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Por O Globo e agências internacionais — Washington

A cinco meses do dia da eleição presidencial nos Estados Unidos, o presidente americano, Joe Biden, emitiu um decreto para restringir a busca de asilo na fronteira do país com o México. Para analistas, o democrata adotou a estratégia de imigração do ex-presidente Donald Trump, seu rival no pleito deste ano, visando agradar potenciais eleitores independentes, que, sugerem pesquisas, confiam mais no republicano na questão da fronteira. Na prática, porém, a decisão tem frustrado democratas — e atraído críticas de ambos os lados.

À esquerda, a representante Pramila Jayapal, do Caucus Progressista do Congresso, classificou a medida de Biden como “muito decepcionante”. Na visão de democratas ouvidos pelo Washington Post, o presidente está ignorando a lei americana que exige conceder asilo a civis com um “medo crível” de perseguição em seus países de origem. Para eles, o verdadeiro desafio é a falta de caminhos legais para a imigração, razão pela qual as pessoas estão recorrendo ao sistema de asilo. O grupo reconhece que Biden está tentando apelar para eleitores de centro, mas teme que ele esteja “alienando” a base eleitoral que foi essencial para sua eleição.

— Entendo que a administração Biden sinta que precisa fazer algo — disse a deputada Hillary Scholten, uma advogada de imigração. — É de partir o coração ver que isso é o que eles estão escolhendo, sabendo muito bem que isso não vai nem de perto resolver o problema.

Em janeiro, Biden disse que fez “tudo o que podia fazer” e que precisava da ajuda do Congresso — que, na época, rejeitou um projeto de lei de segurança fronteiriça sob incentivos de Trump. Agora, o presidente da Câmara, Mike Johnson, e outros líderes do Partido Republicano questionaram por que o democrata não tomou a medida antes e rotularam a decisão dele como “uma manobra política desesperada”. Alguns, no entanto, também reconhecem que a estratégia de culpar os republicanos do Congresso pela inação — e levar o crédito pela medida — possa ser eficaz.

Estratégia política

A situação na fronteira americana é uma das maiores vulnerabilidades políticas de Biden. Trump tem feito do combate à imigração o centro de sua campanha desde que declarou sua candidatura pela primeira vez, em 2015. O democrata, por outro lado, conduziu sua estratégia com a promessa de revogar as ações do ex-presidente — algo que de fato fez nos meses após assumir o cargo. A política de asilo do republicano também foi bloqueada por tribunais federais antes de Biden revogá-la. Por isso mesmo, o anúncio da Casa Branca nesta terça pode ser visto como uma reviravolta em ano eleitoral.

O jornalista Zachary Wolf escreveu, em análise publicada pela CNN, que, além de desacelerar o fluxo de solicitantes de asilo, a ação de Biden pode ter o efeito político de minar a vantagem de Trump na questão migratória e conquistar algum apoio de meio-termo. Além disso, pontuou, a retórica sobre os imigrantes permanece muito diferente quando se trata de Biden e Trump. Enquanto o democrata diz querer proteger os imigrantes e criar um caminho para a cidadania, Trump costuma demonizar solicitantes de asilo como se fossem parte de uma “classe criminosa”.

Uma das promessas do republicano caso vença as eleições de novembro é empregar uma abordagem militarista na fronteira, além de um programa massivo de deportação. Biden, por sua vez, busca se aproximar do meio-termo — e afirmou que não adotará a retórica de seu adversário. Na Casa Branca, ele afirmou que nunca se referirá aos imigrantes como se eles “envenenassem o sangue de um país”, uma referência ao discurso de Trump em dezembro, quando o ex-presidente foi acusado de xenofobia e teve o pronunciamento comparado a um trecho do manifesto autobiográfico do ditador nazista Adolf Hitler.

Desde a pandemia, a imigração assumiu uma importância crescente para os americanos. Uma pesquisa de fevereiro do Pew Research descobriu que uma pluralidade de eleitores nos EUA apoiava tornar mais difícil para os requerentes de asilo obter status legal temporário enquanto aguardam sua audiência. Outra pesquisa, da emissora americana CNBC, indicou que Trump é favorecido em 27 pontos percentuais na questão.

Entenda a medida

Uma das razões pelas quais a imigração aumentou nos últimos anos é, de acordo com o Washington Post, a busca de asilo por imigrantes nos Estados Unidos. Para fazer o pedido de asilo é preciso estar no país, o que significa que o processo fornece um incentivo para cruzar a fronteira. Uma vez feito, um processo legal é iniciado — e pode resultar em uma espera de anos por uma audiência perante um juiz de imigração. Muitas vezes, os imigrantes acabam liberados da custódia pelo Departamento de Segurança Interna (DHS) para aguardar essas audiências nos EUA.

A política introduzida por Biden pretende descartar rapidamente a entrada irregular na fronteira se o número de cruzamento irregulares for igual ou superior a 2,5 mil por dia durante sete dias. Segundo o jornal americano, esse nível foi alcançado com frequência nos últimos anos — tanto durante a maioria dos meses da administração do democrata quanto por um período sob Trump. Dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras mostram que a média de apreensões feitas por mês tem sido superior a 2,5 mil em 29 dos 40 meses em que Biden foi presidente (os dados de maio ainda não estão disponíveis). Já sob Trump, houve quatro meses. Sob George W. Bush, foram 54.

Ainda segundo análise da CNN, parte do cálculo da administração de Biden foi esperar até depois da eleição presidencial do México, que ocorreu no fim de semana, para anunciar essa nova ação. A capacidade dos americanos de reduzir os cruzamentos de fronteiras dependerá, em parte, da atuação mexicana para interromper o fluxo de solicitantes de asilo dentro de suas fronteiras. Biden afirmou ter conversado com a presidente eleita, Claudia Sheinbaum, nesta segunda-feira, embora não tenha detalhado se os planos para a fronteira foram discutidos.

— Continuamos a trabalhar em estreita colaboração com nossos vizinhos mexicanos, em vez de atacar o México — disse Biden na Casa Branca, reforçando mais uma vez a distinção entre sua abordagem e a de Trump. (Com Bloomberg)

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