Artigos
PUBLICIDADE
Artigos

Colunistas convidados escrevem para a editoria de Opinião do GLOBO.

Informações da coluna

Artigos

Artigos escritos por colunistas convidados especialmente para O GLOBO.

Por

‘A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles.’ Assim escreveu o filósofo britânico Karl Popper em seu livro “The open society and its enemies”, de 1945.

Não deveria ser difícil entender que, se os intolerantes forem tolerados por completo, a fim de, em nome da democracia e da pluralidade, incluí-los no debate e na convivência legítima do senso comum, isso poderá levar ao fim da tolerância, da democracia e da sociedade em geral. Hitler, como exemplo, usou a democracia tolerante para impor, depois de eleito, o fim da tolerância. Levou o planeta para a pior guerra da História da humanidade, com 60 milhões de mortos, incluindo o genocídio de 6 milhões de judeus.

Democratas com valores universais de tolerância não gostam de guerras. Democracias sempre escolherão a paz em detrimento da guerra, e ditaduras e teocracias a guerra, em detrimento da paz. Duas democracias jamais entraram em guerra na História. O mesmo não se pode dizer sobre as guerras e violência entre ditaduras e delas contra democracias.

Oito meses depois do atentado macabro do Hamas em Israel no dia 7 de outubro, o mundo tolerante já deveria ter entendido algumas premissas básicas e factuais sobre o que aconteceu nesse fatídico dia e sobre a guerra que se iniciou e se alastra até os dias atuais. Israel não luta uma guerra contra a população palestina ou contra o nacionalismo palestino. Apesar de muitos “especialistas” em Oriente Médio tentarem enfiar goela abaixo uma narrativa superficial e binária, os israelenses lutam contra um grupo terrorista que transformou o enclave palestino numa base militar de proporções épicas, lotada de túneis, armas, mísseis e uma legião de seguidores, com um único objetivo: lutar até a morte contra Israel, custe o que custar.

Capa do audio - Linha Aberta - Carlos Alberto Sardenberg

O site de notícias israelense N12 exibiu no dia 11 de junho mensagens que Yahya Sinwar, líder do Hamas em Gaza, enviou à liderança do grupo em Doha. Numa das mensagens, Sinwar se refere aos milhares de mortes em Gaza como “um sacrifício necessário”. Grupos terroristas fundamentalistas usam sua população como escudo para evitar que os destruam. Se não for essa, qual seria a explicação para manter reféns israelenses em bairros densamente povoados ou na casa de civis?

Israel luta uma guerra por motivos óbvios: libertar os reféns e destruir a ala militar do Hamas para que novos atentados jamais se repitam. Se o Hamas perder, será bom para Israel e bom para o nacionalismo palestino, pois esse resultado abrirá caminho a uma negociação entre israelenses e palestinos moderados. Em suma, é bom para os tolerantes e péssimo para os intolerantes.

Já é tarde para o mundo tolerante, incluindo parte da esquerda democrática mundial, que apoia a legítima causa palestina, entender o que houve no dia 7 de outubro: o ataque de um grupo nefasto contrário ao mundo tolerante e democrático. Onde estão os tolerantes democráticos para rejeitar que uma bandeira do Hamas seja erguida em protesto solidário aos palestinos mortos em Gaza? Que silêncio é esse, por parte de muitos pró-palestinos que se dizem democráticos e tolerantes, na hora de lembrar que o cessar-fogo precisa estar acompanhado da libertação dos 120 reféns israelenses, incluindo bebês e mulheres? Onde estava sua indignação quando se tornaram públicos todos os estupros e crimes sexuais cometidos contra mulheres pelo Hamas e cúmplices? Onde estavam seus gritos de ordem e protestos nas universidades, quando o Hamas, desde 2001, atira foguetes contra a população civil de Israel?

Israel não é perfeito, e seu atual governo coleciona críticas, sobretudo de israelenses. Mas numa guerra em que uma das partes é um país democrático tolerante e a outra um grupo fundamentalista, intolerante e bárbaro, é dever da sociedade tolerante apoiar o tolerante, pois, se o intolerante vencer, será o fim da tolerância.

*André Lajst é cientista político, presidente executivo da StandWithUs Brasil e doutorando na Universidade de Córdoba (Espanha), no programa de ciências sociais e jurídicas, com foco no processo de paz palestino-israelense

Mais recente Próxima Crise hídrica no Sudeste não é página virada