O presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, e seu provável rival republicano nas eleições de novembro, o ex-presidente Donald Trump, farão visitas paralelas à fronteira EUA-México, no Texas, nesta quinta-feira. O embate será a primeira amostra de como será a versão 2.0 da disputa entre os presidenciáveis, na qual a migração será novamente um dos temas centrais da campanha. As visitas acontecem no momento em que o número de entradas ilegais na fronteira americana chega a um novo recorde: em dezembro, 370 mil pessoas foram detidas tentando atravessar os limites do país.
Biden se reunirá com agentes da patrulha de fronteira e agentes das forças de segurança em Bronwnsville, no Texas. Já Trump estará em Eagle Pass, a 480 quilômetros de distância, onde seu aliado, o governador republicano do Texas, Greg Abbott, mantém o controle de parte da fronteira, desafiando a jurisdição do governo federal na região.
Trump havia anunciado sua viagem primeiro. Mas, no início desta semana, Biden insistiu que não sabia que seu rival estaria lá:
— Eu planejei para quinta-feira, o que não sabia é que, aparentemente, meu bom amigo vai — disse Biden na segunda.
Em 2020, Trump já era visto como mais confiável para lidar com a política migratória do país por mais de 16 pontos percentuais de vantagem em relação a Biden, segundo uma pesquisa da NBC News. Em janeiro deste ano, no entanto, a mesma pesquisa apontou um aumento ainda maior: a vantagem passou para 35 pontos porcentuais — a maior diferença entre as nove questões perguntadas.
Para Trump, o debate em torno da fronteira é uma de suas vantagens políticas e um tema importante da tônica da sua candidatura. Há muito tempo, o republicano alerta em seus discursos sobre uma suposta "invasão" de imigrantes, que estavam "envenenando o sangue" dos Estados Unidos. Uma das suas promessas de campanha é iniciar o maior programa de deportação da história, caso volte à Casa Branca.
— Nenhum país pode sustentar o que acontecendo em nosso país — disse o ex-presidente durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), em Washington, no sábado.
Por outro lado, o tema é uma das principais vulnerabilidades de Biden, em um momento em que o recorde de travessias ilegais se soma às imagens constantes da migração em massa na imprensa americana.
No entanto, aliados do presidente acreditam que a recente decisão dos líderes republicanos do Congresso — a pedido de Trump — de abandonar um possível acordo bipartidário sobre a fronteira deu ao Partido Democrata uma rara oportunidade de capitalizar o tema a seu favor. O pacote previa, entre outras coisas, dificultar os pedidos de asilo e expandir a capacidade de detenção nas fronteiras, incluindo a convocação de mais agentes de segurança.
O próprio Biden disse que gostaria de adotar políticas mais rígidas que seriam possíveis caso a legislação fosse aprovada. Contudo, não há expectativas que ele anuncie nenhuma nova ação nesta quinta. Biden também se negou a dizer se teria um encontro com migrantes, depois de ter sido criticado por não ter se reunido com eles em uma visita anterior.
A estratégia do democrata, segundo analistas ouvidos pelo New York Times, será responsabilizar os deputados republicanos, que têm uma maioria estreita no Congresso, pelo fracasso do pacote migratório. Do ponto de vista político, apesar do discurso duro do Partido Republicano, não seria interessante eleitoralmente aprovar uma medida cujos louros iriam para o opositor (Com AFP e New York Times).