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A opinião do GLOBO.

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Há cinco anos o Brasil está entre as dez piores posições no ranking de competitividade do International Institute for Management Development (IMD), da Suíça. Na última edição, ocupa a 62ª posição num total de 67 países, à frente apenas de economias desajustadas como Nigéria ou Venezuela. Um olhar sobre o histórico recente da produtividade mostra onde estão as deficiências. Em 1980, eram necessários dois brasileiros para produzir tanta riqueza quanto um americano. Hoje é preciso quatro.

Quando se discute a pobreza persistente no Brasil, muito se fala na necessidade de ampliar e aprimorar programas sociais. Eles são necessários no presente, mas insuficientes para o futuro. Pouco se discute o principal indicador que traduz o atraso da nossa economia: a produtividade. Desde 2010, ela cresceu 0,3% ao ano, acima apenas da década perdida nos anos 1980. Nos últimos 13 anos, o investimento na produção aumentou pouco, e a alocação de recursos perdeu eficiência.

O único ponto positivo foi a melhora na escolaridade da mão de obra. Mas, enquanto não se forma força de trabalho para uma economia moderna, ainda proliferam ocupações mal remuneradas que não geram riqueza e já desapareceram em economias avançadas: porteiros de prédios, cobradores de ônibus, ascensoristas, flanelinhas etc.

Outra causa da produtividade baixa é a insegurança jurídica. Os litígios tributários no Brasil não encontram paralelo no mundo. No ano passado, por iniciativa do governo, o Congresso aprovou a reforma tributária. Em vez de acelerar a regulamentação, os parlamentares andam em marcha lenta. O resultado é incerto, uma vez que grupos de interesse trabalham noite e dia para entrar em listas de exceções e conquistar benefícios. Reservas de mercado e regimes especiais diminuem a competição e premiam empresas menos produtivas. As que obtêm regalias alcançam êxito financeiro porque pagam menos imposto, não porque investiram para produzir melhor.

Um dos principais problemas da economia brasileira é a permanência no mercado de empresas pouco produtivas, diz Fernando Veloso, coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli. Como elas absorvem capital e mão de obra, atrapalham o desempenho das mais eficientes. Isso é um freio para a competitividade. O governo insiste em privilegiar áreas em que o Brasil jamais atingirá patamar alto de produtividade, como as indústrias naval ou de semicondutores. Enquanto isso, nosso setor mais vibrante e produtivo — fruto de investimentos em pesquisa e tecnologia — é o agronegócio.

A ideia de que a salvação está em crédito barato à custa do contribuinte já se revelou equivocada. Outro engano é priorizar a indústria, quando o setor de serviços concentra 70% da mão de obra, dois terços do PIB e tem problemas de produtividade. Sem avaliar o resultado de políticas públicas que deram errado, jamais daremos um salto necessário de competitividade.

A baixa produtividade é raiz da pobreza brasileira. Está nela a explicação para a renda per capita ter crescido mero 0,2% ao ano entre 2010 e 2023. Mantido esse ritmo, o brasileiro só dobrará de padrão de vida no distante ano de 2368. Para acelerar, é necessário criar um ambiente de negócios com mais competição, previsibilidade jurídica e educação de qualidade. Acima de tudo, é essencial ter senso de urgência. Não dá para esperar até 2368.

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