Congressistas democratas se reuniram a portas fechadas nesta terça-feira para discutir se o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deve continuar na corrida pela reeleição após a sua desastrosa participação no debate contra o republicano Donald Trump, assistido por mais de 51 milhões de americanos. Em coletiva após o encontro, o porta-voz dos democratas na Câmara, Pete Aguilar, disse que bancada estará observando de perto os movimentos do mandatário de 81 anos ao longo da semana para avaliar a viabilidade da sua candidatura.
Em paralelo às discussões entre congressistas, Biden recebe esta semana os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para uma cúpula que celebra os 75 anos da aliança em Washington. Na quinta-feira, último dia do evento, o presidente americano dará uma coletiva de imprensa com o desafio de com o desafio de reverter a percepção que se formou de que está idoso demais para o cargo, num momento em que todos os olhares estarão voltados para ele.
— Vamos ver — disse Aguilar, referindo-se aos próximos eventos de Biden. — Vamos ver a coletiva de imprensa. Vamos ver as viagens de campanha. Vamos ver tudo isso, porque tudo isso será necessário.
Segundo relatos da mídia americana, telefones foram proibidos para evitar vazamentos em tempo real durante o encontro entre os deputados, convocado pelo líder da minoria democrata na Câmara, Hakeem Jeffries. A reunião terminou sem que se chegasse a um consenso capaz de forçar o presidente americano a reconsiderar sua candidatura, informou a imprensa.
— Ele não deve colocar em risco seu legado e nos entregar a um tirano — disse Lloyd Doggett, do Texas, o primeiro democrata a pedir que Biden se afastasse, após a reunião desta terça.
Richard Neal, de Massachusetts, chamou a reunião de uma sessão de escuta e estava entre os vários democratas que elogiaram as realizações de Biden.
— É inacreditável o que fizemos nos últimos três anos — disse ele.
O deputado veterano de Nova York Jerry Nadler — um dos vários democratas que, segundo a imprensa, sugeriu em particular que Biden deveria se afastar da disputa — disse que o presidente "deixou muito claro que está concorrendo" e que o partido deve apoiá-lo.
— Ele é a pessoa certa. O presidente determinou que ele é o melhor candidato — disse Nadler quando perguntado se Biden pode derrotar Donald Trump em novembro. — Ele disse que vai continuar (na corrida), ele é nosso candidato e todos vamos apoiá-lo, espero que todos apoiemos.
Em meio à divisão no partido depois da reunião, a deputada Mikie Sherrill, de Nova Jersey, tornou-se a sétima congressista democrata a pedir que Biden abandone sua candidatura. "Os riscos são muito altos e a ameaça é muito real para ficar em silêncio", escreveu em comunicado. "Sei que isso é difícil, mas já fizemos coisas difíceis em busca da democracia desde a fundação desta nação. É hora de fazer isso novamente."
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Senadores democratas também se reuniram separadamente nesta terça-feira, num encontro que demorou mais do que o usual, segundo a CNN americana. Entre eles, as reticências são maiores para sugerir um afastamento de Biden — que serviu ao Senado por três décadas. Acostumados a verem seus colegas se manterem obstinadamente no poder apesar da idade, ninguém pareceu disposto a liderar um apelo público para que o presidente se retire da corrida.
— Eles não gostam de fazer isso, é extremamente raro — disse ao New York Times Chris Whipple, historiador da Casa Branca que escreveu um livro sobre a presidência de Biden, sobre os senadores que pressionam publicamente um colega ou líder de partido. — A partir de agora, eles estão indo até Biden com o argumento de que 'não achamos que você esteja à altura', e ele [Biden] diz: 'Eu sei que estou à altura e, além disso, todos esses democratas votaram em mim'. Ele [Biden] tem uma mão mais forte do que eles.
Ao final do encontro, senadores disseram que o partido está unido em torno da urgência de derrotar Trump, mas se esquivaram dos questionamentos de repórteres sobre a capacidade de Biden para tal. Peter Welch, de Vermont, disse que a legenda tem "um longo caminho a percorrer". Questionado se as discussões sobre o futuro da candidatura de Biden haviam terminado, o senador Chris Coons, de Delaware, admitiu que não. Por outro lado, o líder da bancada democrata no Senado, Chuck Schumer, reforçou o seu endosso ao presidente americano:
— Como já disse antes, estou com Joe.
Há, ainda, o temor dos apoiadores da campanha. Na segunda, cerca de 400 doadores enviaram uma carta pedindo que Biden "desista de ser candidato à reeleição pelo bem de nossa democracia e do futuro de nossa nação".
Biden reafirmou na segunda-feira que está determinado a permanecer na corrida e desafiou os democratas insatisfeitos a se candidatarem durante a convenção do partido em agosto. O presidente mais velho na história dos Estados Unidos justificou seu mau desempenho no debate devido a uma "má noite" causada por um resfriado e pelo jet lag de viagens internacionais.
A Casa Branca também interveio. Na segunda, após diversos veículos reportarem que um especialista em Parkinson havia visitado o presidente oito vezes nos últimos oito meses, seu médico pessoal afirmou que as consultas foram realizadas apenas como parte de exames neurológicos de rotina durante seu check-up anual.
Biden está atrás nas pesquisas e a atenção da mídia agora se concentra em suas fraquezas, em vez de em seu rival, Trump, alvo de condenações judiciais e que ainda tem vários processos em aberto. O próprio republicano rompeu dias de silêncio desde o debate, declarando à Fox News na segunda-feira que acredita que Biden resistirá à pressão e permanecerá na corrida.
— Ele tem um ego e não quer desistir — considerou o ex-presidente de 78 anos.
Com New York Times, AFP e Bloomberg
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