Mundo
PUBLICIDADE
Por , , , , e , Em The New York Times — Nova York e Londres

O medo atormentou Saleh Mohammed al-Hila, de 37 anos, naquele domingo. O Hamas havia lançado mísseis no centro de Israel horas antes, fazendo disparar as sirenes de ataque aéreo na área da capital Tel Aviv pela primeira vez em meses. Os militares de Israel disseram que o bombardeio havia sido disparado de Rafah — a cidade no sul da Faixa de Gaza onde as forças israelenses estavam avançando e onde al-Hila estava abrigado com sua família em um campo para pessoas deslocadas.

— Eu estava deitado no chão da tenda e disse ao meu filho: “Que Deus nos salve desta noite” — lembrou ele.

Al-Hila pensou que Israel certamente retaliaria. E assim o fez — os militares israelenses revidaram e disseram que haviam destruído o lançador usado no disparo do míssil, que não estava próximo ao acampamento. Mas, algumas horas depois, atacaram novamente, lançando duas bombas em estruturas temporárias no campo. Estilhaços letais foram lançados em todas as direções, e logo houve um incêndio. Pela manhã, dezenas de palestinos haviam sido mortos, inclusive quatro parentes de al-Hila.

O segundo ataque de 26 de maio foi seguido de indignação internacional. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que geralmente rejeita críticas à guerra de Israel, chamou a morte de civis de "acidente trágico". Daniel Hagari, porta-voz militar israelense, alegou que "não havia barracas nas imediações" dos alvos. Israel afirmou que tomou muito cuidado para evitar danos a civis, apesar da prática dos combatentes do Hamas de operar entre centros populacionais, e que abriria uma investigação sobre o ataque.

O New York Times conversou com várias testemunhas e especialistas em munição, revisou vídeos da cena e analisou imagens de satélite para formar um quadro mais claro do ataque.

O major Nir Dinar, porta-voz militar israelense, disse ao jornal que as forças israelenses não sabiam que a instalação visada estava em um local que atendia pessoas deslocadas. Mas a investigação do Times descobriu que Israel bombardeou alvos dentro de um campo que já existia há meses, abrigando centenas de pessoas deslocadas pela guerra. A análise levanta dúvidas sobre uma avaliação que Israel afirma ter feito antes de lançar o ataque, segundo a qual era improvável que ele prejudicasse civis.

Pano de fundo

Antes da operação israelense em Rafah, que começou em 6 de maio, os militares emitiram ordens de retirada para os bairros a leste do centro da cidade, mas não para a área que incluía esse acampamento, que abrigava até 350 famílias.

Al-Hila conseguiu uma barraca para sua família em março. Sua mãe e sua irmã se instalaram em outra. Até aquele momento, a família já havia sido deslocada quatro vezes. Em 26 de maio, ele e sua filha de seis anos, Rehab, estavam na tenda da mãe de al-Hila, mas voltaram para a sua própria tenda para as orações da noite.

Naquele momento, os jatos de Israel estavam se aproximando. Seus alvos, segundo os militares israelenses, eram Khaled al-Najjar e Yassin Rabia, oficiais do Hamas acusados de orquestrar ataques contra israelenses e que, supostamente, estavam realizando reuniões em dois galpões do campo.

Os galpões que foram alvejados ficavam a poucos metros de vários outros, bem como de veículos estacionados. O vídeo de um drone militar israelense analisado pelo New York Times parece mostrar pelo menos quatro pessoas caminhando nas proximidades quando as bombas explodiram.

Dois vídeos postados na mídia social capturaram o momento do ataque, com metadados dos vídeos sugerindo que ele ocorreu às 20h47min. Dois minutos depois, imagens filmadas de longe revelaram grandes chamas. Nuvens de fumaça subiram no céu noturno tingido de laranja em poucos minutos, enquanto o som dos drones israelenses zumbia no ar.

Os dois galpões visados e os dois mais próximos a eles foram destruídos, como mostra uma análise de imagens de satélite do dia seguinte. No local onde havia uma fileira de 11 galpões, restaram sete, ao lado de cerca de 2 mil metros quadrados de terra enegrecida. Mais distante, vários outros galpões parecem apresentar danos causados pela explosão.

Um vídeo gravado por testemunhas logo após o ataque registrou o caos: pessoas correndo e gritando, tirando corpos carbonizados de destroços em chamas, escalando sobre metal retorcido enquanto tentavam salvar os vivos. Um homem segurava o corpo sem cabeça de uma criança pequena.

