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São perturbadoras as conclusões de um estudo mostrando que a grande maioria das capitais brasileiras não dá transparência aos dados sobre suas políticas públicas. Nada menos que 21 das 26 capitais estaduais foram classificadas no pior nível do levantamento da Open Knowledge Brasil. A realidade é um apagão de informações em áreas críticas como educação, saúde, finanças, meio ambiente, infraestrutura ou administração. Lamentavelmente, a transparência de dados, que deveria ser regra, virou exceção.

As capitais receberam uma pontuação de 0% a 100%, o Índice de Dados Abertos (ODI) para Cidades 2023. Com base em 111 conjuntos de informações sobre 14 áreas da administração e sobre a governança dos dados, foram classificadas em cinco níveis de abertura: opaco, baixo, médio, bom e alto. Escaparam do pior nível apenas São Paulo, Belo Horizonte (ambas no médio), Recife, Curitiba e Fortaleza (baixo).

Nenhuma cidade atingiu 50% na pontuação. São Paulo, líder no ranking, alcança melhor avaliação nos dados sobre finanças públicas (78%) e educação (75%). Belo Horizonte, a segunda, tem bom desempenho nas informações sobre infraestrutura (84%) e assistência e desenvolvimento social (76%). A educação, que costuma ocupar os primeiros lugares na lista de preocupações dos brasileiros, concentrou o maior grau de opacidade. “É um contexto preocupante, que nos faz questionar: se a situação nas maiores cidades do país é essa, como será o cenário nas outras?”, diz a coordenadora de Advocacy e Pesquisa da Open Knowledge Brasil, Danielle Bello.

Não é razoável que cidades não divulguem dados sobre suas políticas públicas. Neste ano haverá eleições municipais, e os eleitores têm direito de saber o que se passa em seus municípios. Os dados são importantes não só para os candidatos trabalharem com cenários reais, mas também para as autoridades de controle e fiscalização acompanharem como é aplicado o dinheiro do contribuinte. Seria péssimo se informações fossem sonegadas para não abastecer adversários políticos. É um equívoco imaginar que os dados pertencem a governos. Eles são dos cidadãos.

Informação é matéria essencial na gestão pública. As respostas do poder público às chuvas que afetaram quase todos os municípios do Rio Grande do Sul ensejaram diversos questionamentos sobre a atuação dos gestores. Está claro que não houve prioridade às medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, preservar vidas e reduzir danos. Para citar apenas um exemplo, o sistema antienchentes de Porto Alegre não recebeu a manutenção adequada e entrou em colapso, impondo sofrimento à população e causando prejuízos.

Esse é apenas um exemplo da importância de a sociedade acompanhar de perto o que acontece em suas cidades. Para isso, informações são essenciais. O apagão de dados deixa a sociedade sem rumo. Quando se percebe o erro, nada há a fazer senão lamentar.

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