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Por O GLOBO — Washington e Jerusalém

O anúncio da construção de um porto temporário pelos Estados Unidos na costa da Faixa de Gaza para envio de ajuda humanitária, em março, foi recebido com desconfiança devido ao alto custo da operação (US$ 320 milhões, equivalentes a R$ 1,6 bilhão) e à continuidade do apoio militar e financeiro dado por Washington à Israel. Nas últimas duas semanas, desde que o cais flutuante foi inaugurado, os funcionários do Pentágono se depararam com o pesadelo logístico que os críticos advertiram que acompanharia a empreitada.

O Departamento de Defesa dos EUA previu que, a esta altura, um fluxo constante de ajuda humanitária chegaria a Gaza pelo píer, mas poucos carregamentos alcançaram de fato seu destino final. Segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU, vários caminhões foram saqueados enquanto se dirigiam a um armazém, enquanto a complexidade da operação do projeto em uma zona de guerra continua atrasando a distribuição, disse o general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, em uma entrevista coletiva na semana passada.

Na terça-feira, os militares americanos tiveram de suspender as entregas de ajuda à Faixa por via marítima, depois que o píer temporário foi danificado pelo mau tempo. De acordo com a secretária de imprensa adjunta do Pentágono, Sabrina Singh, o mar agitado e um sistema climático do norte da África fizeram com que uma das partes do píer se soltasse, e os reparos devem levar mais de uma semana.

— Após a conclusão do reparo e da remontagem do píer, a intenção é ancorar novamente o píer temporário na costa de Gaza e retomar a ajuda humanitária às pessoas que mais precisam — acrescentou.

Um dia depois, imagens de satélite revelaram que praticamente toda a estrutura estava desmantelada, restando no lugar apenas uma plataforma flutuante que ligava a estrutura à praia. A parte onde ocorriam os desembarques não é mais visível, e as autoridades americanas não sinalizaram se ainda é possível realizar qualquer tipo de reparo ou mesmo remontar o píer. Não há qualquer prazo para a retomada das operações no local.

O Comando Central dos EUA (CENTCOM) informou no sábado que quatro embarcações do Exército americano que estavam apoiando o píer se soltaram de suas atracações e encalharam em mares agitados. Duas delas chegaram à praia em Gaza, enquanto as outras duas foram parar na costa de Israel, 50 quilômetros ao sul de Tel Aviv.

Oficiais militares que trabalharam em iniciativas anteriores dizem que distribuir ajuda humanitária aos necessitados é mais difícil do que montar a infraestrutura, ainda mais sem escolta policial para proteger os comboios de ataques, dizem autoridades da UNRWA.

— Instalar um píer e levar suprimentos para o píer e para a costa é uma coisa — avalia Rabih Torbay, presidente da organização de ajuda Project Hope. — Conseguir a logística necessária para levar a ajuda aos lugares que mais precisam é outra completamente diferente, e é aí que a falta de planejamento e coordenação entra em jogo.

Diretor da equipe de gerenciamento de resposta da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla original), Daniel Dieckhaus conta que os caminhões enfrentam “vários” problemas, desde falhas de comunicação nos postos de controle até o crime organizado e “multidões desesperadas realizando a autodistribuição”.

A política da Casa Branca não permite que as tropas dos EUA estejam em Gaza. Portanto, o Pentágono tem a capacidade de iniciar, mas não de concluir a missão, uma situação que um analista militar comparou a ter o motor de um carro, mas não as rodas.

Paul Eaton, um major-general da reserva, estava na Somália em 1993, quando o Exército dos EUA colocou em funcionamento um píer para fornecer ajuda humanitária aos civis envolvidos na guerra no país. Segundo ele, cerca de quatro batalhões do Exército de infantaria leve — 2.000 soldados — estavam no local para ajudar na entrega dos insumos.

— Os navios com ajuda humanitária chegavam ao porto, que era totalmente controlado por nós, e então os caminhões eram carregados e nós colocávamos tropas armadas americanas nos veículos para proteger os motoristas. — lembra Eaton. — Os suprimentos chegavam em um ambiente protegido, eram carregados em um ambiente protegido e seguiam em um ambiente protegido para o local de uso final.

Isso não acontece em Gaza. Na última semana, o Programa Mundial de Alimentos precisou suspender suas operações durante dois dias devido aos saques. A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) também suspendeu a distribuição de alimentos em Rafah, alegando falta de segurança.

Gaza está sofrendo a guerra mais sangrenta de sua História, que eclodiu depois que o ataque terrorista sem precedentes do Hamas a Israel, em 7 de outubro, resultou na morte de mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP de números oficiais.

Já a ofensiva retaliatória de Israel matou pelo menos 35,8 mil pessoas em Gaza, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas. Além disso, Israel impôs um cerco a Gaza que privou os 2,4 milhões de habitantes do território da maior parte da água potável, alimentos, medicamentos e combustível.

Karim Khan, procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional, acusou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Yoav Gallant, de causar “fome como método de guerra, incluindo a negação de suprimentos de ajuda humanitária, visando deliberadamente civis em conflito”. Os israelenses negaram as acusações.

Mas muitos habitantes de Gaza estão passando por uma fome imensa, segundo grupos de ajuda humanitária. Os palestinos têm retirado à força a ajuda dos caminhões, o que, segundo as autoridades da ONU, reflete o desespero das pessoas que tentam se alimentar e alimentar suas famílias. Grupos de ajuda humanitária e as Nações Unidas também atribuíram a crise de fome aos comerciantes ilegais que se apoderaram de suprimentos para vendê-los a preços inflacionados.

De acordo com o CENTCOM, 1.005 toneladas de ajuda haviam sido entregues do mar para o ponto de transferência na praia até sexta-feira, com 903 toneladas distribuídas do ponto de transferência para o depósito da ONU.

O píer temporário é um dos poucos pontos de entrada restantes para as remessas de ajuda após a incursão de Israel em Rafah, no sul de Gaza, no início deste mês. Mas mesmo que todos os problemas sejam resolvidos, a operação marítima ainda será menos eficiente do que uma rota terrestre, dizem as organizações de ajuda humanitária. Se o projeto atingir sua meta de transportar 150 caminhões por dia, essas remessas de alimentos e outros suprimentos ainda ficarão aquém dos cerca de 500 veículos de ajuda que chegavam a Gaza diariamente antes da guerra. (Com The New York Times e AFP)

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