com o petista, em encontro na casa da ex-prefeita Marta Suplicy, em que entregou cinco sugestões que espera ver incorporadas ao programa de governo de Lula.

Ao anunciar seu apoio ao petista em seu discurso, Tebet afirmou que lançou sua candidatura à Presidência em meio a um clima de ódio, destacou seus mais de 4,9 milhões de votos na terceira colocação ao Planalto e disse "não estar autorizada a abandonar as ruas e as praças enquanto a decisão soberana, do eleitor, lhe autorizar".

— Pelo amor que tenho ao Brasil, à democracia e à Constituição, peço desculpas aos meus amigos que imploraram pela minha neutralidade, para dizer que o que está em jogo é muito maior que todos nós. Neste momento tão grave da nossa história, omitir-me seria trair minha história de vida pública. Não anularei meu voto, não votarei em branco, não cabe a omissão da minha neutralidade — disse a senadora.

Tebet também criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua gestão durante a pandemia, e disse que ainda mantém suas críticas a Lula, inclusive pelo pedido pelo "voto útil" na reta final da campanha presidencial.

— Depositarei nele o meu voto, porque reconheço seu compromisso com a democracia e com a Constituição, o que desconheço no atual presidente. Meu apoio não será por adesão, é por um Brasil que sonha, um Brasil de todos, com desenvolvimento sustentável, reformas estruturantes, que respeite o agronegócio e o meio-ambiente, e que defende ideias que espero ver acolhidas. Tendo sempre a responsabilidade fiscal e a âncora fiscal para atender o que é social — prosseguiu a senadora.

Entre as propostas sugeridas à campanha de Lula, Tebet defendeu medidas ligadas à educação, saúde, economia e renda, além de pedir o prosseguimento de projeto para igualar o salário entre homens e mulheres, e a igualdade racial (leia o manifesto na íntegra ao fim do texto).

— Quero finalizar dizendo que até 30 de outubro estarei na rua vigilantes. Minhas preces, por uma campanha de paz — concluiu a senadora.

Em entrevista à GloboNews, Tebet comemorou sua votação no pleito deste ano, apesar de seu desconhecimento. A senadora ressaltou que "seu amor pelo país não permite a neutralidade neste momento". Ela voltou a afirmar que, diferentemente de Lula, "o atual presidente não respeita a independência entre os Poderes". Tebet também reforçou a segurança das urnas eletrônicas e disse que, apesar de não ter contado com largo apoio político durante sua campanha, só precisa de "um caixote e um microfone".

Tebet também contou ter contestado, em conversa com o ex-presidente Lula, sua estratégia pelo "voto útil", que considera legítimo, mas não "sem apresentar propostas ao povo brasileiro". Ainda segundo ela, o apoio não se deu condicionado a cargos, mas pelo futuro do país.

— Em nenhum momento foi apresentado o pleito por cargos e sequer aceitaria essa discussão. Não quero cargos, ministérios, mas quero o Brasil que seja para todos —

À colunista do GLOBO Vera Magalhães, Tebet já havia afirmado que sua decisão, de apoiar Lula, "não é por adesão, é por um projeto de país". Participaram do almoço nesta tarde também a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, mulher do petista, o candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o candidato ao governo paulista pelo PT, Fernando Haddad.

Antes de oficializado, porém, o apoio foi pacificado no partido. Desde o início da campanha eleitoral, Tebet deixou claro que o principal adversário na disputa era o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas a projeção era de que a conversa com Lula definisse se o apoio à sua candidatura será protocolar e crítico ou se virá acompanhado de uma maior participação no processo eleitoral, afirmam pessoas próximas à senadora.

Tebet e Alckmin se encontraram ontem, em São Paulo — Foto: Divulgação
Tebet e Alckmin se encontraram ontem, em São Paulo — Foto: Divulgação

Nesta terça-feira, antes de se encontrar com Lula, Tebet esteve com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), também na capital paulista, como mostra foto obtida com exclusividade pelo GLOBO. Como o petista e a senadora não têm uma relação pregressa, Alckmin atuou como um intermediário para inaugurar uma conversa entre os dois. O ex-governador paulista e a senadora compartilham pensamentos políticos semelhantes, e Alckmin é visto de fora como a figura que melhor representa o centro democrático na campanha do petista.

Veja na íntegra o manifesto lido por Tebet:

MANIFESTO AO POVO BRASILEIRO

Apresentei minha candidatura à Presidência da República diante de um país dividido pelo discurso do ódio, da polarização ideológica e de uma disputa pelo poder que não apresentava soluções concretas para os problemas reais do povo brasileiro. Minha intenção foi construir uma alternativa a essa situação de confronto, que não reflete a alma e o caráter da nossa gente.

