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A cúpula das Forças Armadas e o Ministério da Defesa enfim decidiram abrir o alistamento militar para mulheres. A data inicial ainda não foi definida. O mais provável é que as jovens que completarem 18 anos em 2025 terão a oportunidade de se apresentar para entrar numa das Forças em 2026. A decisão marca um avanço. As Forças Armadas, como as demais instituições, devem refletir os valores mais caros da sociedade brasileira. Entre eles, a equidade entre os gêneros.

O simples fato de mulheres desejarem se alistar justifica a mudança de posição. No caso do Brasil, ainda há uma vantagem. Por terem em média mais anos de estudo, as mulheres elevarão a capacidade das Forças Armadas num momento em que estratégias e armamentos ganham em complexidade. Em 2022, 79,7% das mulheres de 15 a 17 anos frequentavam o ensino médio, ante 71% dos homens. No ensino superior, no grupo entre 18 e 24 anos, elas também eram destaque. Três em cada dez mulheres estavam numa faculdade. Entre os homens, 21%.

As mulheres integram as Forças Armadas desde o século passado, nas escolas que preparam oficiais e praças. No Exército são 6% do efetivo terrestre, na Marinha 11,5% dos cargos ativos e na Aeronáutica 21%. A experiência acumulada demonstra que será preciso se precaver contra abusos, principalmente se a procura feminina pelo alistamento for grande. A parte fácil — e imprescindível — tem a ver com infraestrutura: são necessários banheiros e dormitórios separados. O mais difícil será mudar uma cultura tradicionalmente machista, reforçar os canais de denúncia e oferecer um programa de mentoria para que as novas recrutas se sintam ao mesmo tempo seguras e confiantes nas possibilidades da carreira.

A inovação do alistamento militar não deverá arrefecer o debate sobre limites à atuação feminina. Três ações no Supremo Tribunal Federal (STF) contestam situações em que mulheres são tratadas de forma diferente, como nas avaliações para cargos com exigências de desempenho físico. A controvérsia a respeito da participação em todos os tipos de combate é global. Nos países da Otan, não há unanimidade sobre como tratar a igualdade de gênero e o imperativo da eficácia operacional. Os estudos dão indicações contraditórias sobre desempenho e coesão.

O Brasil é um dos 60 países do mundo com serviço militar masculino obrigatório. A criação da versão voluntária para mulheres é um passo na direção certa. Todas as jovens brasileiras que se sentirem inclinadas à carreira militar poderão agora aproveitar esse canal de entrada. Com isso, o universo de talentos à disposição das Forças Armadas crescerá de forma significativa. O país só tem a ganhar.

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