Um casal de missionários americanos foi morto a tiros por membros de gangues criminosas na capital do Haiti após terem sido sequestrados enquanto saíam de uma atividade de grupo de jovens realizada em uma igreja local, anunciaram nesta sexta-feira os familiares das vítimas e a organização religiosa à qual pertenciam. Uma terceira pessoa também foi morta durante o ataque, que ocorreu na noite desta quinta-feira na comunidade de Lizon, no norte de Porto Príncipe.
Duas das vítimas eram um jovem casal, Davy e Natalie Lloyd, de acordo com uma postagem no Facebook do pai de Natalie Lloyd, o deputado estadual do Missouri, Ben Baker. Já a terceira vítima foi identificada por vários meios de comunicação americanos como Jude Montis, o diretor haitiano do grupo religioso. Em publicação no Facebook, a organização sem fins lucrativos Missões do Haiti afirmou que as vítimas foram assassinadas por volta das 21h no horário local (22h em Brasília).
“Meu coração está partido em mil pedaços”, escreveu Baker nas redes sociais nesta quinta-feira. “Nunca senti esse tipo de dor. A maioria de vocês sabe que minha filha e meu genro Davy e Natalie Lloyd são missionários em tempo integral no Haiti. Eles foram atacados por gangues esta noite e ambos foram mortos. Eles foram juntos para o Céu.”
O perfil de Natalie mostrava que o casal se casou em junho de 2022, e que ela começou a trabalhar com a organização missionária em agosto do mesmo ano. A jovem frequentemente postava fotos de crianças haitianas em sua página. No perfil da Missões para o Haiti, uma publicação nesta quinta-feira afirmava que o casal saía de uma igreja quando “foi emboscado por uma gangue de três caminhões cheios de homens”.
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Ainda não está claro qual gangue foi responsável pelo crime. Conforme publicado pela AP, porém, um líder criminoso conhecido como Chyen Mechan (“cão mau” em crioulo haitiano) controla a área onde o tiroteio foi registrado. Seu nome verdadeiro é Claudy Célestin, e ele é um ex-funcionário público do Ministério do Interior do Haiti. Além dele, um homem conhecido como General Jeff também comanda o território. Ambas as gangues fazem parte da coalizão Viv Ansanm (“Viver Juntos”).
A organização criminosa, de acordo com a AP, é responsável por lançar ataques em grande escala contra a infraestrutura governamental desde fevereiro deste ano. Homens armados atacaram delegacias, abriram fogo no principal aeroporto internacional — que permaneceu fechado por quase três meses antes de abrir no início desta semana — e invadiram as duas maiores prisões do país, libertando mais de 4 mil detentos.
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As gangues também são responsáveis por matar ou ferir mais de 2,5 mil pessoas no país de janeiro a março, um aumento de 50% em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a ONU. Somado a isso, sequestros também são desenfreados, com alvos incluindo missionários americanos. O Departamento de Estado dos Estados Unidos há muito possui um aviso para “não viajar" para o Haiti e insta qualquer cidadão americano no país a sair o mais rápido possível.
Casa Branca reage
Nesta sexta-feira, a Casa Branca disse estar ciente do ocorrido e expressou condolências. Ao mesmo tempo, pediu o rápido envio de forças policiais internacionais aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU para a região. À CNN, um porta-voz da segurança nacional dos EUA disse que o envio da Missão de Apoio à Segurança Multinacional (MSS) deverá reforçar as capacidades locais de “proteger civis, restaurar o Estado de direito e preparar o caminho para a governança democrática”.
— Nossos corações estão com as famílias dos mortos enquanto eles vivenciam uma dor inimaginável — disse o porta-voz à CNN. — A situação de segurança no Haiti não pode esperar.
Nesta quinta-feira, em conferência com o presidente queniano, William Ruto, o líder americano, Joe Biden, defendeu a decisão de não enviar tropas dos Estados Unidos para o Haiti dizendo aos repórteres que isso poderia levantar “todos os tipos de questões que podem ser facilmente deturpadas pelo que estamos tentando fazer”. Já Ruto prometeu que o próximo envio do Quênia ao Haiti buscará acabar com as “gangues que têm semeado o caos no país”, o mais pobre da América.
Um porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, também expressou suas condolências, classificando o ocorrido como “apenas mais um exemplo da violência que não poupa ninguém no Haiti”. (Com AFP)