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Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 07/07/2024 - 00:05

Empresas investem em IA confiável

Empresas de tecnologia estão investindo em inteligência artificial ancorada em informações confiáveis, como jornalismo e ciência. A tendência é valorizar a credibilidade e a qualidade da informação processada, aproximando o mundo virtual do real.

A ideia da “nuvem” como território etéreo, não material, da internet, tem nos colocado entre o céu e a terra, contrapondo o mundo virtual ao mundo real.

A imagem se justifica num cenário de desinformação que não contamina apenas a maneira como vemos o mundo, mas parece questionar a própria realidade. Um risco que o surgimento de ferramentas de inteligência artificial (IA) pode agravar, com a facilidade de produção — e falsificação — de todo tipo de conteúdo, texto, imagem, áudio.

A tecnologia, por si, já sabemos faz tempo, não define seu valor, mas o uso que fazemos dela sim.

O debate nos últimos dias tem se concentrado na forma como serão alimentados os programas de IA. Se as empresas de tecnologia arrastarão todo o conteúdo existente na rede, como acontece hoje nas plataformas digitais, ou se basearão em informações confiáveis, produzidas por jornalismo, universidades e a ciência. E as notícias parecem ser boas.

As plataformas digitais e mídias sociais se desenvolveram ao oferecer todo e qualquer conteúdo disponível — notícias, fake news, dancinhas, memes e mentiras — como se fosse a mesma coisa, numa estratégia para capturar a atenção do público pelo fluxo infinito de informações. Esse modelo afetou a mídia tradicional, que perdeu recursos e o papel de moderação da notícia.

Capa do audio - Pedro Doria - Vida Digital CBN

Mas, agora, na hora em que as big techs desenvolvem seus produtos de IA, o caminho da credibilidade parece se renovar. As empresas de tecnologia, que sempre refutaram pagar pelo conteúdo dos jornais, percebem que pode ser bom negócio sair da “nuvem” para ancorar seus produtos no mundo real. A OpenAI costurou acordo com a Time para que o ChatGPT possa acessar conteúdo da revista. Já tinha feito o mesmo com a News Corp, detentora de títulos como The Wall Street Journal e The New York Post. Constrói, dessa forma, um banco de dados consistente para orientar seus robôs.

Recobra-se, assim, um valor do jornalismo: o vínculo com os fatos, a realidade e a credibilidade da fonte. A ferramenta de IA terá maior ou menor valor de acordo com a qualidade da informação que processa. A tendência é que a USP possa ter sua ferramenta. A Fiocruz, a sua. Como O GLOBO agora acaba de lançar o projeto Irineu, de uso de IA, se valendo do conteúdo de cem anos de jornalismo.

O filosofo Roland Barthes, um dos mais importantes pensadores da comunicação, considerava que a fotografia jornalística, que conferia valor aos jornais, não é uma coisa em si. Ela precisa carregar uma legenda, que informe o seu contexto, assim como o próprio veículo que a publica vai lhe emprestar valor. Comparava um jornal tradicional a uma publicação sensacionalista. Não havia ainda Facebook, X, Instagram ou TikTok...

O mercado da IA já movimenta bilhões de dólares e apenas engatinha. Que produtos se destacarão? Que valor o usuário espera encontrar neles? Que novos hábitos estabelecerão no consumo de informação? O desenvolvimento da internet nem sempre foi linear. Basta lembrar que empresas como Orkut e Napster, entre outras tantas, ficaram para trás. Que empresas liderarão o futuro digital?

As ferramentas de IA lançam uma âncora para aproximar o mundo virtual do mundo real, quando sabemos que o mundo é um só, e não há mais atividade entre nós que não seja mediada por algum meio de comunicação digital. Sempre há tempo para recobrar a razão.

*Luiz Claudio Latgé é jornalista

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