Pressão internacional

Enquanto imagens horríveis do ataque se espalhavam nos sites de notícias e nas mídias sociais, o exército israelense não fez nenhum comentário durante horas. Quando houve uma declaração, ela pouco fez para dissipar a atmosfera inicial da guerra: as Forças Armadas estavam “cientes” dos relatos e o "incidente estava sendo analisado", disseram.

Ao amanhecer, as famílias procuravam seus entes queridos em clínicas, hospitais e nos destroços. Um vídeo mostrou estruturas destruídas e carros queimados no local. As crianças vasculhavam os escombros em busca de qualquer coisa que pudesse ser recuperada: restos de macarrão, tâmaras queimadas, telhas e metal dobrado.

E o número de vítimas aumentou: 45 mortos e 249 feridos, informou o Ministério da Saúde de Gaza naquela tarde. Entre as pessoas que não sobreviveram ao ataque estava a mãe de al-Hilal, sua irmã, sua sobrinha de 15 anos e seu sobrinho de um ano. O corpo do menino estava irreconhecível; um irmão ajudou a identificá-lo pela cor cinza de suas calças.

— Sinto que estou morrendo e tendo um pesadelo do qual não consigo esquecer ou sair — afirmou.

Com os crescentes pedidos internacionais de responsabilização, o almirante Hagari enfatizou na terça-feira que o ataque não atingiu um complexo da ONU nas proximidades ou uma "área humanitária" designada por Israel para as pessoas que fugiam da cidade, como alguns relatórios iniciais afirmaram, sem reconhecer o campo de pessoas deslocadas.

A análise do New York Times, no entanto, mostra que o local visado estava dentro das fronteiras do campo e sugere que Israel não tomou os devidos cuidados para proteger os civis. O campo era bem conhecido, os galpões de metal estavam separados por pouco mais de um metro e havia barracas na área.

Imagens de satélite e vídeos mostram que o primeiro dos abrigos de metal, com cerca de 15 metros de comprimento, incluindo os que foram bombardeados, havia sido erguido quase cinco meses antes. Uma das organizações que administrava a instalação, a al-Salam, confirmou que as estruturas faziam parte do acampamento. Segundo ela, as autoridades israelenses estavam cientes do acampamento e foram consultadas na escolha do local.

Mas para o major Dinar, se havia pessoas lá, "é porque o Hamas as levou para lá e se escondeu atrás delas". Ele se recusou a discutir o processo de tomada de decisão por trás do ataque em detalhes, dizendo que estava sendo investigado por uma comissão militar encarregada de examinar as alegações de má conduta em tempo de guerra.

Mais recente Próxima Cerimônia com princesa Kate celebra aniversário do rei antes da hora e tem mais de 260 anos de tradição; entenda
Mais do Globo

Cantora falou sobre a falta de reconhecimento como compositora e relembrou música que fez para o ex, Chico Moedas

Luísa Sonza rebate comentários machistas sobre 'Chico': 'O dinheiro vai todo para mim'

Ele fez publicação sobre viagem dois dias antes do acidente: 'Feliz de realizar este sonho antigo'

Após acidente em safári na Namíbia, médico brasileiro posta primeira foto nas redes sociais

Fenômeno se fortalece sobre o Atlântico e deve atingir Barbados, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Granada

'Extremamente perigoso': furacão Beryl tem ventos de 215 km/h e é elevado à categoria 4

Uma semana antes outro casal foi abordado na mesma rua

Em mais um caso, moradores são assaltados ao chegar em casa, na Tijuca; veja vídeo

Suspeito estava levando a carga do Complexo do Alemão para a Região dos Lagos

Homem é preso na BR-101 com mais de 15 quilos de cocaína e maconha

De olho em 2026, presidente retorna ao Rio para inauguração de unidades habitacionais

Em agenda no Rio, Lula ironiza Bolsonaro e se derrete por Paes: 'melhor gerente de prefeitura que esse país já teve'

Presidente francês arrisca compartilhar o poder com um governo de ideologia política diferente, a menos de um mês do início dos Jogos Olímpicos de Paris 2024

Entenda decisão arriscada de Macron para antecipar eleições na França

País registrou 40 incêndios só no sábado (29); previsão é que novos desastres ambientais voltem a acontecer neste domingo

Com novo incêndio florestal, Grécia soma dezenas de queimadas e espera verão complicado

Prefeito inaugura complexo habitacional ao lado de Lula na Zona Oeste

Em entrega de obra na Zona Oeste, Eduardo Paes agradece a Lula e fala sobre 'quedinha especial' do presidente pelo Rio

Lucinha é denunciada por fazer parte da milícia de Zinho, na Zona Oeste do Rio

Junior da Lucinha, filho de deputada acusada de integrar grupo criminoso, participa de evento com Lula em área de milícia