Elio Gaspari
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Elio Gaspari

Jornalista e escritor

Informações da coluna

Elio Gaspari

Elio Gaspari é um jornalista e escritor. Em 2016, foi homenageado com um Prêmio Vladimir Herzog.

RESUMO

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GERADO EM: 19/06/2024 - 00:05

Desafios econômicos e estratégias de gestão no governo brasileiro

O governo reconhece a necessidade de controle de gastos após notícias ruins. Lula enfrenta desafios econômicos, mas mantém uma administração consistente. A compra de arroz importado gera controvérsias políticas. A retomada de obras paradas é vista como uma boa estratégia de gestão.

A alta do dólar, a queda da Bolsa e a confirmação de que o aumento da arrecadação era um sonho levaram o governo a admitir a relevância do controle de gastos e a consequente valorização de uma administração comprometida com o feijão com arroz.

Em dois anos de governo, o ministro Fernando Haddad teve vitórias e derrotas. Brilhou com o projeto de reforma tributária, mas seu déficit zero era lorota. Ele conseguiu restabelecer as boas relações de um governo petista com a banca.

Na segunda-feira, Haddad e Simone Tebet, sua colega do Planejamento, mostraram a Lula o dreno provocado pela distribuição de incentivos. A iniciativa tem mérito, mas não tem valor. O Sol congelará antes que um Congresso resolva podar os benefícios dados à Zona Franca de Manaus. Cada incentivo é um jabuti velho, escolado e bem relacionado.

A discussão da política de incentivos, como a taxação das grandes fortunas, é tema que lustra a biografia de quem a propõe, mas não vai a lugar algum.

Capa do audio - Vera Magalhães - Viva Voz

Infelizmente, o déficit zero era um espécie de pau do circo de Haddad: arrecadando mais, o governo poderia induzir o crescimento. Daí viriam as picanhas prometidas durante a campanha. Sem esse salto arrecadador, Lula 3.0 arrisca tornar-se um governo durante o qual a economia andou de lado.

É melhor andar de lado do que ir galhardamente na direção errada, como sucedeu com a Nova Matriz Econômica do governo de Dilma Rousseff.

Vendo que não pode gastar, Lula terá a oportunidade de se voltar para a boa administração do dia a dia. Apesar do estilo triunfalista do presidente, seu governo vai bem no feijão com arroz. Vai bem mesmo quando é comparado a outros governos, sem levar em conta o caos de Bolsonaro.

Derrapou feio na compra de arroz importado, pretendendo comercializá-lo a preços tabelados. Esse desastre só aconteceu porque no lance estava a mão peluda do interesse político.

Talvez algum petista tenha se lembrado de que, em 1962, o governador gaúcho Leonel Brizola teve mais de 200 mil votos para deputado federal na Guanabara porque vendeu arroz barato em caminhões.

Terminar obras que estão paradas é uma das boas maneiras de administrar o trivial variado. Infelizmente, ela vem sendo instrumentalizada em marquetagens.

Getúlio Vargas foi um presidente de grandes ideias, mas, lendo seu diário, percebe-se a atenção quase obsessiva com a rotina da administração.

Lula, ou qualquer político brasileiro, dispõe de um boqueirão, resgatando o agronegócio e colocando-o na galeria do orgulho nacional, como Juscelino Kubitschek colocou a indústria, no fim dos anos 1950.

Por diversos motivos, Lula jogou fora essa oportunidade, e hoje ela está em cima de um montinho de cal, dentro da pequena área, esperando que alguém bata esse pênalti.

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