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GERADO EM: 08/07/2024 - 00:05

Paz e coexistência entre árabes e judeus em Israel

A autora, árabe-israelense, condena as ações violentas do Hamas, defende a integração e empatia entre árabes e judeus em Israel para promover a paz e a coexistência.

Qual é a sensação de ser árabe em Israel neste momento? Em uma palavra: horrível.

Passei a maior parte da minha vida no norte de Israel, um modelo de coexistência onde judeus e árabes vivem juntos em harmonia. No entanto, hoje, pela primeira vez, entendo por que os judeus têm medo de nós.

Como todos os israelenses, acompanhei de perto as notícias de 7 de outubro, quando terroristas do Hamas se infiltraram no país, assassinaram e raptaram indiscriminadamente homens, mulheres, crianças, idosos, judeus, árabes e estrangeiros. Desde então, os números esmagadores ficaram gravados na nossa memória: mais de 1.200 pessoas assassinadas e 240 feitas reféns.

Quando vi uma idosa ser sequestrada e levada para Gaza, pensei que poderia ter sido minha própria mãe, que tem agora 95 anos. Quando li notícias sobre o massacre de crianças pequenas, pensei nos nossos filhos, as crianças árabes. Quando vi as fotos de árabes e beduínos mortos ou feitos reféns, vi a mim mesma. O Hamas não fez distinção entre judeus e árabes: para o Hamas, todos eram israelenses.

Nesse contexto, é compreensível a paranoia, a tensão e o medo que os judeus sentem quando encontram os árabes. Como investigadora que estuda o funcionamento do cérebro humano, posso dizer que, quando ele está sob estresse considerável, é normal que reaja generalizando excessivamente seu ambiente.

Capa do audio - Linha Aberta - Carlos Alberto Sardenberg

Há anos trabalhamos para integrar a sociedade árabe ao mundo acadêmico e ao sistema de saúde. Nesses dois setores, obtivemos sucesso fantástico, com judeus e árabes trabalhando juntos, lado a lado. Depois de 7 de outubro, corremos o risco de esse sucesso ruir. Os judeus me temem, eles nos temem. E a culpa é do Hamas.

As pessoas me perguntam: você não sente pena do povo de Gaza e do que acontece com ele? Claro. Todos os dias penso nas crianças de Gaza que choram pelas suas mães, como não consigo deixar de imaginar as crianças judias mantidas em cativeiro pelo Hamas. Também aqui o Hamas é culpado de usar crianças, mulheres e idosos como escudos humanos, forçando-os a permanecer sob bombardeio, aterrorizando seu próprio povo e sendo responsável pelo deslocamento dos habitantes de Gaza de suas casas.

Mostrar empatia por uma das partes num conflito não nega a capacidade de simpatizar com a outra parte. Pelo contrário, mostra que você é humano. Os árabes não têm de escolher um lado nesse conflito. Pelo bem da humanidade, imploro à comunidade árabe que avance e compreenda a narrativa judaica de forma inteligente e responsável, como temos pedido a eles que entendam a nossa há 75 anos. Pela primeira vez, como minoria árabe, somos convidados a ter empatia e a compreender a narrativa da maioria.

No dia 7 de outubro, o Hamas fez muito mais do que matar 1.200 pessoas. Também atrasou qualquer esperança de paz, preparando-nos todos para uma nova era de violência. Mas, para cada tragédia, existe um raio de esperança. Uma pesquisa recente do Instituto de Democracia de Israel (IDI) revela que 70% dos árabes-israelenses se identificam com o Estado de Israel. O IDI estima que tal porcentagem seja a mais elevada desde que começou a fazer essa pergunta, em 2003. Isso mostra que a comunidade árabe de Israel aspira a tornar-se mais integrada à sociedade e a distanciar-se de atores de má-fé como o Hamas.

Árabes e judeus israelenses são como sal e pimenta: ambos têm seu lugar na mesa e, uma vez espalhados num prato, é quase impossível diferenciá-los. Devem trabalhar uns com os outros, engajando-se num diálogo construtivo e compreendendo que, quando se trata de coexistência e compartilhar a vida, não há nada a temer. Juntos, somos mais poderosos.

*Mouna Maroun, professora, é vice-presidente e reitora de pesquisa da Universidade de Haifa. Ela é a primeira mulher de sua cidade natal, Isfiya, a obter um doutorado e a primeira árabe em Israel a ocupar uma cátedra em ciências naturais

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