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Por e , Em The New York Times — Londres

Keir Starmer, o líder do Partido Trabalhista britânico e virtual novo primeiro-ministro após a vitória da sigla nas eleições gerais desta quinta-feira, acenou com a cabeça com empatia quando uma jovem mãe recordou, em termos angustiantes, como assistiu ao assassinato de seu filho de 21 anos, esfaqueado uma única vez no coração, através de um circuito interno de segurança.

— Obrigado por isso — disse um sóbrio Starmer à mulher e outros parentes de vítimas de ataques com faca, enquanto eles estavam ao redor de uma mesa de madeira na semana passada, discutindo maneiras de combater o crime violento. — É muito, muito forte.

Não foi o evento de campanha mais agradável para um candidato na semana anterior a uma eleição que se esperava que seu partido vencesse. Mas foi inteiramente característico de Starmer, um ex-advogado de direitos humanos de 61 anos que ainda se comporta menos como um político do que como um promotor que apresenta um caso.

Sério, intenso, prático e sem carisma, Starmer chegou a uma vitória, que mesmo parte da oposição já admitiu de véspera ser esmagadora, sem o estrelismo que marcou líderes britânicos anteriores, seja Margaret Thatcher, a campeã do livre mercado dos anos 80, ou Tony Blair, um avatar da cultura pop britânica dos anos 90.

E, no entanto, Starmer conseguiu um feito político indiscutivelmente comparável: menos de uma década depois de entrar no Parlamento, e menos de cinco anos depois da esquerda britânica ter sofrido a sua pior derrota eleitoral desde a década de 1930, ele transformou o Partido Trabalhista, com eficiência implacável, em um partido elegível, puxando-o para o centro em políticas-chave, ao mesmo tempo que capitaliza sobre as falhas de três primeiros-ministros conservadores.

— Não se esqueçam do que eles fizeram — disse Starmer em um comício em Londres no sábado, andando pelo palco com uma camisa branca bem passada e com mangas arregaçadas. — Não se esqueçam do 'Partygate', não se esqueçam do contrato da covid, não se esqueçam das mentiras.

Ao listar os escândalos e crises conservadoras, ele colocou uma multidão de 350 pessoas de pé. Mas foi um raro momento de inflamação, que revela o enigma que é Starmer.

As sondagens que anteciparam que o seu partido conquistaria uma grande maioria no Parlamento na votação desta quinta-feira também sugeriam que ele não é querido pelos eleitores. Eles têm dificuldade para gostar de um homem que parece menos à vontade na arena política do que no tribunal onde se destacou.

Keir Starmer discursa durante evento de campanha em Glasgow, na quarta-feira — Foto: Andy Buchanan/AFP
Keir Starmer discursa durante evento de campanha em Glasgow, na quarta-feira — Foto: Andy Buchanan/AFP

— Ele não faz o lado performático da política — disse Tom Baldwin, ex-assessor do Partido Trabalhista que publicou uma biografia de Starmer.

Enquanto outros políticos recorrem a uma retórica estridente, Starmer fala seriamente sobre a resolução prática de problemas, como se encaixasse um bloco de construção sobre o outro.

— Ninguém vai assistir a isso — disse Baldwin. — É chato. Mas no final, você poderá descobrir que ele construiu uma casa.

Jill Rutter, uma antiga funcionária pública sênior que é pesquisadora no grupo de pesquisa londrino "UK in a Changing Europe", disse:

— Ele tem sido ferozmente (alguns diriam tediosamente) chato na sua disciplina. Ele não vai acelerar o coração, mas parece relativamente [apto a ser] primeiro-ministro.

Da origem popular ao Parlamento

Criado em uma família da classe trabalhadora em Surrey, nos arredores de Londres, Starmer não teve uma infância fácil. Sua relação com o pai, um operário, era distante. Sua mãe, uma enfermeira, sofreu uma doença debilitante que a levou a entrar e sair do hospital. Starmer se tornou o primeiro graduado universitário de sua família, estudando primeiro na Universidade de Leeds e depois cursando direito em Oxford.

A família dele era de esquerda. Starmer foi nomeado em homenagem a Keir Hardie, o sindicalista escocês e o primeiro líder trabalhista. Mais tarde, ele se lembrou de ter desejado, quando adolescente, ser chamado de Dave ou Pete.

O principal líder de oposição do Partido Trabalhista do Reino Unido, Keir Starmer, foi banido de entrar na Rússia — Foto: Lindsey Parnaby / AFP
O principal líder de oposição do Partido Trabalhista do Reino Unido, Keir Starmer, foi banido de entrar na Rússia — Foto: Lindsey Parnaby / AFP

Quando jovem advogado, Starmer representou manifestantes acusados ​​de difamação pela cadeia de fast-food McDonald’s. Depois, tornou-se procurador-chefe do Reino Unido e recebeu o título de cavaleiro. Mesmo assim, ele usou seu pensamento jurídico para convencer os juízes, em vez da teatralidade dos tribunais para influenciar os júris, uma reputação simples que o acompanhou na política.

Boris Johnson, o antigo primeiro-ministro, que debateu com ele no Parlamento, certa vez o apelidou de “Capitain Crasheroonie Snoozefest” (um jogo de palavras que soa como "Capitão desastroso e enfadonho").

Starmer pode não ter as frases curtas de seu rival, mas ele usou suas habilidades forenses contra Johnson, ajudando a expor mentiras que ele contou sobre festas realizadas em Downing Street durante o período de isolamento social na pandemia.