As urnas falaram. O povo brasileiro fez sua voz ser ouvida. Cumpriu-se o rito da Constituição, que hoje completa 34 anos. Venceu a democracia. Tive 4.915.423 votos, pelo que agradeço, do mais fundo do coração, por cada um deles.

Aprendi, ao longo de minha vida política, que não se luta apenas para vencer, mas para defender projetos, disseminar ideias, iluminar caminhos, plantar boas sementes para uma colheita coletiva.

O eleitor optou por dois turnos.

Em face de tudo o que testemunhamos no Brasil dos últimos tempos e do clima de polarização e de conflito que marcou o primeiro turno, não estou autorizada a abandonar as ruas e praças, enquanto a decisão soberana do eleitor não se concretizar.

A verdade sempre me foi companheira, não será agora que irei abandoná-la. Critiquei os dois candidatos que disputarão o segundo turno e continuo a reiterar as minhas críticas. Mas, pelo meu amor ao Brasil, à democracia e à Constituição, pela coragem que nunca me abandonou, peço desculpas aos amigos e companheiros que imploraram pela neutralidade neste segundo turno, preocupados que estão com a eventual perda de algum capital político, para dizer que o que está em jogo é muito maior que cada um de nós. Votarei com minha razão de democrata e com minha consciência de brasileira. E a minha consciência me diz que, neste momento tão grave da nossa história, omitir-me seria trair minha trajetória de vida pública, desde quando, aos 14 anos, pedi autorização à minha mãe para ir às ruas lutar pelas Diretas Já. Seria desonrar a história de vida pública de meu pai e de homens históricos do meu partido e da minha coligação. Não anularei meu voto, não votarei em branco. Não cabe a omissão da neutralidade.

Há um Brasil a ser, imediatamente, reconstruído. Há um povo a ser, novamente, reunido. Reunido na diversidade, antes (e sempre) a nossa maior riqueza, agora esmigalhada por todos os tipos de discriminação.

Neste ponto, um desabafo: de que vale irmos às nossas igrejas, proclamar a nossa fé, se não somos capazes de pregar o evangelho e respeitar o nosso próximo nos nossos lares, no nosso trabalho, nas ruas de nossa pátria?

Nos últimos quatro anos, o Brasil foi abandonado na fogueira do ódio e das desavenças. A negação atrasou a vacina. A arma ocupou o lugar do livro. A iniquidade fez curvar a esperança. A mentira feriu a verdade. O ouvido conciliador deu lugar à voz esbravejada. O conceito de humanidade foi substituído pelo de desamor. O Brasil voltou ao mapa da fome. O orçamento, antes público, necessário para servir ao povo, tornou-se secreto e privado.

Por tudo isso, ainda que mantenha as críticas que fiz ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em especial nos últimos dias de campanha, quando cometeu o erro de chamar para si o voto útil, o que é legítimo, mas sem apresentar suas propostas para os reais problemas do Brasil, depositarei nele o meu voto, porque reconheço seu compromisso com a Democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente.

Meu apoio não é por adesão. Meu apoio é por um Brasil que sonho ser de todos, inclusivo, generoso, sem fome e sem miséria, com educação e saúde de qualidade, com desenvolvimento sustentável. Um Brasil com reformas estruturantes, que respeite a livre inciativa, o agronegócio e o meio ambiente, com comida mais barata, emprego e renda.

Meu apoio é por projetos que defendo e ideias que espero ver acolhidas. Dentre tantas que julgo importantes, destaco cinco, tendo sempre a responsabilidade fiscal (âncora fiscal) como meio para alcançar o social:

1.Educação: ajudar municípios a zerar filas na educação infantil para crianças de três a cinco anos e implantar, em parceria com os estados, o ensino médio técnico, com período integral e conectividade, garantindo uma poupança de R$ 5 mil ao jovem que concluir o ensino médio, como incentivo para que os nossos jovens voltem à escola;

2.Saúde: zerar as filas de cirurgias, consultas e exames não realizados no período da pandemia, com repasse de recursos ao SUS;

3.Resolver o problema do endividamento das famílias, em especial das que ganham até três salários mínimos mensais;

4.Sancionar lei que iguale salários entre homens e mulheres que desempenham, com currículo equivalente, as mesmas funções. Esse projeto já foi aprovado no Senado Federal e encontra-se parado na Câmara dos Deputados;

5.Um ministério plural, com homens, mulheres e negros, todos tendo como requisitos a competência, a ética e a vontade de servir ao povo brasileiro.

Até o dia 30 de outubro, estarei nas ruas, vigilante; meu grito será pela defesa da democracia e por justiça social; minhas preces, por uma campanha de paz.

Com os meus mais sinceros agradecimentos ao povo brasileiro,

Simone Tebet

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