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A trajetória nos gramados da Espanha credencia Vinicius Jr. como favorito a ganhar a Bola de Ouro deste ano. Mas foi fora de campo que o jogador do Real Madrid conseguiu algo inédito. Pela primeira vez na história do esporte espanhol, torcedores de um time adversário, o Valencia, que o agrediram com gritos e gestos racistas durante uma partida, foram condenados à prisão pela Justiça. “Não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas”, disse Vini Jr. depois da sentença.

Há todos os motivos para celebrar as condenações. Muitos o aconselharam a esquecer as agressões e a se concentrar apenas no futebol. Vini demonstrou estar próximo de seus limites emocionais em março, ao chorar numa entrevista coletiva antes do amistoso entre Brasil e Espanha em Madrid. “Cada vez tenho menos vontade de jogar”, afirmou. “Mas, se saio daqui, estou dando o que os racistas querem.” Disse ainda que continuaria a defender a mesma bandeira antirracista, mas sem descuidar da busca de títulos. Não fez por menos: marcou um dos gols na vitória do Real Madrid sobre o alemão Borussia Dortmund por 2 a 0 na final da Liga dos Campeões, o principal campeonato do futebol europeu.

No início do ano, Vini Jr. deixava claro que contava com o apoio do Real Madrid na luta que travava fora dos gramados. Mas faltava a adesão da Liga Espanhola (La Liga), organizadora do campeonato espanhol. Seu presidente, Javier Tebas, chegou a desconsiderar as acusações de racismo feitas por Vini Jr., mas, com a repercussão negativa, teve de pedir desculpas em público. A cúpula da entidade foi forçada a se sensibilizar. Agora, ao comentar a decisão do juiz, o craque incluiu La Liga nos agradecimentos. Divulgada a sentença judicial, a entidade informou em nota que considera o fato “uma ótima notícia” e advertiu os que vão ao estádio para “insultar” de que os identificará e denunciará, para que haja “consequências criminais”. Há esperança de que a campanha de Vini Jr. seja um marco contra o racismo nos estádios.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já incluiu no Regulamento Geral de Competições a possibilidade de o clube ser punido esportivamente caso seus torcedores, dirigentes ou integrantes da comissão técnica cometam “infração de cunho discriminatório”. A súmula da partida será enviada ao Ministério Público e à Polícia Civil. Se o futebol é o esporte do povo, não pode conviver com quem desrespeita etnias, credos e orientação sexual. O mesmo vale para qualquer esporte. A bem-sucedida luta de Vini Jr. serve de exemplo no combate a essa chaga que infelizmente ainda grassa nos estádios Brasil e mundo afora.

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