Quando os conservadores questionaram se Starmer também havia violado as regras ao tomar uma cerveja e jantar comida indiana com colegas, em abril de 2021, ele prometeu renunciar se a polícia descobrisse que ele estava errado. Ele foi inocentado – um episódio que os aliados disseram ter demonstrado sua adesão rigorosa às regras e oferecido um forte contraste com os líderes do Partido Conservador.

Liderança do Partido Trabalhista

Os compromissos políticos de Starmer levantaram questões sobre a sua abordagem. Ele serviu ao antigo líder trabalhista Jeremy Corbyn, assumindo o comando da política do partido para o Brexit numa altura em que muitos dos moderados do partido se recusaram a juntar-se à equipe.

Quando Corbyn deixou o cargo depois de perder as eleições em 2019, Starmer se posicionou como seu sucessor, vencendo numa plataforma que incluía políticas de Corbyn suficientes para aplacar a então poderosa ala esquerda do partido.

Starmer e Corbyn, em foto de 2019 — Foto: Ben Stansall/AFP
Starmer e Corbyn, em foto de 2019 — Foto: Ben Stansall/AFP

Uma vez eleito, no entanto, Starmer assumiu o controle da máquina partidária e executou um movimento notável em direção ao centro político. Ele rejeitou a proposta de Corbyn de nacionalizar a indústria energética britânica, prometeu não aumentar os impostos sobre as famílias trabalhadoras e comprometeu-se a apoiar os militares britânicos, na esperança de banir um rótulo antipatriótico que se agarrou ao Partido Trabalhista durante a era Corbyn.

Starmer também erradicou o antissemitismo que contaminou as fileiras do partido sob o comando de Corbyn. Embora ele não tenha estabelecido uma ligação entre isso e sua vida pessoal, sua esposa, Victoria Starmer, vem de uma família judia de Londres.

Victoria, que trabalha como especialista em saúde ocupacional para o Serviço Nacional de Saúde, é uma presença ocasional na campanha. O casal tem dois filhos adolescentes, cuja privacidade eles protegem ferozmente. Seguindo a tradição de sua esposa, a família às vezes observa as tradições judaicas em casa.

Ao exilar Corbyn do partido, Starmer demonstrou um lado implacável. Ele até impediu o ex-líder de concorrer ao seu lugar como candidato trabalhista, embora ele esteja fazendo campanha como independente. Os assessores de Starmer controlaram rigorosamente a lista daqueles que podem concorrer ao Parlamento, eliminando outros candidatos considerados demasiado de esquerda.

Aliados de Starmer dizem que ele está ciente de suas limitações e trabalha duro para resolver seus pontos fracos. Embora não seja um orador natural, os seus discursos melhoraram desde os seus primeiros dias no Parlamento, quando um crítico comparou o seu desempenho a “ver o público num festival literário ouvir uma leitura de T.S. Eliot.”

E, no entanto, a reputação de chatice persiste — algo que o irrita, segundo Baldwin.

— Como Keir Starmer incendeia uma sala? — Gillian Keegan, secretária de educação, perguntou recentemente antes de proferir sua piada: — Ele sai do recinto.

Os amigos do líder trabalhista o descrevem como um homem com senso de humor, uma vida familiar saudável e paixões genuínas fora da política. Apesar da cirurgia no joelho, ele ainda joga futebol de forma regular e competitiva (muitas vezes reservando o campo de jogo e selecionando o time). Ele é um grande torcedor do Arsenal, clube de futebol que joga não muito longe de sua casa no norte de Londres.

Entrada tardia na política

De certa forma, Starmer foi ajudado pela sua chegada relativamente recente ao Parlamento. Ele não foi apanhado nas rixas destruidoras de anteriores governos trabalhistas nem foi contaminado por lealdades a antigos líderes como Gordon Brown e Tony Blair. Agora, porém, Blair e Starmer têm um relacionamento florescente.

Também existem desvantagens. Existem relativamente poucos leais a Starmer que estão dispostos a lutar com ele em uma trincheira. A mesma falta de paixão se estende a muitos eleitores. Eles podem achar o Partido Trabalhista menos questionável do que era sob a liderança de Corbyn, mas isso não significa que estejam votando com entusiasmo.

— O objetivo de Keir Starmer era parar de dar às pessoas razões para votarem contra o Partido Trabalhista, e ele tem tido muito sucesso nisso — disse Steven Fielding, professor emérito de história política na Universidade de Nottingham. — Ele tem sido menos bom em dar às pessoas razões para votarem nos trabalhistas.

Uma pessoa fechada

A mesma sensação de incompletude paira sobre aqueles que admiram Starmer. Apesar das muitas horas que Baldwin passou com ele pesquisando sua biografia, ele disse que havia “algo um pouco inacessível” sobre o líder trabalhista, definindo-o como "uma pessoa muito fechada e que não confia facilmente".

Embora Starmer tenha começado a falar mais sobre sua história pessoal, suas referências frequentes a ser “filho de um fabricante de ferramentas” crescendo em uma casa modesta podem soar superficiais, até mesmo robóticas.

— Ele não vê por que precisa expor ele e todo o seu funcionamento interno ao público — disse Baldwin, acrescentando que às vezes tem dificuldade para obter mais do que respostas monossilábicas de Starmer sobre questões pessoais.

Certa vez, ele se lembrou de ter pedido que ele explicasse seus sentimentos sobre um incidente que o havia angustiado.

A resposta foi concisa, direta e de pouca ajuda. “Eu estava”, disse Starmer, segundo seu biógrafo, “muito chateado”.

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