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Depois das cheias no Rio Grande do Sul, está em curso novo desastre ambiental com a maior temporada de incêndios florestais dos últimos 21 anos. Até a semana passada, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) contava quase 28 mil focos de incêndio no primeiro semestre, acima do recorde de 2003. A temporada deste ano promete ser tão ou mais severa, pois a estação de incêndios, na maioria dos biomas, ocorre no segundo semestre e chega ao auge entre setembro e outubro. O pior, provavelmente, ainda está por vir.

Só no Pantanal, os focos de incêndio aumentaram mais de dez vezes em relação a 2023. E a combustão não tem se limitado a esse bioma. Ao longo dos últimos três anos, os incêndios têm varrido Cerrado e Amazônia, pondo em risco também Caatinga e Mata Atlântica. Apenas o Pampa ficou a salvo do fogo, como atestam as enchentes gaúchas.

Aproximadamente 84% dos incêndios no Pantanal são atribuídos a ação humana, segundo informou ao GLOBO a meteorologista Renata Libonati, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em geral, agricultores desejam limpar o campo e perdem o controle das chamas. Como as cinzas são ricas em nutrientes, elas também fertilizam o solo por meio da umidade noturna. Mas, com frequência, a boa intenção se transforma em tragédia.

Nem tudo deve, porém, ser debitado ao homem. No Pantanal, os 16% restantes dos incêndios se devem a causas naturais — pouco mais de 5%, a raios na vegetação seca. Na Amazônia, ainda que o desmatamento tenha caído 22% no ano passado, a seca contribuiu para fazer proliferar os incêndios. Por todo o país, a seca inclemente serve de combustível ao desastre. Sua origem está no aquecimento das águas do Pacífico, fenômeno climático conhecido como El Niño.

Neste momento, o Pacífico começa a se resfriar no fenômeno apelidado La Niña. Mas a mudança ocorre lentamente, segundo Fabiano Morelli, chefe do Programa Queimadas, do Inpe. A vegetação continuará seca, servindo de combustível às queimadas, sobretudo no Pantanal. “Como os rios não subiram quanto deveriam na estação certa, temos um mapa mostrando acúmulo de biomassa seca na região, que atua como se fosse pólvora”, diz o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck.

As autoridades têm tomado as providências de praxe. A Agência Nacional de Águas (ANA) decretou calamidade hídrica no Pantanal. O estado de Mato Grosso do Sul criou 13 postos avançados para os bombeiros. Entre outras medidas, o governo estadual suspendeu autorização para uso controlado do fogo. Não se sabe se haverá fiscais suficientes para conter os infratores.

O país não enfrenta apenas mais uma temporada de incêndios. É preciso haver mobilização de equipes, recursos e equipamentos em dimensões inéditas. O governo federal também precisa agir, em coordenação com as autoridades estaduais. É imprescindível a atuação das Forças Armadas com helicópteros para debelar as chamas. O fogo não respeita fronteiras, por isso também se faz necessário entendimento com os governos da Bolívia e do Paraguai.

Para os ambientalistas, nem todas as medidas necessárias têm sido tomadas a tempo. A situação é crítica, e a emergência tende a se agravar. Nada justifica reação lenta e burocrática do poder público.

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