Washington Olivetto
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Li, não me lembro onde, que uma moça, que não sei quem é, disse que o show da Madonna em Copacabana foi a melhor e mais importante coisa que já aconteceu no Rio de Janeiro em todos os tempos. Nada contra essa moça, nem contra Madonna, que, além de competente cantora, compositora, atriz e dançarina, é uma brilhante profissional de marketing. Mas não há dúvida de que o Rio de Janeiro já viveu e continua vivendo momentos tão bons e tão importantes quanto o show da ex-Material Girl.

Vale qualquer jogo do Santos de Pelé contra o Botafogo de Mané Garrincha. Vale a foto da Leila Diniz grávida de biquíni na Praia de Paquetá. Ou as palavras e palavrões da mesma Leila, na famosa entrevista cheia de asteriscos publicada pelo Pasquim. Valem as empadinhas de camarão do Salete, na Tijuca, do Caranguejo, em Copacabana, ou o chope do Bracarense, no Leblon.

Como valem alguns dos grandes momentos do Canecão, em Botafogo: o Rei Roberto Carlos desfilando seu repertório repleto de “Emoções” e “Detalhes”, ou Milton, Chico e Caetano juntos no histórico “Milton Buarque Veloso”.

Ainda do Rio de Janeiro do passado, presente e futuro, que tal a Feijoada do Amaral só para convidados nos sábados de carnaval do Hippopotamus? Ou os aplausos para o pôr do sol inventados pelo Carlos Leonam nos fins de tarde do Posto 9 no início dos anos 1970, e repetidos até hoje? Como é repetido até hoje o delicioso couvert do Satyricon.

Madonna é ótima, mas a Gal das Dunas da Gal também era ótima, assim como foram ótimas a Nara do apartamento de Copacabana, onde foi inventada a bossa nova, e a Bethânia do show “Opinião”.

A verdade é que o Rio é foda, como são fodas os afrescos do pintor e “mulatólogo” Di Cavalcanti no Teatro João Caetano, os traços do gênio Cândido Portinari nas paredes do Ministério da Educação e as primeiras exposições das cariocas Beatriz Milhazes e Adriana Varejão.

Faz parte do Rio de todos os tempos a dupla Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes da Rua Nascimento e Silva, 107, e do botequim Garota de Ipanema, da ex-Montenegro, atual Vinícius.

Fazem parte também desse Rio a churrascaria Plataforma, no Leblon, e o Montecarlo, na Rua Duvivier, em Copacabana, que servia caipirinhas de lima-da-pérsia com pedaços de mortadela frita para os publicitários famosos da época, como o Edeson Coelho, da DPZ, e os MPM (Macedo, Petrôneo e Mafuz), num espaço elegante e requintado, logo em frente ao vagabundérrimo New Munique, onde rolavam as primeiras exibições de sexo explícito da cidade.

Ainda do Rio, e para quem acha que não existe, nem nunca existiu nada melhor que o show da Madonna, a cidade já teve a comida portuguesa do Antiquarius, que o Mick Jagger adorava, e o Antonio’s, na Avenida Bartolomeu Mitre, com os amigos Tarso de Castro, Roniquito, Carlinhos de Oliveira e Walter Clark bebendo uísque sempre na mesma mesa.

Teve também os desenhos do Millôr, do Ziraldo, do Jaguar e do Henfil.

O Flamengo de Zico, Adílio e Júnior, ganhando o Mundial Interclubes em Tóquio, em 1981, e o sagrado Ameriquinha, que sempre foi o segundo time de todos os cariocas.

Começando a ensaiar um grand finale, porque o espaço está acabando, mas esta lista não acaba jamais. São do Rio a Sucata, com shows ao vivo de Elis Regina e Wilson Simonal, o Chico’s Bar, com os pianos de Johnny Alf e Luizinho Eça, Frank Sinatra cantando no Maracanã e os históricos Zicartola, Estudantina e Bola Preta.

Assim como é do Rio a Olimpíada de 2016. E a sempre atual Banda de Ipanema.

Voltando ao passado, mas não muito, temos ainda o Chacrinha berrando “Terezinha” no Teatro Fênix, a Beija-Flor do Joãosinho Trinta, o Salgueiro de “Explode coração” e a Mangueira de “Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu”.

Assim como temos o recentíssimo “Pede caju”, da Mocidade Independente de Padre Miguel.

Neste Rio que tem de tudo, o tempo inteiro, do mais velho ao mais novo, Madonna gerou muitos empregos, deixou milhões de lucro nos cofres municipais e ampliou a visibilidade mundial da cidade. Foi, sem dúvida nenhuma, um excelente negócio. Com direito a um espetáculo grande e bonito em frente ao Copa. Onde também já fizeram grande e bonito os Rolling Stones e Jorge Ben Jor.

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