Irapuã Santana
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Irapuã Santana

Doutor em Direito

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Irapuã Santana

Doutor em Direito

Nascido em 19 de maio de 1925, Malcolm X teve uma vida marcada pelas diversas violências sofridas, pelos seus erros, pelas suas quedas, mas, acima de tudo, pela capacidade de aprender e se reconstruir. Aos 6 anos, seu pai foi espancado por supremacistas brancos, colocado num trilho de bonde para ser atropelado e morreu. Sem dinheiro para sustentar os oito filhos, sua mãe foi internada num hospital psiquiátrico, e as crianças ingressaram no sistema de assistência social.

Ainda na infância, um professor lhe perguntou o que sonhava fazer quando crescesse. O garoto respondeu que desejava ser advogado, mas, apesar de excelente aluno, o professor o aconselhou a buscar algo mais real, como ser carpinteiro.

Anos depois, em sua juventude no Harlem, começou a praticar crimes, chegando a ser condenado a dez anos de prisão. Foi nesse momento que conheceu a Nação do Islã, uma organização que defendia os direitos dos afro-americanos empregando todos os meios necessários para protegê-los, inclusive a violência. Um dos seus fundamentos era a separação total entre negros e brancos. O líder dessa organização se chamava Elijah Muhammad.

O objetivo da separação entre as raças era tão intenso que, depois do julgamento da Suprema Corte americana que declarou a inconstitucionalidade das escolas segregadas, em 1954, a Nação do Islã iniciou uma aproximação com a Ku Klux Klan. Outro fato chocante é que, em 25 de junho de 1961, o Partido Nazista americano participou de uma reunião do mesmo grupo religioso, em que Malcolm X fez um discurso chamado “Separatismo ou morte”.

Um dos pontos mais marcantes de sua vida foi que, ao se converter para a Nação do Islã, Malcolm extirpou seu sobrenome Little e colocou no lugar a letra X, simbolizando a incógnita de sua origem africana. Para quem não sabe, pessoas escravizadas ganhavam um nome qualquer ao chegar às Américas e o sobrenome de seus senhores. Em suas palavras, “meu ‘X’ substituiu o nome branco do senhor de escravos ‘Little’, que algum demônio de olho azul chamado Little impôs aos meus pais”.

A forma como ele via a luta contra o racismo nesse período se encontra na passagem de sua autobiografia em que afirma ser muito mais perigoso para os negros o Norte dos Estados Unidos que o Sul. Enquanto o último era honesto e possibilitava à comunidade se unir contra um inimigo visível, o primeiro falava em democracia e integração, ao passo que deixava as pessoas negras de fora do jogo, sorrindo pela frente e prejudicando pelas costas.

Em 1963, no auge de sua popularidade, Malcolm X decepcionou-se com a organização religiosa ao descobrir que seu grande mentor, Elijah Muhammad, abusava de adolescentes e mulheres da Nação do Islã, além de outras práticas desonestas.

Foi então que, em abril de 1964, partiu em peregrinação a Meca e novamente se transformou. Ao ver gente do mundo inteiro, de diversas etnias, reunidas em torno de um único fim, Malcolm entendeu que tinha sido usado e que não poderia demonizar tudo e todos. Voltou pregando a paz, a união e, sem a vergonha de admitir seus erros, ajudou a fortalecer a luta antirracista nos Estados Unidos.

Por esse motivo, apontar antagonismo entre Malcolm X e Martin Luther King exige complementação sobre o período referido e o sentido atribuído ao posicionamento dele, depois completamente revisto.

A nova fase, porém, durou pouco tempo, até 21 de fevereiro de 1965, quando, aos 39 anos, ele foi morto com 15 tiros à queima-roupa, na frente da esposa grávida e das filhas.

Entretanto seu legado persiste, e sua história mostra que, mesmo errando, é possível ajudar o próximo e que não podemos ter vaidade para reconhecer nossas falhas e aprender com elas, porque a busca por nossa evolução pessoal e coletiva é constante e eterna.

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