Washington Olivetto
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Na sexta-feira, 29 de março passado, Patrícia, minha mulher, Antônia, minha filha, e eu fomos de Londres para Paris passar o fim de semana. Viajamos de trem pelo Eurostar, o meio de transporte mais civilizado para esse bate e volta. Você economiza os trajetos para o aeroporto e as esperas pelos voos, muitas vezes atrasados. Sai pontualmente do centro de uma cidade e chega na hora marcada no centro da outra. Viaja confortavelmente, com boa comida, boa bebida e wi-fi a bordo.

Em Paris, que para variar estava lotada, conseguimos lugar no Hotel Costes, hotel dos chiques e modernos na Rive Droite, mais caro que meu favorito, L’Hotel, na Rive Gauche, mas mais barato que seu concorrente Le Bristol. O Costes é bem localizado, fica pertinho da Place Vendôme e do restaurante Le Soufflé, um dos mais famosos suflês de Paris. Tem uma frequência jovem e é animado sem ser barulhento.

Fomos a Paris para a inauguração da Rue du Dr. Sócrates, na recém-construída Vila Olímpica, convidados pelo Raí, irmão do homenageado. Conheci Raí quando ele ainda era garoto. Eu era vice-presidente de marketing da Democracia Corinthiana, e Sócrates, o Magrão, era o nosso grande craque. A inauguração da rua foi emocionante, com a presença de admiradores de Sócrates do mundo inteiro. A imprensa internacional estava lá, assim como a família, filhos do homenageado e brasileiros meio parisienses, como o correspondente internacional Jamil Chade e o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

O prefeito de Saint-Ouen — cidadezinha colada em Paris onde foi construída a Vila Olímpica — se chama Karim Bouamrane, e em seu discurso de inauguração da rua contou que, quando menino, morava naquela região, que era uma espécie de favela e hoje está inteiramente revitalizada. Karim lembrou que, aos 9 anos, viu o gol de Sócrates no jogo do Brasil contra a União Soviética, na Copa de 1982, e a partir daquele dia o brasileiro se transformou em seu maior ídolo futebolístico.

Aproveitamos bastante Paris e prolongamos o fim de semana até a segunda-feira à tarde. Comemos no l’Ami Louis, que adoro, no restaurante do jardim do Hotel Costes, que surpreendeu favoravelmente. Não conseguimos uma mesa para jantar, porque estava lotado, no magnífico L’Ambroisie, da Place des Voges. Não fomos também ao cassoulet do Le Benoit, meu favorito, nem ao cassoulet do La Coupole, que era o favorito de Jim Morrison, quando ele liderava o The Doors e foi morar uns tempos em Paris, onde morreu.

Mas fomos a três exposições imperdíveis: “Paris 1874 — inventando o impressionismo”, no Museu d’Orsay, “Mark Rothko”, na Fundação Louis Vuitton, e “Brancusi”, no Centre Pompidou. Entre uma exposição e outra, caminhamos por Paris, uma cidade feita para andar, tomamos um drinque pra matar as saudades no bar do L’Hotel e um chocolate quente pra matar o frio no Café Le Bonaparte.

Na segunda-feira, às 13h, almoçamos no Café de Flore. Só fomos lá porque o Kakay, habitué do pedaço, conseguiu uma mesa pra gente. Numa situação normal, seria impossível, porque as filas de espera do Flore na hora do almoço chegam a dobrar quarteirões.

Fundado em 1887, pertinho da igreja de Saint-Germain-des-Prés, quase do lado do Les Deux Magots e em frente à Brasserie Lipp, o Flore foi sempre o preferido de artistas como Pablo Picasso, escritores como Ernest Hemingway e Truman Capote, gente da moda como Yves Saint Laurent, e estrelas do cinema como Jane Fonda, Jack Nicholson, Sharon Stone e Robert De Niro.

Seus ovos cozidos, omeletes, pedaços de salmão, croques-monsieurs, croques-madames e baguettes jambon-fromage — acompanhados de taças de Gevrey-Chambertin, Chassagne-Montrachet e bons cafés — continuam os mesmos desde sua fundação. Servidos por garçons veteranos, experientes e adoravelmente mal-humorados.

Em vez de decair com o passar dos anos, o Flore só cresceu. Nos últimos tempos, virou até assunto da série “Emily in Paris” e do TikTok, o que atraiu a presença do público jovem e dos turistas asiáticos para suas mesas sempre lotadas.

Com 137 anos de idade, o Flore vive mais um auge. Brilha e dá show, como dava show a seleção brasileira de 1982, com Falcão, Zico e Sócrates de capitão.

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